No dia em que o matariam, CJR acordou cedo, com o sol batendo forte na janela do avião, que voava acima das nuvens do céu da América Latina. Na noite anterior, seu time perdera para o lanterna de uma liga de terceira linha no futebol mundial.
Reunidos após o jogo, os dirigentes do clube derrotado decidiram que o resultado pedia um "puxão de orelhas" em CJR, mas não se cogitava a hipótese de troca de comando.
Na mesma noite da derrota, uma engrenagem começou a se mover a milhares de quilômetros de distância do estádio onde ocorrera o jogo. Da sede de um grupo jornalístico, um comentarista-torcedor disparava uma série de telefonemas para jornalistas amigos convocando-os a derrubar CJR. Escalou-se, dizendo ser a hora dele "segurar a bronca".
Iniciou-se, então, uma série de intervenções na mídia local, algumas raivosas, outras muito contundentes, pregando a degola de CJR. "O time está jogando a não fazer!", proclamou um deles, conforme o script que lhe fora ditado. A torcida foi estimulada a protestar e enviou centenas de mensagens para os e-mails do quadro social e do marketing.
Numa escala do avião, seguindo a decisão tomada, o dirigente máximo da equipe viajante negou de forma categórica qualquer chance de demissão.
Porém, quando o avião aterrissou no destino final, o circo estava montado. O técnico que se auto-escalara para "assumir a bronca" tinha servido a mesa para os "comandantes" do clube, com a ajuda dos jornalistas amigos. Aos dirigentes restou engolir o prato feito. Alguns acharam que o prato estava frio.