1 de dezembro de 2016

Daniel Matador - Morra limpo!



“- Os seus sonhos cheiram mal. Eles fedem. Talvez você ache que ainda está sonhando, hein? Isso parece com um sonho pra você, homem branco da cidade?
[...]
- Você quer se livrar da maldição? Primeiro você tem que passá-la para essa torta. E então você dá essa torta, com a maldição dentro, para outra pessoa.
- Ok.
- Você ganhará peso rápido agora. Tão rápido que você não saberá o que está acontecendo. Mas alguém tem que comer essa torta, e logo. Aquele que comer a torta morrerá rápido e sofridamente. Você conhece alguém?
- Sim.
- Sim, você conhece alguém... Mas por que você não faz o certo? Coma sua própria torta! Você morrerá seco, mas morrerá limpo.
- Saia da minha frente. Nosso negócio está feito.
- Morra limpo, homem branco da cidade. Morra limpo!”
Tadzu Lempke, alertando o inescrupuloso advogado Billy Halleck, no mítico filme “A Maldição”, inspirado no fantástico livro “A Maldição do Cigano”, de Stephen King.
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Caros

A consternação ainda toma conta de todos por conta da fatalidade ocorrida com a Chapecoense. Todo e qualquer evento futebolístico ficou, justificadamente, relegado a segundo plano. E nem poderia ser diferente. A CBF decretou luto de sete dias e o adiamento da tão aguardada final da Copa do Brasil, assim como da última rodada do Campeonato Brasileiro, foi medida inquestionável. Ou nem tanto assim, visto que, mesmo em meio à tragédia, sempre surgem os aproveitadores, os quais não estão nem aí com a comoção generalizada. Vale tudo para atender seus interesses.
Em 1984 Stephen King escreveu um livro que tornaria-se um marco em sua obra, o qual foi transformado em filme em 1996. “A Maldição do Cigano” contra a história do obeso e inescrupuloso advogado Bill Halleck, que não mede esforços para atender até mesmo aos interesses de bandidos, desde que isso lhe renda dinheiro e prestígio. Até que Bill sofre um revés em sua vida na noite em que atropela a filha de um velho cigano. Utilizando seus contatos, Bill é julgado e inocentado da morte. O velho Tadzu Lempke, pai da cigana morta, faz então valer a justiça cigana e lança uma maldição nos três artífices da farsa: o delegado que encobriu as provas, o juiz que proferiu a sentença e o próprio Bill. Todos morreriam de forma lenta e dolorosa. No caso de Bill, ele emagreceria até morrer. Só que Bill não aceita isso e utiliza de todos os meios, até mesmo ameaça e violência, para livrar-se da maldição. Sem nenhum escrúpulo, preocupado apenas consigo, Bill passa por cima de qualquer coisa para atingir seu objetivo. Leiam o livro e assistam o filme. É uma história para refletir.

Pois eis que isso surge exatamente no momento em que todo o mundo do futebol está com os olhos em Chapecó. O Atlético Nacional, clube sobre o qual o Grêmio sagrou-se bicampeão da América, mostrou o que os grandes fazem em momentos como esse. Abriu mão do título da Copa Sul-Americana, solicitando à Conmebol que entregasse a taça à Chapecoense. Sem ninguém pedir, fez no gramado do estádio Atanasio Girardot uma cerimônia grandiosa e emocionante nesta última quarta-feira, no horário em que o jogo deveria ocorrer. Que clube gigante!
O Grêmio, na figura do vice-presidente Adalterto Preis, foi o primeiro clube a propor a cedência gratuita de jogadores à Chapecoense, a fim de ajudá-la a reerguer-se. Torcedores das mais diversas partes associaram-se ao clube, a fim de auxiliá-lo neste momento de dor. A venda de camisas oficiais disparou, a ponto dos estoques terem praticamente se esgotado. Todos estão com seus corações voltados para o que mais importa neste momento.
Mas, por incrível que pareça, mesmo em meio a esta situação, os inescrupulosos e sem noção acabam agindo e manifestando-se. O vice-presidente de futebol do sci, fernando carvalho, deu declarações simplesmente reprováveis, preocupando-se mais com os prejuízos que seu clube teria com o adiamento da rodada do que com a comoção que o momento exige.

Não bastasse isso, horas depois, reiterou que o clube fará de tudo para não ser rebaixado, mesmo que isso implique em medidas judiciais. O famoso “tapetão”, prática abominável utilizada por entidades que, por conta de sua incompetência em campo, acabam abraçando. O dirigente foi enfático e afirmou, na maior cara de pau, que não tem nenhum problema em ter a "fama" de usar o tapetão. Pior: nos bastidores, há um movimento capitaneado pelo sci para que a última rodada do campeonato não ocorra, a fim de gerar-lhe motivo para questionar o resultado final e evitar seu rebaixamento à segunda divisão. Até mesmo um provável WO em partidas como Atlético-MG e Chapecoense, que em nada impactam no rebaixamento red, será motivo para ações judiciais para evitar a queda.
 
Para quem ainda acha exagero, teoria da conspiração, ou mesmo os incautos que vociferam que este dirigente não responde pelo clube (???), há um exemplo claro de como pensa e age TODA a direção vermelha. Ontem estava marcada a final do campeonato Sub19 entre sci e Lajeadense. Em face do luto promulgado pela CBF, a FGF informou ao clube do interior que o jogo não ocorreria. Por razões óbvias, o pedido foi acatado pelo Lajeadense, visto que não haveria clima para tal. Só que, vinte minutos depois, a FGF contatou-os novamente, informando que a final ocorreria de qualquer maneira, pois o sci NÃO ACEITAVA O CANCELAMENTO DO JOGO! Não respeitaram sequer o luto e a dor que tomava conta do mundo do futebol. Vejam abaixo o depoimento do técnico do Lajeadense, Serginho Almeida, sobre o episódio.

Tudo isso posto, e considerando as ações inescrupulosas do sci para livrar-se do rebaixamento, mesmo em meio à dor generalizada, só posso lembrar-se do conselho de Tadzu Lempke: MORRA LIMPO! Vendo a postura demonstrada até agora pela direção red, é provável que ignorem o que deva ser feito nesse momento. Utilizarão até mesmo a tragédia e o que ela eventualmente possa proporcionar para locupletarem-se. Não aceitam o destino que eles próprios cavaram. Cair é da vida. Aceitar a queda dignamente e reerguer-se é apenas para os grandes. Essa é a lei. MORRA LIMPO!
Saudações Imortais