6 de maio de 2013

Daniel Matador: Senhores da Guerra



Caros

Não vou nem citar nada sobre os acontecimentos futebolísticos (?) ocorridos neste final de semana aqui no RS. Espero que toda a torcida gremista já trate de esquecer algo que nem deveria ter começado. Isto posto, informo a todos que já posso me considerar um atleta praticamente completo. Nesta última sexta-feira sofri algo que nunca havia me ocorrido em toda minha vida de jogador semi-profissional: fui acometido da chamada “síndrome da pedrada”, a lesão conhecida como rompimento dos músculos da panturrilha. O nome se dá pelo fato de que a sensação, no momento da lesão, é semelhante ao de levar uma pedrada na panturrilha. Posso garantir, é isso mesmo. E não ocorre por levar botinada de zagueiro ruim, entrada desleal de volante brucutu ou coisa do gênero. Este tipo de lesão costuma ocorrer sem haver contato, por incrível que pareça. Foi o que me aconteceu e me deixará algumas semanas de molho. O futsal perde seu brilho por algum tempo.
Mas o assunto aqui é outro. Apenas na semana que vem teremos jogo novamente. Até lá, só expectativa e conjecturas. Mas me ative a dois assuntos que foram muito citados (e positivados) nos comentários dos posts desta semana. A possibilidade de haver um “complô do bem” para que os jogadores do Grêmio passem a entoar o hino rio-grandense nos jogos da Arena. E a forma como a preleção de um jogo decisivo deve ser feita.
O primeiro ponto foi levantado porque, na transmissão do jogo contra o Santa Fé, as imagens mostraram Roger, Biteco e o zagueiro Gabriel entoando o hino do RS. Talvez outros o tenham feito, mas eu particularmente notei que as imagens mostraram estes três com maior ênfase. Também pessoalmente falando, penso que o vínculo entre time e torcida é importantíssimo para estabelecer uma série de pontos positivos, inclusive a vibração necessária para empurrar a equipe em momentos cruciais. Pensei com meus botões como seria bacana ver o time todo cantando o hino, acompanhado da massa tricolor que hoje já arrepia qualquer um que a vê entoando-o com tamanha energia. Esta ideia também foi citada por nosso leitor Facco, nos comentários.
Mas e quem não é gaúcho? Ora, como citei nos comentários desta semana, aí a coisa muda de figura, porque não dá pra obrigar ninguém a fazer algo contra sua vontade. Primeiro porque não dá certo e segundo porque, principalmente em tratando-se de boleiros, aí sim que eles não fazem. Para que algo assim ocorresse, a coisa teria de ser arquitetada. Vou dar o exemplo que dei nos comentários. Um
Marcelo Grohe da vida tem que chegar no Kleber  por exemplo, e dizer algo do tipo: "Pô, me dá uma ajuda, já que tu é um cara experiente e tem liderança. A gente tá querendo puxar a torcida pro nosso lado cada vez mais, então queremos fazer o banco de reservas cantar o hino do RS nas partidas. Tem como tu ajudar a gente?" Aí ele pode até retrucar: "Pô, mas eu não sou gaúcho, nem sei a letra do hino!" Daí é batata: "Bah, mas a torcida te adora, se tu cantar o hino tu vira rei!" O cara começa a ficar pensativo e aí é só puxar a linha: "Será? Sabe que pode ser uma boa? Beleza, me ensina aí essa letra!". Imagina só o time titular no gramado, olhando o banco de reservas cantando o hino. Aí tem o Fernando, o Bressan e talvez o Alex Telles, ou mesmo o Gabriel junto com os titulares, também cantando. Complicado o resto da galera não querer também. Se conseguir convencer o Zé Roberto e o Barcos, aí caiu a casa. A Arena faria o adversário sentir o cutuco antes da bola rolar e se perguntar o que foi fazer ali. É uma ideia interessante, mas que obviamente deve ser feita com cuidado e sem melindrar ninguém que não queira participar. Caso contrário, o tiro sai pela culatra.Outro ponto citado foi a questão da preleção pouco “animada” do Elano, mostrada no vídeo feito pelo Grêmio com os bastidores da partida. Eu mesmo comentei que o Elano é Atleta de Cristo, algo louvável, diga-se de passagem. Só que Atleta de Cristo não pode puxar discurso motivacional antes de jogo da Libertadores. O cara é da paz e este tipo de jogo precisa de um senhor da guerra pra fazer a preleção. Como acontecia nas batalhas campais entre escoceses e ingleses, romanos e germanos, nórdicos e bretões. O exército podia estar esfarrapado, armado com foice e ancinho, mas entrava pilhado. Passava o guia espiritual do pessoal por eles, dava a bênção pra todo mundo e então se mandava lá pra trás. Aí entrava o comandante cuiudo, montava num cavalo e ia andando em frente à fileira de guerreiros. O cara berrava que nem capitão do Bope, falava que todo mundo ali era galo cinza, dizia que o outro exército era um bando de florzinhas, que eles iam chutar a bunda deles e fazer eles voltarem chorando pra casa, pedindo pra vó servir mingau de Cremogema. Aí os caras entravam com sangue nos olhos, comendo grama e detonavam o outro exército. Assim que tem de ser uma preleção de jogo de Libertadores. Não pode servir Maracugina no vestiário, tem que dar choque com fio desencapado.
Acabei me atendo a estes detalhes tão importantes na vida de uma equipe de futebol pelo simples fato de que a competição que estamos jogando não é nenhum ruralito, os adversários não são nenhum clubeco desprezível e a atmosfera é totalmente diferente. Em 2006 o grande escritor e historiador Bernard Cornwell iniciou uma saga que ainda não se encerrou. As Crônicas Saxônicas, série que possui até o momento seis livros, conta a história da formação da Inglaterra pelos vários reinos que a compunham no passado. O Rei Alfredo foi o principal articulador desta união e principalmente das guerras travadas contra os nórdicos que seguidamente tentaram conquistar aquele país. Com pitadas de história misturadas a ficção, seu protagonista, Uhtred, é um garoto que foi poupado na batalha que matou seu pai, sendo então criado por seus algozes, os dinamarqueses. Passando a cultivar seus hábitos e crenças, acabou tornando-se também um exímio combatente e senhor da guerra, vindo posteriormente a lutar em favor de Alfredo contra os próprios dinamarqueses, comandando seus exércitos.
Uma citação interessante no segundo volume da série mostra como particularmente acredito na importância do “sangue nos olhos” nestes jogos da Libertadores, visto ser esta competição uma verdadeira guerra. Uhtred mostra que não é possível entrar em uma batalha com espírito calmo. "- Isto mata - disse eu, deixando a espada deslizar de volta para sua bainha forrada de pelo de carneiro -, mas é a raiva e o ódio que lhe dão a força para matar. Se formos para a batalha sem raiva e ódio, estaremos mortos. Precisamos de todas as lâminas, da raiva e do ódio que possamos reunir se quisermos sobreviver."
Torçamos para que, seja com cânticos ou palavras de ordem, o Grêmio possa retomar o espírito que o fez vencedor de outras edições da Libertadores. E que os jogadores tenham em mente que ali não basta apenas jogar bola. É necessário entrar com algo mais.

Saudações Imortais