23 de março de 2013

Daniel Matador: Estômago

Caros
A semana correu sem maiores surpresas nas quatro linhas. Apenas um jogo-treino no meio para não ser um marasmo total. E continua a contagem regressiva para que voltem logo os jogos da Libertadores, que é o torneio talhado para o Imortal. Até lá, não obstante os jogos-treino do ruralito, naturalmente que temos os fatos “jornalísticos” para entreter os incautos. Retomaremos este tema logo adiante.

Além do futebol, uma de minhas muitas especialidades é a gastronomia. Curto muito visitar restaurantes nos mais diversos recônditos, experimentar sabores diferentes e me aventuro com louvor na arte culinária. Se no futebol tenho um estilo mais Renato Gaúcho, matador e definidor, dá pra dizer que na cozinha meu estilo é mais Zidane, cerebral e surpreendente. Há alguns anos atrás, mais precisamente em 2007, um filme nacional despretensioso me foi indicado. Nunca fui muito fã do cinema brasileiro, mas como a sinopse da história apontava um tema gastronômico, me dispus a assistir a película, intitulada Estômago. E qual não foi minha surpresa ao deparar-me com aquele que provavelmente é um dos melhores filmes nacionais já produzidos.

O nordestino Nonato, interpretado com maestria por João Miguel, chega à cidade grande sem um tostão no bolso, em busca de uma vida melhor. O dono de um boteco fuleiro lhe propõe um emprego frio de ajudante, dando-lhe em troca apenas um quartinho para dormir nos fundos da cozinha e as refeições. Acaba lhe ensinando a preparar os tira-gostos do local, existentes em qualquer boteco do Brasil, como coxinhas e pastéis. A cena em que ele lhe ensina a preparar pastel é de encher os olhos e dá vontade de rever várias vezes. O ovo caindo no monte de farinha em forma de vulcão, ambos sendo misturados e o dono do boteco falando com uma gentileza paquidérmica “põe um pouco de pinga aí na massa; mas é na massa, rapaz, não é pra beber” são impagáveis. Por conta de seu talento culinário, o obscuro boteco acaba atraindo cada vez mais clientela, a ponto de ficar lotado todos os dias e ter que colocar mesas na rua. As coxinhas são um sucesso e num belo dia Nonato recebe uma proposta de emprego do dono de um restaurante italiano, o qual fica impressionado com o sabor da comida do nordestino. Nonato acaba indo trabalhar na cantina e aprende os macetes de uma culinária mais elaborada. Ao mesmo tempo em que conta esta história, outra trama paralela é mostrada no filme, onde Nonato aparece preso. E na cadeia acaba fazendo seu nome também por conta de seus dotes na cozinha. Ele acaba virando o cozinheiro oficial dos marginais e por isso ganha regalias. Mas por qual motivo Nonato está preso? Recomendo assistir o filme para saber. Vale muito a pena.

E aí vem a pergunta clássica: e o futebol da província, o que tem a ver com isso? Como citado no primeiro parágrafo, fomos bombardeados nesta semana com notícias de virar o estômago. Dá para elencar apenas algumas, se ninguém ficar indisposto pelo teor indigesto das mesmas:
  1. O Corpo de Bombeiros, além de enviar um representante sem poder de decisão para uma reunião decisiva sobre a Arena, ignora o Termo de Ajustamento de Conduta firmado anteriormente com o Grêmio e ainda faz novas exigências para liberar uma área do mais moderno estádio das Américas. Algumas são de cair os butiás do bolso, como a exigência de apresentar as notas fiscais de compra das cadeiras que são exigidas no local. Como citado em outro blog, talvez o ideal seja instalar arquibancadas móveis ou demolir a área, apenas isolando a torcida dos escombros. Ambas as opções já foram utilizadas em jogos de outro clube da capital, inclusive no interior. A segurança deve ser um primor, visto que nestes casos o Corpo de Bombeiros sequer deu um pio. Fiquei nauseado com o caso e tomei um remédio para não enjoar.
  2. Enquanto um ídolo ascendente usava seu domingo de folga para viajar mais de 600 quilômetros para visitar uma criança no hospital, fazendo questão de não capitalizar o feito, na capital gaúcha um evento diferente ocorria. Que fique bem claro, para início de conversa: toda e qualquer ajuda a quem necessita é uma atitude louvável e merece ser reconhecida como tal. Mas, diferentemente de Barcos, que fez questão de não propagandear seu feito, uma assessoria de imprensa de um certo clube moveu mundos e fundos para noticiar o chá dançante que outro elemento patrocinou para um grupo de velhinhos em um asilo. As “matérias jornalísticas” citam que o cidadão já vinha auxiliando o local há alguns anos. Ok, tudo muito bom, tudo muito bonito. Mas por qual motivo somente agora resolveram fazer uma mega cobertura do “evento”, mostrando o indivíduo, cujo bom humor nunca foi uma qualidade latente, posando de dançarino de valsa da terceira idade? Reconstrução de imagem, mudança de foco para que relevem os palavrões ditos à beira do campo ou algum outro objetivo que não vem à mente? Mesmo com a boa intenção do gesto, me deu “um ruim”. Pareceu forçado demais. Me embrulhou um pouco as entranhas.
  3. De 5 em 5 minutos, o site de uma empresa “jornalística”, composta por 3 letrinhas, atualizava a matéria que contava a saga da instalação da primeira metade da estrutura que suportaria a primeira folha da “espetacular, “inovadora”, “estromboscópica” cobertura metálica de politetrafluoretileno autolimpante (nossinhora!!!) do remendão. E diz a referida matéria, na última atualização (perdi a conta da quantidade de atualizações que ocorreram durante a semana) que simpatizantes róseos chegaram a chorar ao ver a engronha finalmente instalada.
Depois de todas as “reportagens” da semana e seu cunho altamente informativo e imparcial, não me restou outra opção. Ao ler a parte do pranto róseo no içamento do trambolho do remendão, a coisa desandou. Fui obrigado a ir pra galera, não resisti e “chamei o Hugo”. Foi demais para meu pobre estômago.

Saudações Imortais