9 de maio de 2015

Daniel Matador - Somente às vezes

"No passado, as pessoas acreditavam que, quando alguém morria, um corvo carregava sua alma para a terra dos mortos. Mas às vezes acontece algo tão ruim que uma tristeza terrível é levada junto com a alma, e a alma não consegue descansar. Então às vezes, somente às vezes, o corvo consegue trazer a alma de volta para resolver o que está errado..."  (Frase da personagem Sarah no filme "O Corvo")

"Mãe é o nome de Deus nos lábios e nos corações de todas as crianças." (Frase de Eric Draven, personagem principal do filme "O Corvo).


Caros

No ano de 1994 o Grêmio iniciava uma trajetória de conquistas rara na história do futebol mundial. Naquele ano, mesmo perdendo o ruralito, Felipão montou um time sem estrelas e com juniores que viria a ser a base do lendário time de 1995. A equipe de 1994, mesmo não conquistando o título regional, ergueu a taça do Bicampeonato da Copa do Brasil e classificou-se para a mítica Libertadores da América de 1995, sendo reconhecido até hoje como o embrião daquela era de vitórias.

Naquele mesmo ano, o diretor Alex Proyas, após ter tentado, sem sucesso, convencer os consagrados atores River Phoenix e Christian Slater a aceitarem o papel de protagonista de "O Corvo", o novo filme que iria dirigir, contentou-se com a terceira opção, o até então obscuro ator Brandon Lee, mais conhecido por ser filho da lenda das artes marciais, o mestre Bruce Lee. Bruce foi o maior artista marcial da história e fez carreira no cinema. Acabou falecendo justamente durante as gravações de um de seus filmes, chamado de Jogo da Morte. Brandon nunca chegou aos pés de seu pai como lutador, e mesmo com a tragédia que ocorreu, resolveu investir em sua carreira cinematográfica. Por um capricho do destino, acabou falecendo nas mesmas circunstâncias que seu pai. Durante as gravações de "O Corvo", Brandon foi atingido por um projétil que deveria ser de festim.

Na história do filme ele interpreta Eric Draven, um músico que acaba sendo brutalmente assassinado, juntamente com sua noiva, por uma gangue de malfeitores. Um ano após o ocorrido, ele é resgatado do mundo dos mortos por um corvo. O animal lhe confere imortalidade e lhe dá condições de iniciar uma caçada em busca de vingança. O roteiro foi adaptado de uma história em quadrinhos escrita por James O'Barr. É um filme que acabou tornando-se cult na década de 90 tanto por sua história quanto pela tragédia ocorrida com Brandon Lee.

Neste domingo o Grêmio estreará o novo horário de jogos proposto pela CBF para algumas partidas do Campeonato Brasileiro. Revivendo os horários dos famosos jogos da várzea, o tricolor receberá a Ponte Preta na Arena às 11 horas da manhã. Apesar da hora não convencional, e considerando-se que é Dia das Mães, ainda assim é possível achar algumas vantagens nesta situação. É um horário muito melhor do que o das 18h30min e arrisco dizer que é melhor do que o horário das 16h00min. Além da possibilidade de levar a mãe para curtir o jogo e conhecer a Arena, ele encerra, no máximo, às 13h00min. Dá pra sair dali e curtir aquele almoço de domingo, ficando com o restante do dia para aproveitar. Para quem vem do interior, o retorno também acaba ficando um pouco melhor.

O time do Grêmio inicia novamente uma jornada na qual não é cotado para ser protagonista. Aliás, não me recordo a última vez em que isto ocorreu, se é que ocorreu algum dia. O clube passa por uma fase terrível em termos de conquistas. Os torcedores mais jovens, inflamados também pelas redes sociais e pelas recentes conquistas do tradicional adversário, estão impacientes. Alguns mais antigos, acostumados que ficaram com um passado de conquistas, também. Um projeto de reestruturação da instituição está em andamento, mas isto não aplaca a sanha de parte da torcida. Assim como no filme do Corvo, para tentar resolver uma situação que está errada, o clube trouxe de volta Koff e Felipão, dois ícones que representaram a alma de uma era de vitórias. O time não conta com craques consagrados, assim como também não os tinha em 1994. "Ah, Matador, mas o futebol mudou, não é mais como em 94". Sinceramente, não consigo ver nenhuma mudança tão brutal assim, ao menos dentro de campo. Via de regra, o melhor time costuma vencer em boa parte das vezes, o time menos prejudicado pela arbitragem leva vantagem, o que sabe atuar nos bastidores ganha alguma coisa também. Tem sido assim ano após ano.

A única coisa que tem de ser considerada, ao menos na disputa do Campeonato Brasileiro, é que todos os jogos são importantes e valem a mesma coisa. Há a necessidade de vencer os times aparentemente menores (e aí situa-se este primeiro jogo contra a Ponte Preta) e trocar pontos com os grandes. Os campeões no sistema de pontos corridos, invariavelmente, têm valido-se desta sistemática para erguer a taça. E é aí que o Grêmio tem pecado, mesmo naqueles anos em que chegou perto de ser campeão, casos de 2010 (quando chegou em quarto lugar), 2006 e 2012 (quando chegou em terceiro) e 2008 e 2013 (quando foi vice-campeão). Mesmo desacreditado em todos estes anos, bateu na trave em todas estas vezes.

Wallace deve ganhar a vaga de titular no time do Grêmio neste domingo.


O time que entra em campo na manhã deste domingo na Arena deve ter Marcelo Grohe no gol, com Rhodolfo e Geromel na zaga. Na lateral direita, Galhardo ganha a posição que vinha sendo de Matías Rodríguez, um sinal de que talvez o contrato do argentino possa vir a não ser renovado. Na lateral esquerda, Marcelo Oliveira é mantido. A meia cancha tem o volante Walace ganhando a vaga que vinha sendo ocupada por Fellipe Bastos. Maicon, Giuliano, Douglas e Luan completam o setor. O garoto Lincoln também pode aparecer nesta partida. Na frente, Mamute deve ser escalado no lugar de Braian Rodriguez, que mesmo com a alegação de uma lesão, já vinha justificando sua saída do time titular por conta da pouca efetividade em marcar gols, a principal função de um centroavante.

Felipão orienta Lincoln, que poderá receber chances nesta partida.

A caminhada iniciará novamente. Com agruras, sem facilidades, com poucos recursos. Como quase sempre foi, diga-se de passagem. Antes de começarem a sofrer por antecipação e achar que é impossível fazer uma boa campanha, olhem o cenário como um todo. Nenhum time desponta com grande destaque. Muitos têm um elenco inferior ao do tricolor. É possível sim fazer uma campanha digna e, por que não, até mesmo surpreender os profetas do Apocalipse. Este período sem grandes conquistas, na vida de um clube como o Grêmio, está errado. Mesmo que seja difícil, é uma situação que precisa ser resolvida, por mais terrível que possa parecer e por mais complicada que esteja a vida do clube. A junção dos esforços que estão sendo feitos tem de resultar no resgate da alma copeira que sempre foi a identidade do clube. Porque às vezes, e somente às vezes, o corvo consegue trazer a alma de volta para resolver o que está errado.

Saudações Imortais