Morango assado
Venho aqui contar a historia de como comecei a torcer pelo nosso Grêmio, que tantas alegrias tem me dado.
Nasci em uma familia de colorados. Não apenas simples colorados, mas aqueles amargos, que antes de serem inter, são anti-GRÊMIO. Por azar, meu pai é o pior, o mais doente. Eu, como primogênito, ja era tido como certeza que seria colorado tambem, tanto que, no dia de meu aniversário de 5 anos, meu pai comprou um uniforme completo do time da beira da lagoa (meias, calção, camisa e até um bonezinho), para me dar de presente. Tudo oficial. Como morávamos em uma cidade do interior de Santa Catarina, ele pagou muito caro pelos produtos. Porém, como iria ser o primeiro uniforme de um futuro grande torcedor, então valeria a pena.
Para festejar o meu aniversário, meu pai marcou um churrasco para tios e primos e toda a parentada. Na festa, eram praticamente todos colorados. Gabavam o presente que meu pai todo orgulhoso exibia como se fosse bonito.
Porém, para minha sorte, uma única pessoa não era colorada no meio de todos aqueles em nossa casa: meu padrinho. Ele, talvez por brincadeira ou até imaginando algo de melhor para meu futuro, puxou uma camisa "alternativa" do Grêmio. Ainda com aquele patrocinio da RENNER bem no meio da camisa. Perguntou se eu queria de presente. Imagina só a briga, de palavras é claro, que começou naquele momento, todos criticando muito meu padrinho pela oferta. Mas ele se manteve firme e forte oferecendo a camisa para mim. No auge da discussão, ele disse novamente: "Guri, se quiseres, te dou a camisa, mas tem que se desfazer daqueles panos vermelhos que ganhou". Ninguém acreditou realmente que eu faria o que se seguiu, mas acho que a alma castelhana falou mais alto. De repente estava eu com os artigos coloridos na mão, em frente à churrasqueira com o fogo estalando de tão acesso. Sem pensar duas vezes, lancei as tranqueiras para dentro da churrasqueira e, todo contente, fui pegar meu presente verdadeiro daquele dia, que foi a camisa do Grêmio prometida para mim.
Porém, infelizmente, não calculei as reações adversas ao contar todo feliz meu feito. Meu pai foi conferir o que eu tinha feito e ao avistar o que era praticamente sagrado para ele em meio às labaredas, já foi me puxando pelo braço e me levou para dentro da casa. Sinceramente meus amigos, tomei a maior surra da minha vida. Tanto que me faz lembrar com detalhes todos os atos que antecederam aquela peleia. Fiquei uma boa parte do dia trancado em meu quarto. Lá pelas tantas, meu padrinho veio me pedir desculpas. Ele se achava culpado por ter me motivado a fazer aquilo. Eu so lembro que disse a ele que ele não tinha que pedir desculpa. Eu é quem tinha que agradecer por ele me ter feito virar gremista porque, depois de a camisa tricolor ter me encantado e eu ter me livrado daquelas tranqueiras vermelhas, a surra que tomei serviu apenas para me fazer pegar mais raiva do time de menor expressão. Ele, então, me deu a camisa prometida e a partir daquela data mais um gremista anda pelo mundo.
Essa é a historia de como comecei a torcer pelo Grêmio, esse time que tenho amado, vivido e sofrido por ele desde então. Até hoje sou visto como a ovelha negra da familia, mas já recrutei meu irmão mais novo para o tricolor também. Advinhem como o convenci? Entregando a ele a mesma camisa tricolor da Renner que ganhei naquele 27 de Outubro de 1995. Essa é minha História Imortal e que me orgulha muito.