15 de dezembro de 2017

Avalanche Tricolor: ser gremista era o seu destino!


Por Milton Jung




Direto de Abi Dhabi


IMG_0063


Um dos meus guris – o mais velho – apareceu na televisão com cara de sofrimento em cena flagrada logo após o fim do tempo normal e o início da prorrogação, em Al Ain. Era a cara da nossa torcida naquele instante de dúvidas sobre o destino do Grêmio no Mundial. Pena não terem mostrado os olhos dele com lágrimas e o sorriso no rosto que vieram assim que Everton entortou os zagueiros mexicanos. Era a cara do nosso torcedor naquele momento, tomado pela certeza de que havíamos garantido presença na final, sábado, em Abu Dhabi.
  
A imagem do Gregório chegou aos amigos, foi comentada em rede social e virou tema de uma das entrevistas que concedi a colegas de rádio e televisão, desde que cheguei aos Emirados Árabes. Para mim, já registrei isso em Twitter, é a revelação de que criei, sim, um gremista, mesmo que tenha nascido distante de Porto Alegre.


GREGORIO

Ao lado dele, no estádio em Al Ain, estava o irmão mais novo, o Lorenzo. E esse não teve sua imagem registrada, talvez pelo olhar sereno que busca manter diante de todas as situações, mesmo as mais difíceis. Mas eu o assisti aplaudindo o Grêmio, sorrindo nos lances mais bonitos, lamentando as bolas desperdiçadas e comentando as nuances do jogo. Seja por força da profissão – é técnico de eSports – seja por personalidade, sempre foi mais comedido nas emoções. Contido, mesmo que no coração bata todo tipo de sentimento. E eu sei que bate forte.

Durante o próprio jogo, registrou no Twitter a sensação de assistir ao Grêmio no Mundial:

LORENZO 1


Foi, porém, uma outra mensagem dele, escrita já na madrugada pós-jogo, na conversa frequente com os amigos e seguidores, que me chamou atenção:
  
LORENZO 2


“Tento ser”, escreveu, sem saber que já é gremista desde que era um piá de calça curta.

Tomara que seus colegas de organização, mais adeptos as conversas dos esportes eletrônicos, jamais leiam esta Avalanche, pois vou ser inconfidente agora e revelar imagem que não se enquadra com àquele treinador que trabalha diariamente com eles.
  
Em 2005, na maior de todas as batalhas que já conquistamos, a dos Aflitos, meu guri estava com apenas seis anos e o futebol não fazia parte de sua vida. Estava no videogame enquanto o pai sofria diante da televisão assistindo ao jogo no Recife.

 Com a atenção chamada pelo meu desespero, no instante em que o árbitro assinalava mais um pênalti contra nós e expulsava um jogador após o outro, ele e o irmão vieram correndo para o quarto onde eu estava. Tentavam entender a dimensão do drama que estávamos enfrentando. Com a voz e as palavras que me restavam contei a eles e recebi o abraço dos dois em solidariedade. Ficaram ao meu lado assistindo a cada um daqueles momentos épicos que registramos na história. E no apito final comemoraram o título e a ascensão comigo.
  
Depois de pular pela façanha alcançada, olho para trás e encontro meu guri menor, esse que diz que está tentando ser gremista, abraçado em um dos cachorros que temos lá em casa. Estava aos prantos, emocionado pela nossa vitória e pelo êxtase que o pai vivia.

Portanto, Lorenzo, não precisa tentar, não: seu coração já foi ferido em azul, preto e branco desde aquele tempo. Agora, não tem mais volta. Por mais que você esconda da gente, vai sofrer ao nosso lado tanto quanto deliciar-se com as emoções que o Grêmio proporciona.

Sábado estaremos os três no alto das arquibancadas do Zayed Sports City Stadium, em Abu Dhabi, seguindo o que o destino nos ofereceu: ser gremista!