Texto do leitor Jonas Silveira
Foi veiculada hoje a notícia de que parte do nosso presidente, Romildo Bolzan, a iniciativa da retomada do sistema de mata-mata para o Brasileirão, muito mais divertido que o atual sistema de dispara-chupa, onde um time dispara e os demais ficam chupando o dedo.
Muito se fala que o Morosão é um campeonato justo, segue o “grande” exemplo das ligas européias. Esquecem que a realidade na maior parte das ligas européias é a disputa entre três ou quatro protagonistas, com a participação especial de dezenas de coadjuvantes; quem decide os papéis é o dinheiro.
O singelo título desse texto faz referência a uma lendária entrevista do treinador Jim Mora em 2001, quando perguntado a respeito das chances dos seus Colts de chegar aos playoffs da NFL - o aproveitamento da equipe na época era de 40%:
- "Nesse ano, pude vivenciar a gloriosa experiência de torcer por uma equipe que tinha 31% de aproveitamento faltando quatro partidas para o final da temporada regular, venceu as quatro, chegou aos playoffs e venceu uma equipe com aproveitamento de 75%. (Go, Panthers!). Pode não parecer justo, mas eu garanto que é muito mais divertido."
Pessoalmente, creio que botar duas equipes no campo pra decidir quem é a melhor é a coisa mais justa a se fazer no âmbito desportivo, muito melhor que ter como desfecho de campeonato meia dúzia de amistosos e alguns confrontos decisivos, sendo disputados, geralmente, entre equipes com diferentes graus de “interesse” (se é que me entendem).
Também não entendo o amor pelos pontos corridos. Me parece ser parte da ânsia brasileira de copiar o futebol europeu. Se for pra copiar alguma coisa, vamos copiar o sucesso global das grandes ligas americanas, todas com um sistema de playoffs vigente, o tal do “formulismo”. E esse sistema não é exclusividade da NFL, MLB, NBA e NHL. Também é aplicado abertamente no futebol da América do Norte, pois tanto a MLS, principal liga dos EUA e do Canadá, quanto a Liga MX do México, são estruturadas dessa forma. A verdadeira tradição do futebol sulamericano é o “formulismo”, alguns dos nossos campeonatos são tão intrincados que quem se aventura a tentar descobrir os classificados à Libertadores de certos países vizinhos está sujeito a uma síncope por esforço mental excessivo.
Eu iria mais longe ainda, eliminaria um dos “matas” do “mata-mata”. O time de melhor campanha decidiria em casa. Dependendo do número de times classificados, seria raro que uma partida da rodada decisiva não tivesse alguma utilidade pra definir alguma vantagem para os disputantes, pois o mando de campo seria muito valioso.
Minha fórmula classificaria o primeiro e o segundo colocados de forma direta, um prêmio valioso aos times mais regulares, que apaziguaria os paladinos da “justiça”; os oito seguintes disputariam as duas outras vagas na semifinal, em duas rodadas; o terceiro receberia o décimo em sua casa para um jogo único, e assim por diante. Nada de “voltar vivo”, “gol fora de casa”, “placar agregado”, “saldo de gols”. Para completar, a decisão dos quatro rebaixados seria feita pelos Playoffs da Depressão, os oito últimos colocados do campeonato se enfrentariam nesse mesmo modelo e os quatro perdedores estariam fadados às agruras da Série B, que seguiria sendo disputada por pontos corridos, para castigar ainda mais os rebaixados. Isso garante três semanas de emoção no final do campeonato, pois a razão fundamental da existência do desporto é justamente a emoção; um campeonato que não é emocionante claramente está mal estruturado.
Ver seu clube vivendo momentos de “tudo ou nada” é muito melhor que procurar a tabela do Dilmão na internet segunda-feira de manhã pra fazer contas. O pior ainda é quando o objetivo das contas é uma vaga, pois a taça já não pode ser alcançada, talvez por que o clube não “fez gordura” ou exagerou nos “pontinhos fora de casa”.
Minha torcida é pela alteração dessa fórmula atual, que permite, entre outras coisas, que a arbitragem mine equipes em jogos de menor vulto, eventualmente ajudando a TV e os patrocinadores a definir quem são as melhores equipes do país, invariavelmente valorizando as cifras e desvalorizando a bola.