Passada a ressaca já dá para fazer uma análise mais fria do que ocorreu domingo. De domingo para segunda não foi uma boa noite de sono. Geralmente de domingo para segunda nunca são boas noites de sono, mas desta vez a insônia fazia pensar no jogo e nas causas do resultado.
O
Grêmio vinha de jogos empolgantes contra o Veranópolis, contra o Juventude e no primeiro tempo do jogo contra o Iquique. E vinha de um grande resultado com os reservas no Paraguai, onde poderia ter vencido. Aliás, se tivesse jogado com os titulares em Assuncion e empatado seria exaltado pelo ótimo resultado. Mas isto é outra história.
Então, como explicar as duas partidas contra o Novo Hamburgo sem vitória?
Pois eu acho que há uma razão de campo e uma fora dele.
A explicação de campo é mais simples e pode ser feita antes. O Novo Hamburgo encaixou seu jogo contra o
tricolor. Isto acontece. Não é raro um time ganhar bem de quase todos e empacar quando ninguém espera. Por que? Simples: este time tem uma forma de jogar e de se movimentar que encontra os caminhos em que o
Grêmio tem suas melhores virtudes.
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Agora guarde esta afirmação acima que vai ser usada mais embaixo.
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Vamos antes para a segunda razão do fracasso, na minha opinião.
Os mais velhos sabem do que falarei. Os mais novos perguntem ao avô, ao pai e entenderão.
O
Grêmio tem historicamente uma relação de ódio com a Federação Gaúcha de Futebol. Ódio sim.
Na década de 70, depois do
Imortal ganhar 12 títulos em 13 anos, instaurou-se um feudo na FGF. Primeiro entrou o Hoffmeister, pseudo cruzeirista, mas colorado na vida real que ficou anos à fio mandando e desmandando. Pior do que ele foi quem ele colocou para comandar o quadro de árbitros: um colorado fanático. Com ele surgiu o tristemente famoso trio ABC (Agomar, Barreto e Cavalheiro). Vocês acham ruim o Vuaden? Sabem nada inocentes.
Mas aquelas eram épocas em que as glórias eram apenas regionais e mesmo odiando o campeonato gaúcho havia enorme esforço para ganhá-lo.
Houve depois um curto período em que três cruzeiristas mandaram na federação. Não por acaso, com predominância de vitórias tricolores.
Depois surgiu o Perondi na FGF, um colorado que não fazia o menos esforço para disfarçar suas preferências. E depois, cansado, ele saiu mas cuidou de por este cara que está aí. Ilegalmente, diga-se de passagem. O artigo 31 do estatuto da federação é muito claro: seu presidente não pode ser conselheiro de nenhuma instituição associada. Mas para que seguir a lei neste país das falcatruas?
Mas sigamos. Enquanto isto o
Imortal ganhava o mundo. Campeão do Brasil, campeão da América, campeão mundial, Rei de Copas, etc. Quando se chega a este patamar, brigas domésticas dão enfado. Quando se chega a este patamar obrigações domésticas incomodam, irritam. O campeonato gaúcho não é mais do que isto: uma obrigação doméstica. Joga porque é obrigado jogar.
Junta então a disputa, por obrigação, de um torneio que não vale nada e que, para piorar, é comandado há décadas pelo principal adversário. E junta ao molho uma imprensa esportiva controlada quase totalmente por colorados engajados que não estão nem aí para coisas como credibilidade e respeito à verdade. Só besta para se estressar.
Então entra ano e sai ano tem sempre esta inhaca de início de ano: juízes tendenciosos ou pressionados a agradar o chefete, jogos em campo de plástico com temperatura superficial próxima de 100 graus. Acrescenta um "errinho" aqui, outro errinho ali e está pronta a encomenda.
Gremista odeia este campeonato de cartas marcadas. Joga porque é obrigado a jogar. E por odiá-lo não sabe como jogá-lo.
É só olhar a história das derrotas e eliminações. Sempre tem uma desatenção, um "erro estratégico", uma razão extra-campo.
Um ano surra-se o cocô-irmão na própria casa e se entra mole no
Olímpico permitindo a virada. No outro ano se põe reservas na semifinal porque daria para reverter em casa.
A maior parte da torcida, eu incluído, advoga o uso de sub-20 para desmoralizar de vez o que já desmoralizado está. Se dependesse da grande maioria da torcida a taça seria entregue para qualquer um sem remorso.
Mas todo ano é igual. Em alguns anos se inicia com reservas e no final estão lá os titulares tentando ganhar o que ninguém quer ganhar. Claro que com este espírito as coisas dificultam. E como consequência, na maioria das vezes perde-se o título e se dá margem para que os engajados de lá e os oportunistas de plantão do lado de cá saiam para as ruas com as cornetas em alto volume. Este é o erro cometido todos os anos.
Mas este ano foi pior. A direção resolveu que queria ganhar esta merda. Eu até entendi as razões. Ganha o único torneio que os falidos do Remendão Pataxó podem ganhar e joga os caras numa depressão sem saída. Entendi e não concordei.
Não concordei mas torci para que desse certo. Afinal, já que foi esta a decisão vai com tudo para não dar erro. E foram. Foram com tudo a ponto de escalar os reservas na Libertadores. Errado? Não. Um risco calculado que deu certo. Time reserva jogou muito e não ganhou por detalhe.
Mas aí, meus caros, não contavam com o fator principal:
odiamos este torneio vagabundo. Não damos a mínima importância para ele. Não nos importa ganhá-lo. Não acrescenta nada ao currículo.
Ou alguém de vocês sentiu aquele frio na barriga que se sente antes das decisões? Ou sofreu com a ansiedade pré apito inicial? Alguém roeu unha? Perdeu o apetite ao meio dia?
E depois do jogo? Por que a irritação e a desilusão? Pelo valor do que foi perdido? Será?
Eu senti apenas uma tristeza muito grande ao pensar na decepção que deveria estar sentindo o Arigatô. Nenhuma outra razão me fez sofrer.
Claro que não. Óbvio que não. Por que então os jogadores entrariam a 110 % para ganhar?
Eles quiseram perder? Nunca! Entraram moles? Jamais! Não correram? Correram muito até.
Mas jogador anda pela cidade. Tem twitter. Tem facebook. Lê jornal. Olha tv. Descobre o que é e o que não é importante para o torcedor. E acaba incorporando.
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Qual foi o problema então? Simples.
Volta lá no início do post onde é dito que o Novo Hamburgo encaixou o jogo contra o
Grêmio. Foram três partidas contra eles sem vitórias.
Temos então, de um lado um time que encontrou um jeito de parar o
tricolor e de outro os jogadores que queriam ganhar mas não compraram a ideia de que era imprescindível ganhar. Como consequência não entraram com aquela gana que leva à atenção total e completa. Atenção que faz render o máximo e que leva a superar obstáculos difíceis. Atenção não total leva a tomar gol bobo de rebote ou de escanteio.
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Foi simplesmente isto. O que veio depois e vai continuar aparecendo, de cabeças retardadas e de elementos da imprensa só deverá ser comprado por bocós que acreditam em tudo que lêem e ouvem sem capacidade de filtrar o joio do trigo.
Renato perdeu o vestiário? O time está esfacelado? Acabou a era Roger? As contratações elogiadas até uma semana atrás agora viraram ruins e nenhuma presta? Sei. Está na hora de trocar treinador? Sei.
Se você é otário está feliz. Tem diagnóstico e explicação de todo o tipo. Faça bom proveito. Continue dando ibope e emprego a quem não faz outra coisa que não tentar ferrar o
Grêmio.
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Não há erros então? Claro que há. O primeiro foi terem valorizado desproporcionalmente este torneio viciado e controlado pelos bandidos há quase 50 anos. Sim queridos. Faz quase 50 anos que a FGF é controlada por colorados.
E há os problemas do time. Ou há um problema no time. Douglas está fora. Renato e a direção tem de achar uma solução. No grupo ou fora dele.
Porque se viu nas partidas das semifinais: se um time se fecha bem e tira os espaços, falta o toque de genialidade para abrí-los.
O resto é desconhecimento, mau caratismo ou burrice pura e simples. Compra quem quer. Assim como sempre tem quem compra terreno na lua.