Por Milton Jung
Faz muito tempo. E tantas coisas mudaram por aqui.
Em 2001, quando vencemos a Copa do Brasil, tive um dos maiores prazeres da minha vida. Além de assistir ao Grêmio campeão - e isso me dá prazer mesmo em disputa de cuspe à distância - fui premiado com o direito de transmitir a final contra o Corinthians, no estádio do Morumbi.
Naquela época, fazia experiência como narrador de futebol na Rede TV! a convite de Juca Kfouri que acreditava como eu haver espaço para uma transmissão mais sóbria e menos intrusiva na vida do telespectador. Éramos poucos a acreditar no resultado daquela iniciativa. Mas a levamos em frente.
Tudo se iniciou com os jogos da Champions League, aos quais a emissora tinha direito de transmitir na televisão aberta. Na sequência, por acordo com a TV Globo, passamos a apresentar, também, as partidas do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil.
Por uma rica coincidência, naquele mesmo ano, o Grêmio, treinado por Tite, em sua primeira experiência na elite do futebol brasileiro, foi surpreendendo um adversário atrás do outro. Os tropeços nas primeiras partidas eram superados com vitórias contundentes em casa, no jogo de volta. Foi assim com Vila Nova e Santa Cruz.
Os resultados mais importantes, porém, vieram nas etapas finais, ao superar o Fluminense (uma vitória e um empate), o São Paulo (ao vencer em casa e no Morumbi por um incrível 4x3) e o Coritiba (quando vencemos as duas).
Apesar dos bons jogos e resultados, não havia tido oportunidade ainda de narrar uma só partida do meu Grêmio, pois enquanto nós avançávamos de um lado da tabela, o Corinthians avançava do outro e, por motivos óbvios, a televisão privilegiava os jogos do time paulista. Isso me levava a narrar os jogos deles e, de revesgueio, assistir aos do Grêmio.
A televisão me deu a chance de narrar a partida final, no Morumbi, depois de já termos empatado em dois a dois no Olímpico. A festa havia sido preparada para os paulistas. E a casa estava cheia. Naquele estádio, além de um pequeno grupo de torcedores concentrado na arquibancada, onde eu não conseguia enxergar da cabine de transmissão, apenas eu acreditava na possibilidade do título.
Perdão, naquele estádio havia um outro grupo que acreditava como ninguém na vitória. Era o time do Grêmio comandado por Tite, o técnico que se atreveu a pedir para que seus jogadores driblassem e se divertissem em campo, apesar da forte pressão que o adversário iria impor no estádio lotado.
E o Grêmio driblou, se divertiu, fez três gols e comemorou o título da Copa do Brasil.
Lá no alto, em uma cabine muito maior do que a minha capacidade de narrador merecia, assistia àquele espetáculo e narrei para todo o Brasil cada momento da nossa conquista. Foi difícil controlar a emoção pois ali estava quem só havia feito aquilo em menino e nas partidas de botão lá no Menino Deus, em Porto Alegre.
Em jogos de verdade, até então, me satisfazia em ouvir a voz de meu pai, Milton Ferretti Jung, nas jornadas esportivas da Rádio e TV Guaíba. E foi para ele que gritei o último gol gremista, marcado por Marcelinho Paraíba, após jogada que lembra muito o toque de bola do nosso time atual. Verdade que foi um mal e desafinado grito de Gol-gol-gol, mas era o que podia fazer naquele momento em que fui tomado pela alegria de comemorar o título que se confirmava em campo.
Como disse, faz muito tempo. E tantas coisas mudaram até aqui.
Aquele foi meu último jogo como narrador esportivo, pois tinha ciência de que a experiência seria passageira. Meu rumo era o jornalismo, onde já navegava com mais segurança e personalidade. Passei por outras redações e persisti no microfone da rádio CBN.
De lembrança, além daquelas guardadas na memória e o vídeo do jogo que narrei, tinha até pouco tempo uma medalha oferecida aos campeões da Copa do Brasil de 2001, que havia sido perdida no gramado. Como não encontraram o seu dono, entregaram para mim algumas semanas depois. Infelizmente, quando tive a casa invadida por bandidos, assim como toda minha coleção de camisas do Grêmio, foi-se a medalha, também.
Minha família cresceu. Os meninos que eram pequenos na época, hoje tomam seu próprio rumo, apesar de estarem todos em casa. São gremistas como eu, clube que eles adotaram, mesmo nascidos em São Paulo, após ver o pai sofrer na Batalha dos Aflitos.
Meu pai já não narra mais. Em contrapartida se agarra na imagem de Padre Reus em sinal de sua fé no Grêmio, diante da televisão, em Porto Alegre. Eu estou mais experiente. Calejado pela vida e pelo futebol.
A nos aproximar daquele ano de 2001, o nosso desejo alucinante de conquistarmos mais uma vez um grande título, porque eu, o pai e os meninos, todos nós #QueremosACopa.