Daniel Matador: Bota na conta do Papa

“Quando a pressão aumenta lá em casa, o pau come na rua. Comigo sempre foi assim, parceiro.

Aí ia ser sinistro, eu ia ter que continuar a subir o morro por causa do Papa; mas aí eu ia subir armado...”

Capitão Nascimento, em Tropa de Elite.

Caros

A ansiedade chega ao fim às dez da noite desta quarta-feira e dá lugar à tensão em seu grau máximo. O Grêmio entra em campo na Arena para decidir seu futuro na Taça Libertadores da América. A vitória obtida no último domingo pelo Campeonato Brasileiro, não obstante ter sido conquistada com um time praticamente cheio de reservas e garotos, deu um alento para a torcida. Independentemente disto, todos os gremistas estão convocados para lotar nossa casa nesta noite. Notícias dão conta de que praticamente todos os ingressos estão vendidos. A pressão será muito grande. E tem de ser a nosso favor.

Praticamente todo mundo assistiu o grande sucesso de bilheteria nacional dos últimos anos, o polêmico filme Tropa de Elite. Nele, o Capitão Nascimento, líder de um pelotão do Bope, o Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, recebe a missão de apaziguar, ao menos temporariamente, o Morro do Turano. Isto por um motivo que ele considera torpe: o Papa estaria em visita ao país e desejaria passar a noite no local. Capitão Nascimento tem uma esposa que está nas últimas semanas de gestação, a qual exerce uma pressão grande para que ele deixe sua atividade atual. Dividido entre a pressão familiar e a missão que lhe é confiada, Nascimento acaba usando a visita do Papa como a válvula de escape para entrar morro adentro e implantar a ordem, nem que seja pela força e com a utilização de métodos pouco ortodoxos. Em determinada cena do filme, a tropa está torturando um traficante para que revele o paradeiro de um comparsa. Ao receber uma ligação para que deixe o morro imediatamente, avisa aos soldados para recolherem tudo e saírem dali. Ao que um deles pergunta, apontando para o traficante: “O que fazemos com ele?” E uma das frases clássicas do filme é pronunciada pelo Capitão Nascimento: “Bota na conta do Papa!”. Sons de tiros são ouvidos e nota-se o que aconteceu.

Pois o adversário do Grêmio será justamente o San Lorenzo de Almagro, clube do coração do Papa Francisco, que inclusive possui fotos ostentando a camisa. Tudo muito legal, tudo muito bonito. Bacana mesmo ter um Papa que se interesse por futebol. Só que neste jogo, não teremos o menor pudor de cometer tantos sacrilégios quantos forem necessários para passar por cima do time argentino. Se em Tropa de Elite um dos cânticos dos soldados era “Homem de Preto, o que é que você faz? Eu faço coisas que assustam Satanás”, este será quase o mantra que os jogadores tricolores entoarão esta noite. Se o San Lorenzo é o time do Papa, o Grêmio irá mostrar que fará coisas que assustam Satanás.

Quem for à Arena, trate de apoiar como nunca. Quem estiver assistindo em casa, torça como sempre. Novamente, as palavras de ordem serão necessárias para que possamos vencer esta etapa e continuar trilhando o caminho de libertação da América. Desculpe mesmo, Papa Chico. Esta noite não vai dar pra te fazer nenhum favor. Entraremos de sola, mesmo que implorem por perdão. Daremos no meio, mesmo que clamem por misericórdia divina. Seremos impiedosos, por mais que devamos amar nossos inimigos. Esta noite, faremos de tudo para passar por cima do teu time do coração, Chico. Esta noite, azar do San Lorenzo. Ele vai ser posto na conta do Papa.

Saudações Imortais