8 de fevereiro de 2014

Daniel Matador: Ganhe a multidão

O que fazemos em vida ecoa na eternidade.
General Maximus Decimus Meridius, em Gladiador

Caros

Que maravilha podermos falar novamente de futebol após a tradicional modorra entre as trocas de ano. Melhor ainda ao termos a expectativa do início de mais uma Taça Libertadores da América na trajetória do Grêmio. Com o ruralito ainda a atrapalhar a vida da equipe com jogos em longínquas canchas e esdrúxulos horários, coube ao clube administrar e dosar a utilização dos atletas nestes primeiros confrontos do ano. Alternando entre o time de garotos que conseguiu aguentar bem a pressão e o time titular que teve uma performance avassaladora no primeiro jogo, o tricolor manteve-se líder de seu grupo, apesar dos pesares. E conseguiu com isso atestar algumas verdades, rever alguns conceitos e projetar mudanças para logo adiante.

Compareci ao campo nesta semana para ver o confronto contra o Veranópolis. A avaliação que Seu Algoz fez da partida no post pós-jogo foi exatamente aquilo que vi em um entardecer ardente na Arena. Se nas antigas arenas romanas dizia-se que havia areias escaldantes, não muito diferente estava o clima dentro da casa gremista no Humaitá. E a coisa esquentou mais ainda porque a torcida perdeu a paciência com Kleber, que não obstante ter sido acometido por uma providencial lesão que o afastará por algumas semanas do contato com a bola, nada fez de produtivo na partida. Zé Roberto foi outro que, além de nada fazer, trancou todas as jogadas da equipe. A torcida já nem pega mais no pé de Pará porque sabe que não temos muitas opções para a posição. Apesar de que possuímos no plantel o garoto de seleção de base Tinga e, de minha parte, gostaria de testar alguma vez por ali nosso mini-craque Ramiro. Desta forma, a dupla de volantes poderia ser formada por Riveros e Edinho.

E saindo da performance dos veteranos, temos também a atuação dos garotos. Maxi Rodriguez não produziu o mesmo que havia feito na primeira partida. Foi o suficiente para que a ivi passasse a dizer que estava em “declínio técnico”. A mesma ivi que dizia durante o ano passado que mantê-lo no banco era uma infâmia. Em suma, mais do mesmo neste caso. Apenas a continuação da campanha de pegação de pé em qualquer atleta que possa render, além da já costumeira falta de coerência. Pois na partida Enderson Moreira fez duas alterações que mudaram o panorama do jogo, colocando em campo Jean Deretti e Luan. E então a coisa começou a acontecer. E a torcida que estava desanimada e indignada passou a empolgar-se com o time. Deretti e Luan literalmente partiam para cima, agudos, incisivos, verticais. Tinham vitória pessoal sobre os marcadores e começaram a fazer a festa sobre a defesa do time adversário. A partir daí, a torcida começou a apoiar, principalmente após o gol de Barcos. Todos vibraram e ouvi vários comentários do tipo “eu sabia que ele não havia perdido o jeito” e outros como “agora sim, está sendo abastecido dentro da área e ganhando confiança”. Os garotos fizeram aquilo que a torcida esperava. Deram a ela algo que fazia tempo que não via. E com isso ganharam a multidão.

No início deste milênio o premiado diretor Ridley Scott dirigiu aquele que seria o vencedor do Oscar de melhor filme, além de arrebatar outras 4 estatuetas. Gladiador contava a história do general romano Maximus Decimus Meridius, o qual foi traído por Comodus, filho do Imperador Marcus Aurelius, que mata este último para assumir o trono de Roma. Escapando de uma execução, foge até sua fazenda para encontrar sua esposa e filho mortos. Acaba sendo vendido como escravo e torna-se gladiador, alcançando sucesso nas arenas até chegar ao Coliseu, em uma jornada para vingar-se do filho do Imperador. Durante sua estada no ludus (o nome pelo qual eram conhecidas as escolas de gladiadores) ele tem um encontro com o lanista (o dono do ludus), conhecido como Proximo. Ele havia sido gladiador e ganhara sua liberdade na arena. Maximus sabe que deve ter sucesso na arena para que possa chegar ao Coliseu e aproximar-se do Imperador para consolidar seu plano de vingança. E no diálogo entre eles, Proximo conta a Maximus o que ele deve fazer para que tenha sucesso na arena.

“- Você deveria conhecer o Coliseu, espanhol. Cinqüenta mil romanos assistindo a cada movimento de sua espada. Querendo ver o golpe fatal. O silêncio antes do ataque; e o barulho depois. Emergindo, emergindo como uma tempestade. Como se você fosse o Deus do Trovão.
- Você foi gladiador?
- Sim, eu fui.
- E ganhou sua liberdade?
- Há muito tempo atrás o Imperador presenteou-me com a rudius. É apenas uma espada de madeira. O símbolo de sua liberdade. Ele... ele tocou-me no ombro, e eu estava livre.
- AHAHAHAHAH! Você conheceu Marcus Aurelius?
- NÃO DISSE QUE O CONHECI! Disse que tocou meu ombro uma vez...
- Você pergunta o que eu quero. Eu também quero ficar em frente ao Imperador, como você ficou.
- Então me escute. Aprenda comigo. Eu não era o melhor porque matava rapidamente. Eu era o melhor porque a multidão me amava. Ganhe a multidão e você ganhará sua liberdade.
- Vou ganhar a multidão. Darei a eles algo que jamais viram.”

Óbvio que o ruralito não é parâmetro para avaliar uma equipe. Mas logicamente que várias situações podem ser revistas em cima do desempenho do time nestes jogos iniciais. Para "ajudar" o Grêmio, a famigerada FGF inventa de agendar um clássico com o mais tradicional adversário poucos dias antes da estreia gremista na Libertadores da América. E o jogo será na Arena, sedenta que está por ver cair diante de si o time rubro. Com a saída de Kleber por lesão e a inscrição no BID do argentino Alan Ruiz, avizinham-se novas possibilidades de tornar o time muito mais agressivo em campo. O resultado deste domingo não alterará o planejamento para a competição continental. Mas uma vitória com um bom desempenho fará com que a torcida seja ganha e a necessária simbiose entre ela e o time possa ocorrer, criando aí um forte componente para a disputa da Libertadores. Algo que sempre ocorreu nas conquistas anteriores.

O adversário do próximo domingo será o aperitivo do que teremos pela frente e tem que sentir desde cedo o rugir da torcida tricolor. Maxi, Luan, Deretti, Ruiz e todos os demais garotos que tenham a chance de pisar no gramado da Arena têm que fazer exatamente aquilo que a torcida espera deles. E com isso ganhar a torcida. Que eles possam dar aos milhares de gremistas que comparecerão neste domingo algo que eles jamais viram.

Saudações Imortais