27 de maio de 2015

Daniel Matador - Quando 6 é muito mais que meia dúzia



Caros

Após uma semana em que toda a imprensa tomou um verdadeiro nó cego da direção e chutou todos os nomes possíveis e imagináveis, sem contanto acertar sequer na trave, o Grêmio anunciou o substituto do técnico Luís Felipe Scolari. E quem chega para comandar o tricolor é justamente um ex-atleta de Felipão, lançado por ele no clube quando tinha apenas 19 anos. Roger Machado Marques, ou simplesmente Roger, foi um dos ícones do lendário Grêmio de 1995. Era apenas um garoto quando, em 1994, Felipão pinçou-o das categorias de base, deu-lhe a camisa 6 e colocou-o na lateral esquerda do time. Uma posição e uma camisa das quais o garoto criado no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre, tomou conta e posse durante toda uma década.

Roger já era titular da lateral esquerda gremista em 1994, com apenas 19 anos.
 
Roger foi um jogador multicampeão pelo Grêmio. Logo em seu primeiro ano entre os profissionais conquistou a Copa do Brasil de 1994 de forma invicta. No ano seguinte teve sua consagração com o time que libertou a América. Em 1996 foi campeão brasileiro e da Recopa Sul-Americana. Em 1997 fez o cruzamento para o gol de Carlos Miguel que calou o Maracanã lotado e deu ao Grêmio sua terceira Copa do Brasil, também de maneira invicta. Em 1999 conquistou a Copa Sul e em 2001 ergueu sua terceira Copa do Brasil pelo tricolor, no ano do tetra gremista nesta competição. Também conquistou os ruralitos de 1995, 1996, 1999 e 2001. Roger jogou mais de 700 jogos como profissional, sendo mais de 500 pelo Grêmio. Jogou 7 Libertadores da América, sendo um dos jogadores brasileiros que mais atuou nesta competição.

Roger é um dos jogadores brasileiros que mais vezes disputou a Libertadores da América.
No ano de 2004 Roger deixou o tricolor e rumou para o oriente, a fim de defender as cores do Vissel Kobe, do Japão, onde permaneceu por cerca de 2 anos. Retornou ao Brasil para acompanhar o nascimento da filha e foi convidado para jogar no Fluminense. Sob o comando do maior ídolo gremista da história, Renato Portaluppi, Roger bateu um recorde ao fazer o gol que deu o título da Copa do Brasil de 2007 para o clube das Laranjeiras, o quarto troféu desta competição erguido por ele, marca esta que até hoje não foi superada por nenhum outro jogador. Roger também foi convocado três vezes para a seleção brasileira.

Em 2011, Roger atuou como auxiliar técnico no Grêmio.
 
Em 2011, já tendo aposentado-se da carreira de jogador, foi convidado a integrar a comissão técnica do Grêmio como auxiliar técnico. Substituiu o treinador principal em duas ocasiões neste período, justamente em dois Grenais, sendo que em ambos o tricolor foi vitorioso pelo placar de 2 a 1 (o primeiro no remendão e o segundo em Rivera). Em janeiro de 2013 recebeu o diploma de graduação na faculdade de Educação Física, tendo sido aprovado com as notas mais altas da turma. No ano de 2014 dirigiu o Juventude e, ao final da temporada, já fora do clube serrano, passou um período na Europa, onde reciclou-se e teve contato com novas metodologias da área. Neste ano, foi o técnico do Novo Hamburgo, tendo sido desclassificado dentro da Arena justamente pelo Grêmio, em um jogo decidido nas cobranças de tiros livres diretos, após um empate em 1 a 1 no tempo normal.


Presidente Romildo Bolzan apresentou oficialmente o novo técnico.
Fica até estranho ter que apresentar o currículo de um campeão como Roger. Todo gremista deveria ter obrigação de conhecer sua história. Mais do que um atleta, Roger sempre foi um cidadão exemplar. Até hoje me recordo da carta que endereçou à torcida do Fluminense, cuja diretoria não teve a dignidade de chamá-lo para comunicar-lhe que estava dispensado ao final de seu contrato. É possível achar o conteúdo completo da carta na internet. Mas vou reproduzir aqui um trecho que traduz muito da personalidade que sempre moldou o camisa 6:
“Mas este é o futebol. Ou será que esta é a vida do futebol? Vejo pelos exemplos de jogadores que, com muito mais representatividade que eu num clube, são sumariamente dispensados. O que mais me assusta, no entanto, é ver que os menos profissionais, que fazem e acontecem em seus períodos de contrato, com atrasos, bebidas e outras coisitas mais, saem da mesma forma que os que se comportam de forma profissional e regrada. Eu não mudo. Que mudem os outros.”

Roger foi multicampeão pelo Grêmio.

 Este é o técnico que o Grêmio contratou. Um tricolor de alma e que chega com a chancela de ter no currículo conquistas maiores do que qualquer jogador do atual elenco gremista. Que ele possa mostrar para estes que hoje serão seus comandados o significado de vestir as três cores. Para que eles saibam como realmente honrar a camisa riscada de azul, preto e branco. Da mesma forma como um dia um jovem camisa 6 a vestiu e honrou. Bem vindo de volta, Roger. A nação tricolor estará contigo.
Saudações Imortais