21 de outubro de 2011

A sogra e a Viúva




A culpa é do Grêmio - Parte I

Segue a primeira parte do post prometido do Felipe.










Prólogo Para Antecipadas Desculpas

O seu Algoz, talvez percebendo meu transtorno obsessivo compulsivo, nos últimos meses, pelo imbróglio que acabou por opor a Arena gremista ao eterno projeto Remendo Para Sempre como sedes em disputa para a Copa do Mundo e, antes, para a finada Copa das Confederações, solicitou que eu preparasse um texto “post mortem”. E, para o bem ou para o mal, muita gente e muita coisa morreu. Inclusive, de morte súbita, feneceu o primeiro texto que havia praticamente preparado, por assim dizer, por “encomenda” para este honorável Blog, diferentemente das contribuições anteriores, surgidas no melhor estilo “tempestade de idéias”. Só que ele não resistiu ao turbilhão de informações das últimas horas. E, diz o ditado, nada mais velho que uma notícia de ontem. Não era uma obra prima, mas se reportava a um cenário de probabilidades diferentes e estava acompanhado de referências e ilustrações que julgava importante inserir. Como, só para variar, já estava bastante laudatório, vi-me na obrigação de refazê-lo em pouquíssimo tempo, recortá-lo e – acreditem – resumi-lo. E todos sabem que um texto remendado e encolhido, ainda mais feito às pressas, não é como um texto bem construído e atual como um estádio padrão UEFA elite. De qualquer modo, termos de compromisso assumidos são dívidas e devem ser pagas, mesmo que seja só um segundo antes de virar abóbora.

A Culpa é do Grêmio!

Coloquemos na boca dos amargos e isentos de uma vez e assumamos. A culpa da perda da Copa das Confederações foi do Grêmio.

Vou explicar. O fato novo que redirecionou a percepção sobre o assunto não foi a aparente surpresa de passar-se a considerar a Arena como “plano B” para a Copa, o que desde já a converte, em que pese o desesperado e ilimitado furor amargo, em “plano A” ou exclusivo. O que nos seduz, agora, a tripudiar: “se a Copa não for na Arena, então não será em Porto Alegre”. A surpresa se estabeleceu pela rapidez com que essa verdade foi admitida por quem tinha a devida autoridade para tanto e mesmo por parte de alguns dos porta-vozes semi-oficiais e representantes oficiais do povo do RS que se uniram em conserto de dimensão inédita para favorecer o interesse privado moribundo de um clube e sabotar, com todos os instrumentos à mão e outros engendrados, o que lhe é adversário. E, aí, a primeira e saborosa grande mentira desfeita: as sedes podem ser mudadas, sim. Jornaleiros que falavam por esta obscura, distante e despersonalizada entidade chamada FIFA cometiam um estelionato informativo, um autêntico crime de falsidade ideológica.

Dou exemplos ilustrativos e máximos. Ainda anteontem, o insuperável WC – desculpe por sujar o texto – chamava os torcedores gremistas de neófitos, parvos, imbecis, por sustentarem que a FIFA poderia e deveria lançar mão da Arena, para salvar a Copa das Confederações - CF. Na manhã de ontem, o isento da RBS enviado para cobertura da divulgação das sedes do mundial, Sérgio Boaz, intervinha para assegurar, depois de entrevistar representante do COL, que este não havia jamais cogitado a Arena nas Copas. Só que – observe-se o nível de delinqüência! – escondia o mais importante, argumento sempre repisado pelos gremistas, e que simplesmente desmentia a informação propositadamente truncada: o COL só não poderia aceitar a indicação da Arena porque o Comitê municipal da Copa, leia-se João Bosco Vaz – e nosso prefeito conselheiro gremista -, nunca fizera esta indicação. Por labor e irresponsabilidade deste, em especial, a serviço do SCI, a cidade e o estado arcaram com o prejuízo da perda da CF. E, notem só, ainda no dia de ontem, a AG, isto mesmo, a AG, singular parceira do SCI, divulgava mensagem em que, ao mesmo tempo que negava a proximidade de um acordo com o Inter, dizia, para quem quisesse ler, que a escolha da CF e da CM era uma deliberação do COL e não, diretamente, da FIFA, como nossos isentos, com rósea generosidade, sustentaram por meses. Alguém precisa de sinal mais explícito da intenção da AG de se livrar do mico?

Tudo isto, entretanto, não era imprevisível, nem improvável, embora fosse intempestivo. Esperava-se mais algumas semanas de patética enrolação no circo SCI. Cheguei a comentar com o seu Algoz que ambos os lados desta parceria natimorta estavam procurando desculpas para sair. Isto pode não ser ainda, inclusive, uma visão predominante na direção colorada, mas a divisão suscitada é muito maior do que o silêncio deliberado das redações esconde.

Então, está na hora dos isentos e amargos proferirem discurso mais conveniente. Quem sabe, passam a divulgar que o Odone articulou com o Ricardo Teixeira o banimento do RS da Copa das Confederações, para fragilizar o SCI e pavimentar o caminho da Copa do Mundo na Arena. Não sei, ainda, como o WC não esposou esta tese, já que atribuiu o desastre ao brilhante neologismo da “grenalização”. Tese difícil de entender, já que a FIFA simplesmente desconhecia o Grêmio e a Arena – mas lógica é o que não se deve esperar. E assim ele não falará a verdade, como é de costume, mas a tangenciará. O mutismo gremista, depois do Antonini chegar a afirmar que a Copa do Mundo seria na Arena, era mais que significativo. A visita próxima de um representante da FIFA à Arena, também, não será a passeio. Na minha percepção, a admissão da Arena nas Copas era iminente, diante do descumprimento reiterado de exigências e da perda de prazos por parte do Inter. Só não foi antes consumado pela pressão que este exerceu, com incrível alinhamento dos mandatários das três esferas de governo à segunda força do futebol do RS, com direito à invulgar pantomima patrocinada pelo ilibado ministro dos esportes e o grande poeta calado Pelé – conta-se, aliás, que o circo Vostok, depois desta apresentação, decidiu encerrar atividades por concorrência desleal e resolveu o crítico problema da cobertura do remendão, doando a lona. O Inter foi, neste caso, instrumento de uma disputa de maior monta. A explicação mais banal é que o RT está retaliando a Dilma, por conta da Lei Geral da Copa. O contrário é o mais pertinente: o Inter ainda não foi excluído e a Arena está constando somente como “ameaça”, porque as relações entre ambos já azedaram faz tempo, com a Dilma afastando-se daquele - cuja batata também está assando bem quente-, criando inclusive um “staff” próprio de comando da Copa. O RT busca, sim, é a reaproximação com esta. Se, aliás, a salvação do projeto do Remendão estiver neste preço, o especulado acordo do Odone com o RT virará letra morta e, muito certamente, os róseos serão, novamente, salvos pelo nosso suado dinheiro público.

A Sogra e a Viúva

A situação do SCI é terminal. Só o milagroso dinheiro público salva.

Já correndo o risco de ser repetitivo, sem o concurso visível ou invisível da poupança pública, o Remendão é inviável.

A AG já tem certeza do péssimo negócio, mesmo tornando-se principal detentora do futuro e provável pior ex-estádio da Copa, por pelo menos vinte anos. Mesmo deixando um monte de coisas por fazer, inclusive as arquibancadas superiores e talvez a própria cobertura – que lixo! -, o negócio, na ponta do lápis, é insolvível. Por isto, não há investidores. O problema não está só no fato de que o tempo se tornou exíguo para obra prevista em 24 meses, conforme o plano aprovado pelo SCI na “licitação” fajuta ganha pela AG; não está só nas fundações problemáticas, nos banheiros irreformáveis, nas cascatas naturais formadas nos vãos das arquibancadas, na necessidade de rebaixamento do aqüífero gramado, na sobrecarga de custos em razão da imposição de um ritmo ininterrupto de reformas.

Mesmo com toda a inacreditável alienação de patrimônio e contratação da extrema penúria financeira futura, somada à situação presente de crescente e impagável déficit no futebol e à iminente perda de espaço próprio para jogos – vejam a situação dos times de MG! -, não haveria retorno suficiente para bancar a conta. E lembro sempre, para assumida felicidade gremista: à AG caberia toda renda de camarotes, área comercial, área de novo estacionamento, cadeiras vips, naming rights, pouring rights, sector rights, renda de shows (!), além da ocupação de 20 por cento da área física do estádio. Ou seja, tudo que poderia, hoje em dia, agregar renda num estádio de futebol. Ficarão, somente, com menos de 50 mil lugares de um remendo, só para jogos, e a exploração do velho estacionamento. Tudo isto, por irrisórios 5 jogos secundários da Copa. E, ainda, concorrendo com a Arena, cujo conceito de exploração de tais itens é incomparavelmente mais atual e atrativo. Quando penso que há chance de evitarem a burrice de assinar um acordo como este, chego a lamentar!

Não fossem esses impedimentos o bastante, maior problema consistiria no modelo de parceria. Além de já ser, hoje, às pupilas róseas, uma parceira madrasta, a AG se tornaria uma feroz concorrente dentro do próprio ninho familiar, seguindo-se a regra de explorações exclusivas. E não se tratam somente das ressalvas de patrimônio que visam resguardá-la de possíveis cobranças por prejuízos no futebol, que se tornarão, aliás, prováveis. Qual torcedor colorado comprará – já encalacrado na CVC! – um camarote ou cadeira vip, sabendo que todo lucro será da AG? Qual destes torcedores ficará satisfeito ao saber que o desvirtuamento publicitário de sua cancha de jogo não resultará em nenhum tostão para o futebol ainda mais sofrível que verão praticar, por mais de vinte anos? Que paladar terá um sanduíche de mortadela cuja receita, durante décadas, nunca mais entrará na contabilidade moranga?

Crises insanáveis, litígios jurídicos mútuos, esvaziamento de público é o futuro que se lhes avizinha. Claro, junto com o suicídio anunciado. A AG seria, então, aquela sogra malvada – não, não é uma redundância, há sogras afáveis. Aquela sogra que foi (re)admitida em casa, por falência econômica conjugal, para salvar o orçamento. Situação que só se resolverá com a morte objetiva da velhinha, que por sua vez teimará em desafiá-la e não morrerá nas próximas décadas, contrariando os piores prognósticos de passamento.

A outra saída, agora comicamente reabilitada, é a do projeto próprio de estádio.

As soluções, portanto, seriam duas: no primeiro caso, o método wyaneycarletiano de favorecimento escuso em outras licitações, em troca de alívios nos termos da parceria suicida do SCI; ou o método novelletiano, inspirado na solução kassabista de São Paulo ou petralhista do Paraná – que não é, por exemplo, como a solução aecista de MG, em que o Mineirão reformado, em vez de ser explorado pelos clubes, será concedido à iniciativa privada, a quem aqueles, desgraçadamente, terão de pagar aluguel para jogar e nada ganharão do seu uso.

Portanto, todo ruído e vigilância são poucos para defender a bolsa da viúva! Como já, abertamente e sem qualquer pudor, estão requerendo os responsáveis pelo enorme prejuízo material que impuseram ao RS, os dirigentes do SCI, as autoridades executivas, com destaque para o Sr. João Bosco Vaz, e todas as outras autoridades circenses que contribuíram para a palhaçada sem nenhuma graça que levou, desnecessariamente, considerando-se a alternativa da Arena, ao irrecuperável prejuízo da perda da CF. A defesa da Arena, como plano A, já não é mais defesa “clubística”, pois além de corresponder às racionalidades ética e econômica , e de não restar mais qualquer falso motivo para a adoção desta decisão, é a defesa contra maiores prejuízos ao interesse e ao erário públicos. Mesmo sabendo que isto pode livrar os morangos da bancarrota. Já passou da hora do Grêmio botar sua cara e exigir que este jogo seja feito às claras, longe das masmorras da política institucional e do futebol sempre freqüentadas com desenvoltura pelo clube do aterro.