Caros
Nesta terça-feira deveremos ter novamente jogo de gente grande, depois da preliminar meia-boca do final de semana. Me nego a alongar-me em comentários sobre um torneio menor onde a galera se vende por meio quilo de linguiça Várias teorias sobre compra e/ou roubo do ruralito já foram formuladas desde seu início. Os caras estão invictos, viram a sensação do campeonato, não perdem pra ninguém, são imbatíveis em casa e sentam a porrada em todo mundo em seu potreiro. Do nada, tomam cinco ao natural, sem reclamar, tudo na boa. Parei por aqui. Vamos falar do que é importante.
Em 2005 o diretor Ron Howard levou às telas a história da vida de James Braddock, um popular boxeador americano nos anos 20, no filme intitulado “A Luta pela Esperança”. Lutando na categoria dos meio-pesados, Braddock conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar uma casa confortável para sua esposa e filhos, bem como investir parte em ações e em uma empresa de táxi. Em sua mais importante luta até então, ao disputar o título mundial contra Tommy Loughran, não apenas foi derrotado como quebrou sua mão direita, o principal recurso de que dispunha, ficando um bom tempo sem poder lutar. Paralelo a isso, acontece a Grande Depressão nos EUA, o que faz com que famílias inteiras fiquem à beira da pobreza. Ele tem então de mudar-se para um cortiço, vivendo em situação de miséria, chegando a misturar água no leite das crianças para render. Sem ter alternativas, disputa com muitos uma vaga de estivador no porto e até mesmo chega a mendigar para dar de comer aos filhos. Em uma cena tocante do filme, seu filho mais velho rouba um salame, a mãe lhe condena por isso e o pai o acompanha até o açougue, falando na frente do açougueiro: “Nós não roubamos. Podemos passar fome, sentir frio, mas não roubamos”.
Por conta do destino, Braddock tem a chance de enfrentar John Griffin, grande candidato ao título mundial dos pesos-pesados em 1934, pois seu desafiante havia se lesionado e não havia ninguém para substituí-lo em tempo. Braddock foi o único que topou, pois a bolsa de 250 dólares lhe permitiria pagar as contas do cortiço e comprar comida. Surpreendendo a todos e praticamente sem ter treinado, ele derrota Griffin. Em seguida vence John Lewis, futuro campeão dos meio-pesados. Após vencer Art Lasky, tem a chance de novamente disputar um cinturão, ao confrontar Max Baer, campeão dos peso-pesados. Contra todas as adversidades, Braddock derrota Baer e sagra-se campeão mundial, em uma das mais espetaculares histórias de sucesso, queda e redenção de que se tem notícia. Em uma de suas entrevistas, quando estava retornando ao boxe, ele declara: “Agora eu sei pelo que estou lutando”. “Por quê” – pergunta um jornalista. “Leite” – ele responde. Ele não lutava apenas para obter sucesso ou fama. Ele lutava por um objetivo maior. Pelo leite das crianças.
Ao enviar o time C e mais alguns garotos para cumprir tabela no ruralito, a direção tricolor deu o recado. Preferimos não degustar esse salamito do que entrar no esquema. Até mesmo porque nosso cardápio pode ser muito mais saboroso. Sabemos que estamos passando por nossa Grande Depressão, mas basta uma chance do destino para que possamos novamente atingir a glória, sem esquemas. Mesmo desacreditado, o Grêmio derrotou de maneira soberba seus dois últimos adversários. Se tiverem em mente que não jogam somente por vitórias, e sim pelo leite das crianças, os jogadores gremistas irão longe nesta Libertadores. Se mentalizarem a figura da pequena Gabrieli, a Piratinha, saberão que o objetivo de seu combate é mais nobre do que apenas uma taça. Eles lutam pela esperança de milhões.
Saudações Imortais