Por Milton Jung
Lanús 1×2 Grêmio
Libertadores – La Fortaleza/Lanús-ARG

Pai,
Mesmo distantes, eu aqui em São Paulo e você em Porto Alegre, nunca estive tão próximo de você como nesta noite de decisão. E desde que ela começou a ser escrita, semana passada, naquele gol de Cícero, na reta final da primeira partida, têm sido frequentes as lembranças de nossos muitos momentos juntos e em torno do Grêmio.
Você não tem ideia, pai, foi uma avalanche de emoções antes mesmo de a bola começar a rolar na Argentina. E a cada lembrança, aumentava a vontade de ligar para você e dizer muito obrigado por tudo que você fez por mim. Na louca escapada de Fernandinho; na molecagem de Luan que saçaricou com a bola dentro da área; na defesa de Marcelo Grohe; em todo momento gigante que vivemos nesta noite até o apito final, lembrei de você pai! Queria abraçar você! Porque se eu sou TRI da América, e sou TRI por sua causa!
Foi você que me fez gremista! E por isso eu agradeço.
Obrigado, pai, por sua intervenção em 1969 quando um primo engraçadinho aproveitou-se da minha ingenuidade, vestiu-me com o uniforme daquele outro time, me deu uma bandeira e me ensinou a cantar “papai é o maior”. Imaginava ser uma homenagem para você. Descobri que era uma provocação barata. Dizem os parentes que apanhei com a bandeira. Sempre pensei que essa era uma piada em família até o dia em que você confessou, constrangido, o ocorrido. Sem constrangimento, pai. Foi pedagógico e definitivo. Aprendi a lição. Comecei ali a ser forjado gremista. E eu só tenho a agradecer.
Obrigado, pai, por me comprar a primeira camisa do Grêmio, daquelas com um tecido meio grosseiro, que encolhia e desbotava sempre que a mãe lavava no tanque. Foi com ela que você me levou para a escolhinha de futebol em um campo de terra que ficava atrás do Olímpico. Como você sofria me vendo tentar jogar bola, despachando os atacantes a pontapé, brigando com o adversário e discutindo com o juiz. Quantas vezes você veio brigar junto comigo. Nós dois formávamos um só time. Lembra, pai?
Foi assim no basquete do Grêmio, também. Puxa, você aceitou até virar cartola pra sentar no banco e estar ainda mais perto de mim. E aguentava o meu choro a cada derrota, e era capaz de justificar até minha mediocridade. Obrigado, pai, era você me fazendo gremista!
E quantas vezes, fomos ao Olímpico assistir aos jogos do Grêmio de mãos dadas – mãos que passaram a se soltar a medida que a adolescência surgia. Mas lá estava você, ao meu lado, sempre. Comemorando gols, esbravejando as jogadas mal jogadas, justificando os erros dos nossos craques, me ensinando a ser gremista. Sendo campeão!
Pai, obrigado! Foi no Olímpico, que construi minha personalidade. Foi lá que você me apresentou algumas das pessoas mais marcantes da minha vida. Lembra quando eu “rodei” na escola e não tinha coragem de contar para você? Você usou o Seu Ênio Andrade para chegar até mim e me mostrar que não deveria ter medo, afinal você era meu pai, era meu amigo. E eu contei e você me acolheu com um abraço.
Lá dentro do Olímpico você me colocou ao lado de Telê Santana que me deu puxão de orelha porque inventei de passar a bola com o lado de fora do pé; do Seu Ênio que me fez parte do time ao me convidar para ser gandula e transmitir suas instruções à equipe; de Loivo que me mostrou como apaixonante era jogar pelo Grêmio; de Iura que chorou comigo dentro do vestiário porque perdemos um campeonato. Obrigado, pai!
Se sofri a pressão argentina, se levei medo quando eles reagiram e nós perdemos um jogador. Se sorri a cada gol, cada defesa, cada bola bem tocada, cada drible desconcertante; se chorei hoje à noite abraçado nos meninos aqui em casa; se sou TRI da América; sou porque você me fez gremista.
Obrigado, pai!
Roberto Naime · 380 semanas atrás
CARLOS · 380 semanas atrás
lembrei da minha história.
Meu tio Nilo, único gremista da família, em 1969, quando perdemos o Octa, queira jogar fora uma bandeira do GRÊMIO.
Eu pedi a bandeira para ele, e le disse que daria só se eu me tornasse gremista.
Dai, no meio de tanta gente ,ele e eu eramos os únicos gremistas da família.
Lá do céu, hoje ele deve estar orgulhoso com o TRI.
THIAGO TIETZE · 380 semanas atrás
Quando tentei ler, não sei porque, a tela do blog ficou cheia d'água. Deve ser defeito...
Como Gremista, corneteiro, radicado em São Paulo e na certeza de que o meu pai deve estar, certamente "lá de cima" comemorando do jeito dele mais um campeonato... Só posso dizer que concordo com cada palavra...
Somos tri e seremos bi!
Regis · 380 semanas atrás
Parabéns ao Milton.
Parabéns também aos blogueiros, que estão sempre se esforçando para nos animar com belos textos também. E mais uma vez (nunca será demais), parabéns ao Arigatô pela conquista da América!!! Imagino qual seja o sentimento de alguém que foi torcedor desde criança e que hoje sabe que tem responsabilidade pela montagem daquele que talvez seja o melhor time da história do Grêmio (obviamente sem demérito a outros grandes times que já envergaram nossa camisa).
Mil vezes parabéns!!!
Rodrigo · 380 semanas atrás
Jge · 380 semanas atrás
"Dizem os parentes que apanhei com a bandeira..." - Também não sou a favor de bater em criança mas confesso que, nesse seu caso, foi a melhor surra que uma criança podia ter tomado rsrsrsrs se puder, diga ao seu pai, seu Milton sênior, que o parabenizo pois isso foi uma aula de pedagogia em plenos anos 60, evitou que o filho padecesse pelas décadas seguintes carregando o sofrimento de ser um colorado.
No mais, parabéns pelo texto.
Rossano · 380 semanas atrás
FCG · 380 semanas atrás