O Grêmio apresentou superávit financeiro de R$ 68,3 milhões no primeiro semestre de 2016. Um valor expressivo e histórico. Logo que foi divulgado pela Direção, surgiram nas mídias pessoas saudando o resultado e outras fazendo questionamentos e até duvidando do resultado. Portanto, para esclarecer os nossos leitores e trazer mais informações sobre esse resultado, entramos noite adentro entrevistando o Vice-presidente do Grêmio, Odorico Roman. Na parte inicial da entrevista, tratamos de temas genéricos sobre a gestão. Ao final, detalhamos mais o resultado apresentado hoje no Conselho Deliberativo.
Blog: Quais foram as principais medidas tomadas para equilibrar as finanças nos últimos 2 anos?
Resposta: A atual gestão assumiu com o firme propósito de atacar de forma vigorosa um problema que afeta todos os clubes brasileiro: o descompasso financeiro. Gastar mais do que se pode arrecadar traz resultados perversos. Por um lado, leva os clubes a se desfazerem de jovens promessas por valores inferiores ao que poderiam obter; por outro, o comprometimento de receitas futuras carrega o ônus do endividamento bancário, com juros elevados, que acabam por consumir parte substancial das receitas correntes dos clubes. Não é difícil encontrar clubes que pagam, em um ano, mais de 40 milhões de reais em juros bancários. Então, definimos como meta buscar de forma obstinada equilibrar as finanças do Grêmio, porque entendemos que este é o caminho que pode nos levar a conquistas dentro do campo. Estabelecemos política de disciplina orçamentária. Isso trouxe como consequência a necessidade de definir nível de gastos compatível com as nossas receitas. Fixamos três cenários, nos quais o equilíbrio será alcançado em 2, 3 ou 4 anos, dependendo dos recursos que ingressem com a venda de atletas. No pior cenário, sem vendas de jogadores, o equilíbrio chegaria em 4 anos. Este plano está em execução. De outra parte, buscamos renegociar dívidas (algumas históricas), bem como adequar os fluxos financeiros à nossa capacidade de pagamento, alongando compromissos que oneravam em demasia o caixa do clube.
Blog: A gestão foi e segue sendo muito criticada por setores da imprensa e torcedores. Como é viver sob essa pressão por títulos, tendo recursos escassos para investir?
Resposta: Há um fenômeno interessante nas mídias. Alguns formadores de opinião criticam, pela manhã, o que chamam de "gastança" ou "descalabro financeiro" dos clubes. Logo à tarde, desancam os dirigentes por não contratarem jogadores sabidamente com alto custo. Há também os simplícios que dizem: "É só se livrar de fulano e beltrano, que dá para trazer sicrano". Como se contratos pudessem ser rescindidos num estalar de dedos. O que buscamos fazer, e isso demandou tempo, foi desvincular alguns atletas que tinham custo acima do suportável pelo orçamento, trazendo outros com custo adequado. Ajustar isso, em meio a campeonatos, gerou as críticas que a pergunta refere. Mas o plano não foi abandonado e segue em execução. Um fator importante foi a aposta na Base. Na gestão Koff, havia sido iniciado um processo criterioso de captação de atletas: Luan, Everton, Walace, Jaílson, para citar alguns, vieram para o clube nos últimos 4 anos. Os frutos começam a aparecer.
Blog: Jornalistas adoram proclamar aos ventos que as finanças do Grêmio são caóticas. Qual a verdade sobre isto?
Resposta: Em 2015, o Presidente Romildo fez um anúncio claro sobre o plano de saneamento financeiro que seria implementado. O que seria buscado na gestão que iniciava. Isso acabou por permear todas as matérias que cobriam o dia a dia do Clube. Opiniões e boletins iniciavam ou terminavam com o mantra: "O Grêmio não tem dinheiro". Isso acabou por cristalizar-se como se fosse algo imutável. Hoje, parte do trabalho está feito e o que se pode dizer é que o Grêmio está melhor financeiramente do que a maioria dos clubes brasileiros. Não há nenhum caos nas nossas finanças. Há, ainda, dificuldades a serem superadas, mas a fase de vender a janta para pagar o almoço ficou para trás.
Blog: Por que existe um descompasso tão grande entre arrecadação e gastos?
Resposta: O futebol tem particularidades que não o fazem comparável a empresas normais. Exemplificando: cinco supermercados concorrentes podem traçar objetivos e todos eles, ao final do ano, festejarem terem chegado ao que almejavam em termos de rentabilidade e lucro. No futebol, só um é campeão e o segundo nem é festejado. Isso torna a corrida para montar o "time que vai ser campeão" muito irracional. A escalada dos salários nos últimos anos foi assombrosa no Brasil. Há clubes grandes que em 3 anos estarão reduzidos a coadjuvantes, se não iniciarem logo um processo severo de ajuste, como o Grêmio fez.
Blog: Qual o custo mensal para manter um clube de futebol da grandeza do Grêmio?
Resposta: O orçamento aprovado, para 2016, é de R$ 222 milhões. Isso dá um custo mensal médio com salários, prêmios, juros, pagamento a fornecedores etc. de R$ 18 a 19 milhões/mês.
Blog: O Grêmio tem de repassar um dinheiro considerável mensalmente para a controladora da Arena, não recebe nada da bilheteria e, em tese, fica com 65 % dos lucros. Como a tendência é a Arena sempre ter balanços que apontem prejuízo fica a pergunta: o Grêmio é viável sem assumir a Arena?
Resposta: A aquisição gestão da Arena será muito importante para alavancar algumas receitas que se encontram travadas por conta das particularidades do contrato com a OAS, mas o Grêmio é viável no modelo atual.
Blog: Agora vamos falar sobre o superávit do primeiro semestre. Por que houve esse atraso na entrega dos balancetes? Havia especulações de que estavam sendo "escondidos" porque os números eram ruins.
Resposta: Os números são maravilhosos, não havia porque não publicar. E mesmo que fossem ruins, seriam publicados, pois a gestão do Presidente Romildo prima pela forma transparente como conduz os assuntos do clube. Houve dificuldades técnicas na implantação do novo software, todas já superadas.
Blog: Como foi possível obter este resultado tão expressivo?
Resposta: Parte substancial do resultado foi obtido com as luvas de R$ 100 milhões recebidas na negociação com a Globo. Mas houve outros ingressos importantes: a participação na Libertadores, por exemplo, trouxe quase R$ 12 milhões de receita adicional. Também houve redução importante em algumas despesas. Para citar um exemplo, neste semestre gastamos R$ 18 milhões a menos com encargos financeiros.
Blog: Pode-se dizer, então que o contrato da Globo caiu do céu?
Resposta: Não caiu do céu. O resultado final do contrato da Globo foi fruto de muito trabalho. Graças aos ajustes feitos no ano passado, o Grêmio pode sentar à mesa de negociação sem pressa. Estávamos com o almoço e a janta garantidos. Para se ter uma ideia do que isso representou em termos de estratégia, basta dizer que a proposta inicial (aceita por muitos clubes) era de um empréstimo de R$ 30 milhões, a ser devolvido ao longo dos próximos anos e redução dos valores já contratados. Poder dizer não a esta e a outras propostas feitas só foi possível porque não estávamos mais em posição de absoluta fragilidade financeira. Foi a política de austeridade que nos deu fôlego para negociar em condições mais favoráveis. Por isso, repito que o contrato da Globo não caiu do céu. Foi conquistado pela Gestão Romildo para o Grêmio.
Blog: Há algo mais a acrescentar sobre esse contrato com a Globo?
Resposta: Sim. A negociação levou a um modelo de repartição das receitas de televisão que vai alterar substancialmente a relação entre os clubes a partir de 2019. As discrepâncias de valores que há serão fortemente atenuadas. Além de parte fixa, as receitas serão distribuídas também por mérito desportivo (classificação no campeonato) e audiência.
Blog: Há quem diga que o valor das luvas da Globo deveria ser diferido e contabilizado ao longo dos anos e não todo de uma vez. O que você diz?
Resposta: Há duas respostas para esta pergunta, que na verdade guardam coerência. No Grêmio, historicamente, luvas são integralmente contabilizadas no ano em que são recebidas. Além disso, a contabilidade do Grêmio é auditada por empresa externa independente. Não há apontamento de que tenha havido alguma impropriedade nos registros deste semestre. Aliás, quero lembrar que, em 2015, fomos orientados a contabilizar despesas futuras expressivas relativas ao contrato da Arena. Esses valores alimentaram o déficit registrado naquele ano. As vozes que se ouvem agora nada disseram na oportunidade.
Blog: Além do superávit expressivo, o que mais há de relevante no balancete?
Resposta: O Passivo Circulante (que representa as dívidas a pagar no curto prazo) foi reduzido em mais de R$ 30 milhões. O Passivo Total caiu R$ 22 milhões. Além disso, equacionamos diversas pendências com credores.
Blog: O valor da venda do Giuliano também ajudou para a obtenção do superávit?
Resposta: Não. Os balancetes apresentados são dos registros até junho. A venda do Giuliano ocorreu em julho e só irá sensibilizar o balancete do terceiro trimestre.
Blog: O trabalho está concluído?
Resposta: Avançamos muito nesses 18 meses de gestão. Equacionamos mais problemas do que imaginávamos fazer neste período. Hoje, não temos premência em nos desfazer de jogadores. As revelações do clube só serão vendidas pelo preço que o Grêmio entender como justo. Não obstante, ainda há muito a ser feito. Sonhamos em ter um clube equilibrado, com fluxo de caixa ajustado e maior capacidade de investimento, algo que ainda precisa ser e será alcançado nos próximos anos. Tudo isso para podermos atingir o objetivo principal do Grêmio que é conquistar campeonatos.
Então é isto. Se houver mais dúvidas, podem manifestá-las nos comentários que tentaremos dirimi-las.