Grêmio 1 x 0 Figueirense
Brasileiro – Arena Grêmio
Tem vezes que tem de ser na marra. Se no toque a toque e de cara para o gol a bola não entra, mete a cara e põe a bola pra dentro. Foi o que aconteceu aos 33 minutos do segundo tempo … sim, foi preciso mais de uma hora e 15 de jogo para furar a retranca do adversário .. e daí? O que importa é que a bola entrou. Finalmente entrou no gol deles e não entrou no nosso. Aliás, quase não demos chance para que isso acontecesse.
Para muitos foi apenas mais um gol qualquer no Campeonato Brasileiro que, pelo adiantado da hora de sábado, sequer deve ter o destaque merecido na programação esportiva de segunda-feira. Para mim, um gol especial, resultado de uma conjunção de fatores que fazem o futebol ser mais bem jogado. Não que estivéssemos jogando uma bolão. Até vínhamos tentando, pressionando, trocando bola, chutando e desperdiçando. Merecíamos mesmo a vitória nem que fosse na marra. E foi: na marra e no talento.
É provável que muitos não se lembrem como tudo começou. Foi no avanço de um dos nossos volantes, Maicon, que se aproximou da área, levou a bola para um lado, puxou para o outro, até encontrar um companheiro melhor colocado.
Era Mamute, que segue entrando no segundo tempo, quem aparecia ali na meia esquerda. Ele e o seu marcador (pobre dos marcadores de Mamute). O atacante ameaçou atropelar o adversário como gosta de fazer quando está na direção do gol, mas preferiu dar um passe de calcanhar para o lateral que descia para a linha de fundo.
Era Marcelo Oliveira, que já havia tentado alguns dribles interessantes, quem apareceu em disparada pela ponta esquerda. Desta vez não pensou em driblar nem avançar. De primeira, com a perna esquerda, fez o cruzamento para dentro da área, na aposta de que lá dentro haveria de surgir um centroavante com estatura suficiente para vencer os grandalhões do time catarinense.
Era Braian Rodríguez, que saiu do banco, do ostracismo, da insignificância, quem se jogou entre os zagueiros para deixar a bola explodir no seu rosto e ser desviada para dentro do gol. Um pouco antes havia feito algo parecido com os pés, quando aparentemente não tinha mais nem uma chance de superar o marcador. E eu fiquei pensando sobre o tamanho do desespero deste gringo para voltar a marcar com a camisa do Grêmio, algo que havia feito apenas uma vez, desde que chegou. Pois não é que, em seguida, ele marcou.
E Braian marcou um gol decisivo neste momento de dificuldades, porque o time e a torcida não suportariam mais uma rodada sem vitória e rondando a zona do rebaixamento. Isso é como um vírus que vai contaminando os espíritos, a alma, e provoca o desespero. De repente, tudo que se constrói, não se sustenta. O que se tenta, não se realiza. O gol de Braian despachou este risco no instante em que o Grêmio padece por suas estratégias erradas fora de campo e interesses individuais que se sobrepõem ao coletivo – fórmula perfeita para o desastre.
Sem perder o foco da minha conversa: disse lá no alto do texto que o gol gremista foi a conjunção de fatores que fazem o futebol ser mais bem jogado. Volante com saída de bola, atacante com passe preciso e desconcertante, lateral fazendo jogada pela linha de fundo, cruzamento na medida e centroavante oportunista.
Seria pedir demais repetir a dose semana que vem?
A foto que ilustra este post é da conta oficial do Grêmio no Flickr