31 de dezembro de 2011

Faltou a divulgação interna

O Grupo RBS anunciou, com bastante destaque, o seu "Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística". A cerimônia de lançamento das regras de conduta teve a presença do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto. Segundo descrito por veículos da RBS o guia é "um conjunto de orientações para servir de referência aos profissionais da área editorial da empresa com o objetivo de assegurar ao público informação independente e transparente e pluralidade de opiniões."

Transcrevemos alguns trechos do documento:

4.1.2. ACUSAÇÕES – Imparcialidade
Qualquer pessoa, entidade, empresa, governo ou organismo que sofra alguma acusação deve ser entrevistado e ter sua versão divulgada, quando possível, simultaneamente com a notícia. O espaço editorial deve dar visibilidade para a defesa, com destaque para o contraponto com o intuito de contemplar adequadamente a versão do acusado. Em caso de recusa de entrevista ou esgotadas todas as possibilidades de localização do entrevistado, tal informação deve constar da notícia.

4.1.12. INDEPENDÊNCIA
Os critérios para produção e distribuição de conteúdos jornalísticos devem estar voltados para o interesse do público a que se destinam. Interesses isolados de empresas do Grupo, de seus proprietários e seus dirigentes, autoridades, anunciantes, fontes ou profissionais não podem prevalecer na escolha de temas e na difusão de informações corretas.

4.1.13. INFORMAÇÕES EM OFF-THE-RECORD
A RBS divulga apenas informações − e não opiniões, insultos, acusações ou denúncias – em off-the-record (sem identificação da fonte). A fonte deve ser estimulada ao máximo a se identificar ao prestar informações. Se for feito algum acordo garantindo o off-the-record, a identidade da fonte deve ser preservada. A RBS não admite acordo para manutenção de informações em off-the-record que possam colocar vidas em risco ou favorecer atividades ilegais.

4.1.19. RUMORES
Rumores, boatos, documentos apócrifos, denúncias anônimas ou dossiês não são notícia, mas pontos de partida para a busca da informação precisa. Os jornalistas e comunicadores devem ter especial cuidado com informações e versões difundidas via internet.

4.2.6. ISENÇÃO
Ao elaborar uma notícia, o jornalista da RBS deve ter como única motivação divulgar, com precisão e equilíbrio, um fato de interesse do público. Quando o jornalista tiver algum tipo de envolvimento pessoal ou emocional com o fato ou com o entrevistado, deve declarar-se impedido de realizar a tarefa. Os profissionais da RBS não fazem acordos com colegas de outros veículos para divulgar ou não alguma informação.

4.2.8. PARTICIPAÇÃO EM JANTARES, ALMOÇOS E EVENTOS
A RBS paga as despesas de seus jornalistas, desde que o pagamento não configure um gesto deselegante ou resulte em constrangimento para quem formulou o convite. Sempre que possível, o jornalista deve informar a quem o convida, previamente e de modo cortês, que prefere pagar suas despesas. Recomenda-se ao profissional da RBS não participar, em serviço ou não, de almoços, jantares ou confraternizações de caráter político, entre os quais eventos relacionados a disputas em entidades de classe ou outros organismos.

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Quem acompanha este blog deparou-se, inúmeras vezes, com posts apontando ações de jornalistas da RBS e de outras empresas jornalísticas infectadas por preferências clubísticas e, sem usar meias palavras, por má fé (uso da palavra "infectadas" tem o intuito de reforçar o que identificamos como ação deliberada, com o intuito de prejudicar deliberadamente um ou de favorecer outro, de forma tendenciosa e doentia. O termo "eivadas" não traduziria adequadamente o que observamos). Isso, antes da entrada em vigor do dito Guia, cujo lançamento ocorreu em 8 de dezembro último.
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Algumas vezes, levantamos aqui no Imortal Tricolor nossa discordância com os valores pagos pelo Grêmio a alguns atletas. Registramos que o valor da folha de pagamento é exagerada, frente aos valores pagos pelo mercado, e defendemos mais responsabilidade e parcimônia no uso dos recursos do Clube, sob pena de estarem comprometendo a saúde financeira do nosso Tricolor. Paulatinamente, vê-se que as verbas pagas a alguns deles inviabilizam transferências até mesmo para clubes de SP e RJ, sabidamente detentores de maior poder financeiro.
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Na ZH de sexta-feira, o jornalista e editorialista Nilson Souza levanta acusação gravíssima, que joga suspeita sobre todas as pessoas dos clubes gaúchos envolvidas com a contratação de atletas. Diz ele (ZH, 30/12/2011, p. 45):

E os intermediários alcançam mais sucesso quando contam com a ajude de pessoas influentes nos clubes, em alguns casos mediante comissões. Aí talvez esteja a explicação para os valores astronômicos dos contratos”."

A acusação, que pode ser verdadeira, provocou indignação e desejo de ver maior transparência na informação em muitas pessoas, dentre as quais se destacou o Dr. Adalberto Preis, com forte cobrança à ZH através do twitter: "Quem, em clubes, recebe “COMISSÕES" para ajudar os intermediários a firmar contratos astronômicos? Urge apontar NOMES e FATOS".

Até este momento, o twitter oficial do periódico não respondeu publicamente aos pedidos de esclarecimentos dirigidos a ele.
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Disso resta-nos a certeza de que, espalhado aos ventos (imagina-se agora como mais uma peça de marketing), a RBS pecou na divulgação interna dos princípios do "Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística". Mesmo os editorialistas parecem não seguir tais princípios, haja vista que diversos deles (reproduzidos acima) podem ser considerados atropelados pela coluna citada.

Assim, resta-nos saber que em 2012 seguiremos vendo a conhecida prática do uso de espaços para produzir agendas positivas e negativas, lá e cá, e, certamente, a manutenção do famoso "jantar das segundas-feiras" (Guia, 4.2.8).