"O maior truque do diabo foi convencer o mundo de que ele não existe".Verbal Kint, em Os Suspeitos (parafraseando o poeta francês Charles Baudelaire)
Caros
Semana que começou com joguinho na segunda-feira e vai terminar com joguinho no sábado. Chamo de joguinho porque se trata do Ruralito, portanto não dá pra adjetivar muito. Mas nem só de bola vive o futebol, por incrível que pareça. A semana foi recheada de eventos capazes de transcender até mesmo os altos muros da Arena. Só que entre os fatos e a versão apresentada pelos veículos de imprensa há uma distância gigante. Dei-me ao trabalho de elencar apenas uma meia dúzia para reflexão da nação tricolor. Ei-los:
- Quartas-de-final da Taça Farroupilha em Caxias do Sul, tarde agradável em um domingo de sol com temperatura amena, propícia para ir ao estádio. Pra ajudar, os róseos reduziram pela metade o valor dos ingressos no Centenário (estádio onde pagam aluguel pra jogar), o qual possui lotação de 30.822 lugares, e conseguiram a proeza de colocar míseros 11.254 elementos nas nababescas arquibancadas caxienses contra o Lajeadense, campeão do interior. O clube da beira do lago comemorou (?) a presença maciça de torcedores (??) e a imprensa teceu elogios ao ótimo público (???). Mesma fase do mesmo campeonato, em plena segunda-feira útil em Porto Alegre, jogo terminando depois das 23 horas. O borderô de Grêmio e São Luiz de Ijuí aponta público total de 16.164 almas na Arena. Algum prefixo superlativo para outro recorde de público proporcionado pelo Imortal foi citado pela imprensa? Óbvio que não, afinal não foi um público tão bom assim (????).
- Um site com 3 letrinhas traz a manchete de forma enfática e tenebrosa: “Assumir gestão da Arena seria único caminho para salvar finanças do Grêmio”. Não tem outro jeito, caso contrário o clube vai quebrar. O Flamengo admite dívida de R$ 750 milhões (!!!) e ninguém dá muita bola, sai uma notinha e no outro dia todo mundo esquece. Mas não o Grêmio, este tende a quebrar. Ao mesmo tempo, temos a notícia da instalação da 3ª folha metálica da inovadora cobertura autolimpante no remendão. E a BM ainda pensando se libera a área sem cadeiras na Arena. E a imprensa ainda batendo na tecla (pela quadragésima vez) de que o técnico do Grêmio não foi citado na confusão no Chile pela Libertadores, portando “ainda não poderia” ser punido, apesar da forte tendência de torcida em contrário.
- Lançamento de um espetacular “banco de dados” com “todos os números” do Grêmio e do co-irmão. Jogos, gols, vitórias, derrotas, empates, tá tudo lá. Ao apresentar o inovador dispositivo, o jornal do mesmo grupo traz uma informação de cada clube, com uma nota explicativa. Nota do Grêmio: “Os números do Grêmio em jogos como visitante surpreendem negativamente. Em 12 partidas foram 6 derrotas. O aproveitamento é de 33%”. Nota do co-irmão: “Com seu estádio em reformas, já alternou 6 locais para chamar de casa. Mesmo assim, o desempenho como mandante impressiona. Invicto, tem aproveitamento de 87%”. Tendencioso? Que nada, capaz, nós é que somos paranoicos!
- Colunista já em idade avançada, com grandes chances de senilidade, escreve que “um setorista do Grêmio” o informou de que o técnico não treina determinados fundamentos, o que corrobora sua tese de que há “ócio no comando”. Adalberto Preis contestou matéria do mesmo veículo, dizendo que não deu determinadas declarações a outro “jornalista”, o qual teria escrito algo inverídico. O superior do "jornalista" tomou as dores e, ao invés de apresentar provas do exposto ou até mesmo retratar-se, saiu-se com um lacônico “o repórter assegura que ele falou”. Então tá.
- Pérola máxima da semana, para desmistificar qualquer neurose. Brasil empata com o Chile, com Vargas sendo o destaque do jogo e anotando um lindo gol. O mesmo veículo publica em sua página oficial no Facebook uma imagem com a frase “Vestindo vermelho, Vargas marca”. Cerca de 20 minutos depois, retira a postagem e a substitui. Mesmo sendo o destaque do jogo e marcando um golaço, Vargas recebe nota 7 na avaliação. O atacante do co-irmão recebe nota 5 por ter cavado um escanteio. O ato é auto-explicativo, nem vou comentar.
- E por último, como não poderia deixar de ser, a fantástica notícia de que o remendão foi considerado como um dos 5 estádios mais imponentes do mundo (???????). Parei por aqui, não dá mais.
Verbal Kint, o bandido aleijado que sobrevive à chacina no navio, colabora com a polícia contando toda a história. Mas se nega a descrever o rosto de Keyser Soze, alegando que não o viu. O policial não acredita e diz para ele que o tal Keyser Soze não existe, é só uma lenda, pois ninguém o viu até hoje. Então Kint retruca: "O maior truque do diabo foi convencer o mundo de que ele não existe".
Esta frase, originalmente atribuída ao poeta francês Charles Baudelaire, resume bem a ótica daqueles que ainda insistem em achar que não há agenda negativa, jornaleiros com má intenção, imprensa parcial dizendo-se isenta e campanha de desgaste de imagem. Apenas para efeito informativo, o direcionamento da imprensa foi um dos pilares do 3º Reich. Se os eventos desta semana ainda não convenceram esse pessoal da verdade, então não tem jeito mesmo. Eles caíram no truque do diabo.
Saudações Imortais
Saudações Imortais