24 de abril de 2017

Avalanche Tricolor: “nos pênaltis, ora bolas!”

por Milton Jung

Novo Hamburgo 1x1 Grêmio
Gaúcho - Estádio do Vale/Novo Hamburgo


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Barrios marca o gol do Grêmio, reprodução de imagem da SPORTV

Porto Alegre foi onde estive nesses últimos dias, após uma rápida estada em Gramado, interior do Rio Grande do Sul. Cheguei de lá na noite deste domingo quando o Grêmio já estava em campo decidindo uma vaga à final do Campeonato Gaúcho.
Estar com a família, relembrar histórias das quais fomos protagonistas juntos, entender como cada um de nós chegou até aqui e perceber que fomos feitos de alegrias e tristezas, sendo que ambos sentimentos deixaram suas marcas, tornaram esses dias intensos ao lado de minha irmã e meu irmão, e junto com minha cunhada e sobrinhos.
 Rever o pai, então, é sempre uma sensação única. Gosto de abraçá-lo fortemente para agradecer pela sua presença entre nós e, em especial, para deixar nele a certeza de que tudo que vivemos até aqui valeu a pena, independentemente do que tenhamos enfrentado no passado.
 Até porque naquele passado, filhos e pais nem sempre se abraçavam e se beijavam com o desejo que esta relação sempre mereceu. Sei lá, parece que rolava uma timidez, uma vergonha sem explicação de dizer o quanto te amo. Coisa de adolescente, talvez.
 Verdade que o pai sempre se esforçou para mostrar isso para mim. Eu só não entendia.
 Quando eu chegava tarde em casa, ele me esperava acordado, fumando um cigarro atrás do outro, sempre imaginando que o pior poderia ter acontecido. Sobrava bronca pra todo mundo. Eu achava desnecessário e desconfortável. Hoje percebo tudo isso com maior nitidez: era apenas amor.
Ao lado dos campos de futebol e das quadras de basquete, onde tive o prazer de representar o Grêmio por anos a fio, ele sofria desesperadamente, esbravejava contra o juiz e dizia palavrões desajeitados. Tiveram cenas hilárias, como o dia em que correu atrás do árbitro, cansado de tanto vê-lo apitar contra nós. Que vergonha! Vergonha, nada! Era apenas amor.
Naqueles tempos, abraços intensos e desavergonhados só mesmo quando assistíamos aos jogos do Grêmio. Eram momentos em que parecíamos ter a mesma idade. Socávamos as cadeiras azuis do Olímpico a cada lance desperdiçado. Saltávamos efusivamente para comemorar nossos gols. Os títulos mereciam celebração especial que se iniciava no estádio, seguia com a gente pelas escadarias até o vestiário e se estendia pelo caminho de volta a nossa casa, que ficava bem pertinho dali.
Diante do revés, ele voltava a ser meu pai. Pois era quem sabia me consolar, usando às vezes a razão outras apenas a ilusão para explicar os motivos de uma derrota. Nem sempre havia coerência na justificativa, mas ele insistia naquela história para não ver seu filho triste. Era mais um sinal de seu amor.
Hoje, voltei para São Paulo e, depois de um abraço bem apertado, deixei o pai lá em Porto Alegre antes de a partida se iniciar. Precisávamos vencer para estar na decisão. Nem que fosse nos pênaltis. Repetimos os feitos (ou defeitos) do primeiro jogo da semifinal quando saímos na frente e não foi necessário muito esforço do adversário no ataque para entregarmos o empate. Jogamos fora a possibilidade de classificação em pênaltis mal cobrados.
Estivesse aqui ao meu lado, em São Paulo, arrisco dizer que o pai encontraria uma desculpa qualquer para não me ver abatido com a desclassificação. Talvez tentasse me convencer que mais importante é conquistar a Libertadores.
 Eu sei, pai, mas nós sempre queremos ganhar todos os títulos que disputamos.
Quem sabe, me lembraria que somos os atuais campeões da Copa do Brasil, o Rei de Copas, título nacional de muito mais destaque do que um regional.
 Você tem razão, pai, mas eu ando com saudades de um título gaúcho. E você, também.
 Ora bolas, mas só perdemos nos pênaltis! - tentaria uma última cartada.
 É, ele é assim mesmo: para me consolar, o pai não desiste nunca. É amor, eu sei!