13 de março de 2014

Daniel Matador: Faca nos dentes

“A doçura, a cerimônia, a timidez do nosso futebol são defeitos gravíssimos. Um jogador brasileiro tem vergonha de pisar na cara do adversário caído. O europeu não. O europeu não recua diante de nada.”
                                     Nelson Rodrigues – À Sombra das Chuteiras Imortais


Que venham os argentinos!

Caros

Mais uma vez estamos todos apreensivos. Nervosos. Ansiosos. Pilhados. Não há adjetivos suficientes para descrever o sentimento da torcida tricolor antes do embate de hoje à noite contra o Newell’s Old Boys pela Libertadores da América . Ingresso na mão, manto no peito e coração na boca. De todos os lugares surgirão gremistas avançando em direção à Arena, uma multidão que não poderá ser contida. Um povo que só sairá de lá após ver a bola estufar a rede argentina. Que só amainará seu espírito após gritar por conta de um gol marcado. Uma nação que só ficará satisfeita ao deixar o campo de batalha na liderança isolada do grupo da morte. Grupo este que não poderia ser chamado por outro nome. E ele só é assim chamado por uma única razão: o Grêmio está lá. Não foi o Grêmio que caiu no grupo da morte. A morte caiu no grupo do Grêmio.

Os jogos dos demais grupos têm mostrado que esta competição está tomando um rumo peculiar. Franco-favoritos perdendo, pretensos candidatos a título fazendo jornadas medíocres e azarões arrancando resultados surpreendentes. A única coisa que não muda na Libertadores é a necessidade de jogá-la de modo diferente. É a única competição do planeta onde um bom, ou por vezes até o melhor time, pode perder o título de forma natural. Porque o futebol é apenas o pano de fundo para a batalha psicológica e física travada nos campos da América. Após anos penando por conta do famoso complexo de vira-latas idealizado pelo mestre Nelson Rodrigues, os brasileiros aprenderam a vencer esta competição. Mas somente após perceberem que não poderiam ganhá-la sendo gentis em campo. Não se estende a mão para o adversário caído em uma disputa de Libertadores. A torcida não pode aplaudir nem mesmo alguma manifestação de fair play. O juiz deve ser achincalhado até quando olha para o cronômetro.

Por mais que alguns focos da torcida condenem e setores da imprensa façam coro em contrário, jogadores como Riveros e Edinho são de uma importância ímpar em uma competição como esta. Saber distribuir botinadas, não sorrir para o adversário e nem devolver a bola em sinal de gentileza são habilidades que fazem parte do script necessário para vencer neste certame. O próprio Grêmio já mostrou que apenas assim a taça pode ser levantada. Não se liberta a América pedindo licença. A única maneira é entrar chutando a porta. Que a fidalguia fique guardada para quando possa ser utilizada. Nesta noite o que precisamos é de bandidagem. Sem nenhum bom-mocismo desnecessário, que nada irá agregar neste momento. Precisamos dos cânticos de guerra, não de canções de ninar. Se alguém não estiver com este sentimento, fique em casa e deixe a batalha para quem está com a faca nos dentes para travá-la.

Hoje é noite de Grêmio. Uma tempestade humana se aproxima. E a Arena vai rugir.


Saudações Imortais