As recentes campanhas do Grêmio têm sido motivo de grandes apreensões para a torcida tricolor. Os resultados de campo não encontram justificativa no contexto no qual estamos inseridos: somos um dos maiores clubes do Brasil, com grande tradição no cenário esportivo e temos uma torcida numerosa, acostumada a dar enorme respaldo ao time. Porém, a gênese da realidade vivenciada hoje pode ser identificada se olharmos para o passado, tanto por uma perspectiva de curto quanto de longo prazo.
No presente e no passado recente, observam-se equívocos marcantes na condução do futebol, os quais se materializam na ausência de conquistas expressivas nos últimos anos. Sob a outra perspectiva, mirando longe na linha do tempo, constata-se que nos últimos 11 anos, quando as receitas se multiplicaram 10 vezes, o clube foi incapaz de estruturar-se para equacionar seus fluxos financeiros. Como resultado, convivemos corriqueiramente com déficits de grande magnitude, que transformaram o sobressalto em parceiro quotidiano da vida administrativa da nossa agremiação.
Estes fatos pedem uma reflexão sobre como foi conduzido o clube na última década. Nela, o futebol passou por profundas transformações. Alguns atores buscaram e obtiveram posicionamentos mais favoráveis na mesa de negociação, avançando sobre fatias cada vez maiores do crescente bolo financeiro gerado pela atividade. Muitos clubes, porém, exerceram e continuam desempenhando o papel de meros repassadores dos ganhos obtidos para outras mãos.
Este panorama parece ser claramente visível, quando se olha para o nosso clube. Um exemplo é a folha de pagamento do Grêmio. Ela não pode ser considerada barata, tendo por base qualquer parâmetro de comparação do futebol brasileiro. Contudo, os resultados obtidos têm sido pífios.
Assim, parece-nos que a crise técnica pela qual passa o time e os números mostrados nos balanços patrimoniais são frutos de uma mesma forma equivocada de pensar. Temos uma cultura e uma prática administrativa ultrapassadas. Linhas se argumentação calcadas no 'sempre foi assim' ou no 'é assim que funciona' não mais se sustentam. Quem as usa perdeu o trem da história e muito pouco sabe do tudo que pensava saber sobre o mundo do futebol.
O Grêmio precisa, urgentemente, mudar o seu paradigma de gestão. A contratação de profissionais para áreas chave do clube é um passo importante, mas não frutificará se não contar com o apoio de um sistema gerencial forte. O Grêmio precisa de um choque de gestão. Precisa, por exemplo, definir políticas claras na área de contratação de atletas. O Grêmio precisa de um arsenal de controles internos. Em sentido amplo, o Grêmio precisa de um banho de governança.
Sem isso, continuaremos a reproduzir os erros do passado, conduzindo o clube em ciclos personalistas, num contínuo recomeçar que consome energia, desperdiça recursos, alimenta egos e apresenta ao torcedor apaixonado um time incapaz de despertar e nutrir a paixão que impulsiona o clube para a frente.
As soluções para os urgentes problemas estruturais e orçamentários demandam tempo, competência e desejo de fazer, mas precisam ser buscadas desde logo. Engana-se quem possa pensar que eles desaparecerão, num passe de mágica, com a inauguração da Arena.
Já a reconstrução do time passa pelo sucesso de medidas que visem mudar o ânimo do vestiário.
Por fim, o Conselho de Administração precisa passar a atuar plenamente em forma de colegiado, conforme prática corrente em organizações com igual grau de complexidade e conforme sugere o Estatuto do Clube, inclusive no trato dos assuntos do futebol, despersonalizando este importante e nevrálgico Departamento.