Nos perguntamos o que aconteceu com aquele Grêmio, do
melhor futebol do Brasil que tantos nos encantava. Apesar de mantermos o modelo
de jogo de posse de bola e alta qualidade na troca de passes, onde os números
nos mostram isso, é nítido que a qualidade do jogo caiu. Por isso é importante
sempre esclarecer que se olharmos somente os números, não veremos o que o jogo
nos apresenta. Se analisarmos somente os números temos o seguinte:
Fonte: Footstats
Estes números comprovam a manutenção do sistema de
jogo, pois conseguimos identificar esse padrão de comportamento, ao qual
temos desde os tempos do Roger e ao qual Renato aperfeiçoou. Mas aqui que um
pouco de atenção. Não é somente pela repetição desse comportamento, comprovado
por estes scouts, que significará que um time venceu ou perdeu. E este
exemplo é claro, pois apesar de em todos os jogos termos mais posse, maior
número de passes e uma alta qualidade, e sendo em campo adversário, dentro de casa,
Libertadores ou Brasileiro, os RESULTADOS foram diferentes. Outro dado que este
exemplo mostra e que está sendo muito discutido no Brasil é sobre a posse de
bola. Como curiosidade, nos dois jogos que tivemos mais posse de bola,
Chapecoense e Bahia, nós perdemos. No jogo contra o Botafogo tivemos menos
posse e troca de passes, sendo estes com o menor índice de assertividade, mas
foi o jogo mais importante, os as CIRCUNSTÂNCIAS (competição, adversário,
jogadores disponíveis) fizeram com que o Grêmio se adaptasse e jogasse pelo
resultado, que veio em uma bola parada, no primeiro gol de cabeça de Barrios na
temporada, onde já fez 18 com a incrível média de um gol a cada 122
minutos. Ou seja, os scouts estão aí para serem um COMPLEMENTO da análise, e
nunca a referência maior.
Intensidade e controle do jogo do Grêmio sempre maior
em todos jogos, porém não se reflete nos resultados. Fonte: SofaScore
Com a análise dos scouts feita, vamos ao principal: a
análise do jogo! E aqui temos a grande mudança, onde nosso meio ficou sem Luan,
e não temos mais Pedro Rocha na direita. Surgiram até alguns debates no Twitter
de "quem faz mais falta?". Minha resposta: NUNCA SABEREMOS. As
condições são outras, o momento físico (fim de temporada) e mental (decisões)
são grandes influenciadores. Outra coisa, Luan e Pedro Rocha saíram do time ao
mesmo tempo, e ambos são (ou eram) fundamentais para o esquema de jogo. Luan,
simplesmente o melhor jogador do Brasil no ano, com sua inteligência de jogar
entre as linhas, de rodas o jogo, de se movimentar e abrir espaços. Pedro Rocha
no maior crescimento do time no ano. O cara que puxava os contra ataques, que
atraia a marcação dos adversários para dar maior liberdade para Luan jogar e
também consequentemente fazendo com quem Ramiro tivesse mais funções defensivas.
Mas se querem um resposta, apesar de ser um grande admirador de Pedro Rocha,
vejo que Luan faz mais falta e explicarei porquê nas linhas abaixo.
Antes de explicar, importante conceituar. No livro que
estou lendo "Para o Futebol Jogado com Ideias", um dos capítulos fala
de "Análise e avaliação do comportamento tático no futebol", onde os
autores propõe 7 perguntas para analisar o jogo:
· quem
executa a ação?
· qual
ação é realizada?
· como
a ação é realizada?
· que
tipo de ação é realizada?
· onde
a ação se realiza?
· quando
a ação se realiza?
· qual
é o resultado da ação?
Quem é da área de administração de empresas como eu,
ou então já trabalhou em análise de resolução de problemas, saberá que este é o
famoso 5W2H (what, when, who, where, why, how, how much), que podemos trocar o
"how much" pelo "resultado" acima descrito. Pois bem,
sabemos que o Grêmio sente falta desta criação, pois QUEM executou foram Ramiro
e Leo Moura. Ramiro contra a Chapecoense e Bahia, e boa parte do jogo contra o
Botafogo, onde Renato começou com Leo Moura e o substituiu por Everton aos
30min do 1t. Com isso Everton foi para a esquerda, Fernandinho pela direita e
Ramiro centralizou. Apenas no último jogo contra o Fluminense Renato colocou
Patrick como titular, mas podemos ver também muito de Jean Pyerre, pois
substitui Patrick no início do segundo tempo. Foi o melhor jogo Grêmio destes
quatro que comento aqui, que se não fosse a atuação do goleiro do Fluminense, Diego
Cavalieri, seria uma vitória fácil. Também concordo que Ramiro caiu muito de
rendimento nos últimos jogos, mas será que não é por estar deslocado, tendo que
armar o time?
Já sabemos quem executou a ação, agora vamos para QUAL
ação. O meia central na linha de três jogadores do Grêmio faz o time jogar, que
cria as oportunidades ofensivas. E COMO isso é feito? Ano passado com Douglas e
seus passes precisos que quebravam as linhas, onde a bola se movimentava. Esse
ano com Luan, onde ele faz a movimentação de condução, triangulação, dando
opção de linha de passe e consequente superioridade numérica. Renato tem o
desafio de encontrar uma destas soluções, e viu que com Ramiro e Leo Moura não
tem essas características, talvez encontradas em Patrick e Jean Pyerre, apesar
da pouca amostragem.
Esse TIPO de ação, de fazer o time jogar, de
centralizar o jogo pode ser percebida na característica do jogador. Patrick e
Jean Pyere foram formados na base como meias. Patrick com mais velocidade (mais
próximo de Luan, por favor não estou comparando!), Jean Pyerre com maior
controle de bola e precisa de passes (mais próximo de Douglas, também estou
longe de comparar).
Mapa de calor de Ramiro nos três jogos e de Patrick e
Jean Pyerre contra o Fluminense.
Fonte: SofaScore
ONDE essa ação será realizada é na meio ofensiva, ou
se preferirem no último terço de campo. Ramiro sempre possui uma grande
movimentação ocupa todos espaços quando atua ali. Quando fica aberto pela
direita, ou se preferirem o extrema, concentra suas ações lá, consequentemente
libera mais o lateral para jogar. Repito, a amostragem é muito pequena, mas
Patrick e Jean Pyerre tem a tendência de centralizarem mais o jogo, onde a
preparação e criação deva ocorrer, e ao qual Luan faz muito bem. Aqui
está o que vejo o grande problema do Grêmio atualmente. Apesar de mantermos a
formatação tática, no 4231, que são números para termos apenas uma base do que
o time quer, a construção ofensiva, que é QUANDO precisamos preparar e criar as
jogadas, não está sendo realizada. Nos jogos sentimos este espaço no meio sem
ocupação, consequentemente o time não consegue ter parcerias para um jogo
apoiado, que nada mais é do que o jogador que tem a posse da bola ter
opções de passes, para aí ter triangulações, infiltrações, quebra de
linha do adversários a partir das movimentações, etc...
E obviamente que o RESULTADO destas ações são maiores
chances de gol criadas, e o grande objetivo do gol. Este foi um dos fatores que
conseguimos um grande número de finalizações contra o Fluminense, onde os
laterais apareceram muito bem, em especial Cortez. Onde Arthur ficou
centralizado, não mudando de posicionamento mais avançado, Ramiro jogou na sua
posição e tendo Patrick (como na imagem do mapa de passes) dando opção de
passes e assim conseguimos lembrar aquele Grêmio que nos encantou meses atras.
Mapa de passes contra Fluminense.
Fonte @11tegen11
Por essas razões vejo que Renato deve entrar com
Patrick ou Jean Pyerre no meio contra o Cruzeiro. O time fica mais próximo do
que sabe jogar. Por isso também vejo Luan mais importante que Pedro Rocha no
sistema como um todo. E se vermos pelos números, Fernandinho tem números
melhores que o Pedro Rocha, mas a meu ver Fernandinho é reserva do Ramiro e
Everton e Arroyo disputam posição pela esquerda, mas isso é tema para um
próximo texto...
Números de Fernandinho muito melhores que de Pedro
Rocha, mas no campo...
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