O Brasil perdeu espetacularmente. Uma derrota humilhante que coloca em dúvida todo futebol brasileiro. O que podemos aprender com esse evento?
Felipão, por exemplo, estava a dois triunfos de se tornar o maior treinador brasileiro de todos os tempos. Dois títulos mundiais separados por 12 anos e conquistados com grupos totalmente diferentes seriam um forte argumento nesse sentido, fora seus inúmeros títulos como treinador de clubes.
Felipão não errou na convocação, com a qual o país concordou. Dizem que errou na escalação, mas não vejo o que William ou Hernanes poderiam ter feito no lugar de Bernard. São todos medianos. O grupo do Brasil era formado por coadjuvantes e não sobreviveu à perda de seus dois protagonistas.
Fica claro na partida que prevaleceu o futebol moderno, onde o meio de campo não se divide em meias, meias armadores, primeiros e segundos volantes. Todo o meio de campo alemão e mesmo o atacante Müller e o lateral Lahm tem capacidade pra executar todas essas funções, tanto ofensiva como defensivamente. É a “estratégia Pitica”: todos defendem, todos atacam.
Esse time não foi formado por acaso. Em 2002, Rudi Völler levou uma seleção envelhecida para a Copa do Mundo, perdendo a final para o Brasil de Felipão. Klose é o único membro do grupo atual a disputar aquela Copa, na qual seleção alemã tinha apenas quatro atletas Sub-23: Asamoah, Kehl, Metzelder e o próprio Klose, contra sete atletas acima de 30 anos.
Com Klinsmann, em 2006, a situação se inverte. Odonkor, Mertesacker, Podolski, Lahm, Hanke, Schweinsteiger, Huth e Jansen tem menos de 23 anos; são apenas cinco trintões e todos os Sub-23 da Copa anterior seguem na equipe.
Joachim Löw assume e convoca nove atletas Sub-23 para a Copa da África: Müller, Boateng, Marin, Kroos, Badstuber, Özil, Khedira, Tasci e Aogo. Klose segue na seleção, bem como Mertesacker, Lahm, Jansen, Podolski e Schweinsteiger. Essa seleção tinha apenas três jogadores acima de trinta anos, e Klose já era um deles.
Para 2014, novamente são três os veteranos, Lahm e Klose entre eles. Dos Sub-23 de 2006, além de Lahm, restam Mertesacker, Podolski e Schweinsteiger; dos de 2010, Khedira, Kroos, Özil, Boateng e Müller. Como se não bastasse, a seleção atual tem sete jogadores Sub-23.
Como parâmetro, temos oito trintões na nossa seleção e três atletas Sub-23: Neymar, Oscar e Bernard. Chegou a hora de começar do zero, apostar na juventude e na CONTINUIDADE.
A narrativa no momento tem sido “a Alemanha formou um grupo para o futuro e agora colhe os frutos”. Eu diria que a Alemanha achou o ponto de equilíbrio entre experiência e juventude e seguirá colhendo frutos enquanto não permitir que sua equipe envelheça novamente.
Outro exemplo do sucesso dessa fórmula é a equipe do Manchester United multicampeã nos anos noventa. A chamada “Class of 92” inspirou um documentário de mesmo nome, que indico aos leitores. Trata de um grupo de atletas da categoria de base da equipe inglesa que atuou junto e foi promovido no início dos anos noventa. Um dos momentos marcantes do documentário é a critica da mídia no inicio da temporada, que destacava a perda de um grupo de jogadores veteranos e experientes, ressaltando que a equipe deveria contratar se quisesse ganhar algo na temporada. O clube apostou em seus garotos: Ryan Giggs, Paul Scholes, David Beckham, Nicky Butt e os irmãos Gary e Phil Neville. Ganharam ao menos um título por ano até a grande conquista da Champions League na temporada 1998-99.
Me parece que é hora de dar espaço e oportunidades reais aos jovens jogadores do Grêmio; os que receberam uma sequência estão se tornando titulares, um deles já é o melhor jogador do grupo. Já ao Brasil resta se desapegar de seus veteranos e tomar o mesmo rumo da Alemanha da década passada, dar especial atenção aos jovens para preparar uma geração vencedora. Luan pode ser um deles.
Não vamos colher os frutos sem antes plantar as sementes.