16 de junho de 2014

Daniel Matador: Todos os homens do Presidente

“Não fale em sorte. Fale em fatos ou cale-se!”

Robert Redford, interpretando Robert Woodward, no clássico Todos os Homens do Presidente.

Caros

A Copa do Mundo começou no Brasil e em Porto Alegre também. Seu Algoz postou nos últimos dias algumas imagens das nababescas estruturas fixas e temporárias disponibilizadas para as partidas a serem realizadas em nossa mui leal e valerosa capital gaúcha. Pois ontem também saiu uma nota na imprensa sobre uma situação que relataremos neste post. Sim, saiu apenas uma pequena nota e que não trazia nada sobre a informação que realmente fazia sentido para o verdadeiro jornalismo investigativo pesquisar e publicar.

Em 1976 o diretor Alan Pakula e o roteirista William Goldman montaram aquele que pode ser considerado como o filme que maior retrata o estudo das teorias do jornalismo contemporâneo. Mais do que um clássico de suspense baseado em fatos, é uma verdadeira aula de jornalismo investigativo. A história é baseada no escândalo Watergate, responsável pela renúncia do presidente americano Richard Nixon. Pode-se dizer que o trabalho de dois repórteres foi o responsável por derrubar o presidente da principal nação do planeta. Na ocasião, Robert Redford e Dustin Hoffman interpretaram os papéis que na vida real eram de Robert Woodward e Carl Bernstein, os míticos repórteres do Washington Post.

Alguns meses antes da reeleição de Nixon cinco invasores, identificados como assaltantes, foram detidos no edifício Watergate, onde funcionava a sede do comitê eleitoral do Partido Democrata. Este episódio mereceu apenas algumas linhas nos jornais. Só que os invasores eram ligados à CIA e ao FBI, tendo sido pegos com câmeras e microfones. Nada disso, em princípio, interferiu na reeleição de Nixon. Só que Woodward e Bernstein desconfiaram que o próprio presidente estivesse envolvido no caso. Não interpretaram aquela invasão como sendo apenas um simples caso policial e viram que ali havia muito mais. A partir daí o filme mostra o esforço e os méritos de dois profissionais em busca da verdade na solução de um caso extremamente obscuro. Verdadeiros jornalistas que questionaram os fatos e correram atrás da notícia. Valendo-se de fontes, pessoas, escutas e outras ferramentas, nota-se ali o verdadeiro profissionalismo dos diferenciados. Inclusive vê-se ali o cuidado com o texto a ser inserido no jornal. Em virtude do trabalho e das denúncias de ambos, em 1973 começaram as condenações dos funcionários do governo Richard Nixon que planejaram, autorizaram e financiaram o assalto. E a renúncia do presidente, para evitar um quase certo impeachment (a primeira e única renúncia de um presidente americano em 200 anos de democracia) ocorreu em agosto de 1974.

Pois isto não acontece aqui na província. As redações estão entupidas de elementos que só sabem pesquisar na internet e não levantam da cadeira. Não têm fontes, não tem contatos, não sabem sequer escrever. Há algumas semanas, uma equipe da Band de São Paulo teve de vir aqui para mostrar algo que todo mundo já desconfiava ou sabia: o estreito relacionamento entre uma conhecida torcida rubra e barra-bravas argentinos que viriam para a Copa em Porto Alegre. E descobriu-se mais, pois evidenciou-se a questão da troca de armas e drogas por favores. Um escândalo que nenhum jornalista local teve capacidade para mostrar antes, mesmo estando debaixo de seu nariz.

Eis que ontem saiu esta notinha na imprensa:



Esta seria uma informação digna de constar, talvez, na coluna social do jornal. E ainda assim estaria incompleta. Só que um verdadeiro jornalista, um profissional que tem fontes ou ao menos desconfia do que pode estar por trás da notícia, este deveria perceber o que há além do que está escrito. Algo que nós aqui no Imortal Tricolor temos feito ao longo do tempo. E temos dado de relho nos incompetentes. Para saber quais são eles, basta ver os jornalistas que ficam mordidos com o que sai aqui de forma exclusiva e atinge repercussão. Sem contar que temos de postar apenas parte do que temos, a fim de proteger fontes e não comprometer pessoas.

Os tais VVIP’s citados na notinha do jornal são, realmente, membros da Fifa, autoridades e afins. Eles deslocam-se em voos particulares e têm recepção especial no aeroporto e hotéis. Só que a recepção que têm é por demais especial. Nossa investigação teve acesso a pessoas responsáveis pela segurança da Copa em Porto Alegre e colheu revelações exclusivas. Não, não estamos falando do guardinha da catraca. Falamos com autoridades de alto escalão. Gente que recebe ordens do altíssimo escalão. E aí descobrimos o verdadeiro escândalo que a imprensa não noticiou: todos estes convidados da Fifa que chegam em voos particulares não necessitam passar por revista de segurança no Aeroporto Salgado Filho. Ordens vindas diretamente do alto comando da segurança da Copa. Ordens essas acatadas pelo governo e repassadas para os órgãos de segurança responsáveis.

O que isto significa? Qualquer um que desembarque aqui por este sistema pode trazer o que quiser em sua bagagem. O conteúdo entrará sem qualquer problema em solo gaúcho. Drogas, armas, dinheiro para ser lavado ou mesmo evasão de divisas. Crimes cometidos com a conivência das autoridades locais em nome da realização da Copa do Mundo. E de acordo com as orientações da entidade máxima, a Fifa. Uma organização que é conhecida justamente por ter em seus quadros membros que respondem ou fazem parte de grupos que respondem por ações semelhantes em outros países. Sem contar, naturalmente, as contrapartidas que as autoridades locais recebem por compactuar com estas atividades durante este período. Nesta época, todos os homens do presidente possuem salvo-conduto.

Para o bem de todos é melhor talvez, entender este post como sendo uma peça de ficção. Uma triste peça de ficção. Vamos apenas curtir a Copa no Brasil.

Saudações Imortais