Por Milton Jung
Inter 0x1 Grêmio
Brasileiro – Beira Rio/POA-RS
O rapaz da manutenção apareceu aqui em casa com a camisa do Grêmio, mas disse que é palmeirense: “uso a camisa porque acho a mais bonita” (eu, também!). Aproveitei para mostrar-lhe a coleção que está em fase de reconstrução desde que tive meu acervo roubado, em São Paulo.
O padre gremista que sempre me recebe na porta da igreja aos domingos estava de vermelho e branco. Ao cumprimentá-lo com olhar desconfiado, ele arriscou: “será uma premonição?”. Sem saber o que responder, sorri amarelo para, em seguida, ouvir outra pergunta: “pode dar azar?”.
Padre falando em sorte e azar? Fiz o sinal da cruz e entrei.
Para um domingo de Gre-nal, palmeirense com a camisa do Grêmio e gremista com as cores do adversário, convenhamos, são sinais conflitantes.
Antes de o jogo se iniciar, tentei decifrá-los, na tentativa de antecipar o que aconteceria em campo logo em seguida. Mas não encontrei resposta razoável, a não ser a preocupação.
E foi com dose extra de preocupação que me postei diante da TV, neste domingo pela manhã.
Assim que a bola rolou, vi nosso time com aquela marcação sob pressão já no campo de defesa do adversário. Era sinal de que jogaríamos com a postura de quem está em casa, mesmo não estando.
Havia pouco espaço para jogar de um lado e de outro. O passe precisaria ser muito preciso e o drible faria a diferença. Douglas, Giuliano, Luan e Everton mais à frente, ensaiavam algumas jogadas, mas sem chegar na condição ideal para o gol.
O melhor sinal mesmo vinha lá de trás, com a defesa firme na marcação, roubando bolas e jogando para longe quando necessário – às vezes, para escanteio, o que poderia ter sido evitado.
Em um jogo congestionado, o contra-ataque era a chance de se tocar a bola com menos sufoco. E foi o que aconteceu aos 19 minutos do primeiro tempo, com a roubada de bola no nosso campo e a disparada para o ataque, com passe de pé em pé, jogadores próximos um dos outros, deslocamento rápido de Everton pela esquerda, o chute que já virou uma de suas marcas e a sobra para quem aparecer dentro da área: Douglas, o camisa 10, apareceu e marcou.
O Grêmio saía na frente do placar, mas não seria suficiente para sinalizar o que poderia ocorrer no restante do jogo, mesmo porque esquecemos que estar com a bola no pé é a maneira mais segura de evitar qualquer risco.
Riscos não faltaram no segundo tempo, com bola cruzando de uma lado, cruzando de outro, passando rente a trave, sendo despachada pelos zagueiros de cabeça, com o pé ou o do jeito que desse. Tinha também Marcelo Grohe para evitar o pior que se avizinhava.
“Estamos dando muita sorte para o azar”, pensei em voz alta e logo lembrei de um dos diálogos com o padre na porta da igreja.
Sorte? Azar? Meu Deus do Céu, lá vem a bola de novo!
Àquela altura, a nosso favor apenas o relógio que não parava um segundo sequer e a cada segundo que passasse nos deixava mais próximos da vitória. Havia também o desespero adversário que colocou quem pode dentro da nossa área, até o goleiro . Falharam todos.
Diante daquela situação, o sinal mais comemorado foi mesmo o apito final do árbitro que nos garantia a vitória no Gre-nal.
Com a conquista do clássico, mais três pontos na tabela e as perspectivas mantidas na busca pelo título do Campeonato Brasileiro, tentei entender o que todos aqueles sinais antes da partida tentaram me dizer.
Do palmeirense com a camisa gremista, imagino que seja o respeito a quem está chegando para tirá-los da liderança.
Já o vermelho e branco que se destacavam na vestimenta do padre e na decoração da igreja eram o convite para mais uma festa. Lá na igreja, pela solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo; lá na casa do adversário, pela vitória do técnico que prefere dirigir um time de qualidade a um trator de pneu furado.