8 de setembro de 2016

Tentando entender a paulada



Talvez seja um pouco cedo para tentar refletir o que aconteceu ontem. Ou talvez seja tarde demais.
Eu, como a maioria de vocês, fiquei escutando as entrevistas e fui dormir tarde. Dormir? Deitar melhor dizer.
O sono só chegou pela 1:30 da manhã. E às 7 horas já tocava o despertador porque, ao contrário dos nossos bravos jogadores que hoje dormirão até o meio-dia, as 8 horas tenho de iniciar o expediente.

Talvez seja um pouco cedo para escrever, porque a indignação e o desencanto ainda estão fortes. Mas talvez seja a hora exata. Agora não há espaço para dourar pílulas.

Segunda-feira eu estava no Rio a trabalho. Mas mesmo assim fiz o post "Quem ama morre" antes de dormir. Estava agoniado com o que via e ouvia. Acho que estava antecipando o que viria.
Ontem sentei para ver o jogo sem esperança. Sabia que viria coisa muito ruim. Nem o início razoável e o pênalti mais uma vez roubado diminuíram o aperto que sentia. E quando começou o desfile dos horrores apenas desejei que o 4 x 0 ficasse em 4 x 0. Onde foi que nos meteram?

Recebi a sugestão de fazer o pós jogo apenas com uma tarja preta com a palavra vergonha. Mas preferi transcrever twitters. Alguns raivosos, outros apenas irônicos. Todos com desalento.
Ninguém estava mais preocupado com a irritante repetição das falhas na bola aérea, nos gols de desatenção, com o roubo do juiz. Nada disto tinha a menor importância. Tudo isto era apenas consequência de um problema muito maior. Problema que se reflete na falta de vontade de ganhar, na preocupação com infindáveis tatuagens, cortes de cabelos esquisitos, chuteiras vermelhas e desculpas esfarrapadas de todos os tipos. Ninguém se escapa de parcela de culpa.

E sentei para ouvir as entrevistas. E não me surpreendi.

Começou com Roger ficando brabinho com as cobranças. E relutando para dizer que assumia a culpa. Pior de tudo: nenhuma indignação na voz. Nenhuma amostra de raiva ou tristeza. Cansaço mostrou o Roger. Talvez mais em ter de responder perguntas do que pela situação.

Aí veio o Alberto Guerra. Ou seria o Rui Costa disfarçado? O Rui que me desculpa, mas ele era mais enérgico do que este moço que está lá. Nenhuma indignação na voz. Nenhuma amostra de raiva ou tristeza. Nenhuma sinalização de mudança pela frente. E nem precisa ser mudança de treinador. Mudança apenas. Que dissesse que iria olhar com cara feia para os nossos heroicos craques. Que dissesse que os multaria pelo vexame. Qualquer coisa. Que não distribuiria mais balinhas no lanche. Nada disse a não ser platitudes sem graça.

E depois o Edílson e o Grohe. Não ouvi o Edílson mas transcrevo aqui:
"O Roger às vezes faz até milagre com o grupo que tem. Se fosse outro treinador talvez a gente brigaria para não cair. Temos que valorizar o trabalho feito pelo técnico. Para mim ele é um dos melhores do Brasil.
Temos que entender que a gente tem limitações. Às vezes precisamos de soluções e os meninos não são as soluções que o Roger precisa. Os experientes têm que segurar a bronca para chegar bem na próxima partida, em casa, contra o Palmeiras. Quando vencemos todos ficamos felizes, quando perdemos todo mundo tem que ficar triste e se reerguer junto.
As coisas não deram certo no jogo. O Grêmio não é só os jogadores, tem outras coisas que rodeiam. Todos temos que assumir as responsabilidades nesse momento. Fizemos um primeiro tempo desastroso. No vestiário o Roger tentou ajustar para não tomar gol e organizar o ataque. Tentamos não perder a cabeça porque sabíamos que domingo teremos uma partida importante".
Depois Grohe disse que a opinião não era do Edílson mas do grupo todo.

Confesso que não sei o que pensar sobre isto. 
Ele estava defendendo os jogadores jovens do desastre ou os culpando pelo desastre? 
Quais são as outras coisas que rodeiam o Grêmio além dos jogadores que tem também de assumir responsabilidades? 
Quem ele está chamando de omisso? O técnico não é, porque este ele elogiou bastante. 
Os salários estão atrasados? Que se saiba não.
Há problemas de relacionamento com a direção?
O que há que o Edílson sugeriu que haja mas não falou?

Certo que não é apenas a teimosia do técnico em inventar esquemas todas as semanas. Dá para reverter? Se for feito o diagnóstico correto e tomadas as providências dá. Pode-se ainda tentar salvar uma vaga no G4. Difícil mas não impossível. Mas tem de haver uma intervenção direta do presidente Romildo Bolzan no vestiário. Falar olho no olho com estes guris mimados e felizes com a vida mansa que eles estão longe de serem craques e que estão sendo pagos para pelo menos se esforçarem durante os jogos. Dizer para o Roger e seus auxiliares que, caso não saibam ainda, eles não são maiores do que o tricolor. Levar lá para dentro um dirigente com o perfil do Adalberto Preis, que não leva livre ninguém. Estabelecer metas que deverão ser cumpridas, sob pena de multa. Mas algo tem de ser feito hoje. Sem perda de tempo. E sem poupar os que não podem ser poupados.
Treino em dois turnos? Que seja.
Concentração dois dias antes das partidas? Também.
Regime militar? Bem feito. E ai de quem reclame.
Ninguém tem o direito de se omitir.

O único consolo do desastre todo é que por sorte temos gordura para não sermos o segundo gaúcho rebaixado no mesmo ano.