16 de fevereiro de 2015

O vestibular de Felipão e o torcedor Regina Duarte

*Texto do leitor Jonas Bernardes Silveira

É do blog Corneta do RW a definição de " Torcedor Regina Duarte", em alusão à
profética campanha política de José Serra na qual a atriz global diz “ter medo” de Lula e do PT. O Torcedor Regina Duarte é o que decreta o rebaixamento gremista em fevereiro, decreta a queda na Copa da Brasil para equipe de Série D.
Eliminar o Grêmio por decreto é uma das atitudes mais criticadas da ivi, é também uma das principais críticas a respeito de Paulo Sant’Anna, que sempre foi um dos primeiros gremistas a soar as trombetas do Apocalipse, muitas vezes precocemente, muitas vezes sem necessidade.
O problema do Torcedor Regina Duarte não é a opinião que manifesta, mas sim a falta de memória e a cegueira que estão associadas a essa opinião. Esquecem que o Grêmio é sempre o primeiro candidato ao rebaixamento em fevereiro, todos os anos os “analistas” prevêem que o Tricolor não sustentará a campanha do ano anterior, sempre por que “falta qualidade”, por vezes a previsão da queda é prorrogada até o início do Brasileirão, quando o tradicional começo trepidante do Grêmio dá início à missa de sétimo dia. E a torcida, empurrada pelos corneteiros de plantão, se fantasia de Regina Duarte.

Enquanto o torcedor espera pra ver um time e analisa o time como se isso fosse, Felipão está fazendo Vestibular. Na coletiva pós-jogo contra o Brasil ele disse com todas as letras que está lançando e avaliando os atletas pra decidir quem fica, que está se preparando pra definir o grupo gremista, sabedor de que precisa de reforços, e, mais ainda, de quais reforços precisa. O Grêmio inclusive já está atrás dos reforços, mas não quer repetir os erros com Kléber, Edinho e Fernandinho. Não quer pagar uma fortuna pra alguém que pode estar encostado em seis meses.
O torcedor que ouve da boca do treinador que o grupo está nessa fase de preparação e ainda exige resultados imediatos está de sacanagem. Não tem outro termo.

Quem não sabia que era essa a situação agora foi avisado oficialmente por Felipão, que interrompeu uma pergunta na coletiva pra falar com o torcedor gremista.
É perceptível a diferença entre o que o treinador está fazendo e o que o torcedor pensa que ele está fazendo. O torcedor critica, por exemplo, a saída de Júnior; mas esquece que Marcelo Oliveira foi contratado pra lateral esquerda e ainda não tinha jogado por ali, e que Walace ainda não tinha estreado. Se Felipão estivesse escalando o melhor time do Grêmio para dar sequência, Júnior teria seguido como titular. Contra o VEC, mais uma vez se percebeu a aparentemente desnecessária troca entre MatíasGalhardo, tudo parte de um processo de avaliação que pode terminar com o jovem Raul ganhando oportunidades por ali. Pedro Rocha ganhou oportunidade e, para variar, entrou bem no jogo. Cada vez mais o grupo aponta pra um meio campo de garotos, coisa que Felipão tem receio de escalar por conta dos tradicionais clichês do futebol, de que é necessária a presença de veteranos em todos os setores da equipe. Não por acaso, são eles que estão prejudicando o time em campo.

O trio de meias novamente foi alterado. É provável que siga sendo alterado até que Felipão tenha testado todos os jogadores de todas as formas que deseja. Não me surpreenderia se até o sistema fosse alterado, como já foi desde o início da temporada.
Eventualmente Araújo vai voltar a ter condições legais, e é bem possível que a dupla de volantes seja alterada várias vezes até que Felipão decida entre Marcelo Oliveira, Fellipe Bastos, Ramiro, Araújo e Walace.

Enquanto o Grêmio faz seu Vestibular, enfrenta equipes que jogam juntas há anos e treinam desde novembro ou dezembro, equipes que já definiram seu estilo de jogo e seu grupo, que tem como única preocupação fazer o crime. O Brasil de Pelotas, por exemplo, já tem time, esquema, e estratégia seguida à risca pelos jogadores, tudo testado e provado. O Grêmio não está nessa fase.
Tudo indica que a definição de time  vai ocorrer durante o próximo mês, com o retorno dos lesionados e a chegada dos reforços. Aí sim o treinador vai poder fazer o simples e escalar o que temos de melhor, com a devida sequência. Enquanto não houver repetição não teremos time, e os resultados seguirão parecendo um eletrocardiograma. Após a partida contra o Veranópolis, a coletiva do presidente gremista dá indícios de que o Grêmio vai buscar três atacantes e um meia. Fala-se na
saída de Douglas, um experimento sem risco que deu muito errado. Fico feliz de ouvir que estamos olhando pra fora do país na busca de reforços, pois está feia a coisa no mercado nacional.

Quem critica peças específicas nesse momento, querendo avaliar jogadores sempre pelo que fazem de pior, está fazendo um desserviço pro Grêmio. Fevereiro não é o momento ideal pra definir o futuro de um time nem a capacidade de um atleta. Só pra não dizerem que “acho tudo lindo”, apesar de eu não estar dizendo que não vou criticar o time caso a pasmaceira atual persista em abril, vou manifestar minha principal preocupação pessoal. Por mais que Felipão esteja testando o time e isso
prejudique a parte técnica e tática, a parte física não tem relação com isso. A impressão de momento é de que está faltando perna pros jogadores, e isso sim é preocupante. Não estou dizendo que fico preocupado por corrermos menos que o Brasil ou VEC, isso é natural por conta do momento, mas me preocupa que no final dos jogos não estávamos correndo. Trocamos de preparador físico, e perdemos um profissional muito bom. Qualquer que seja o time, a única coisa que pode prejudicar o Grêmio definitivamente é não ter perna aos trinta minutos do segundo tempo. Isso sim me dá medo.