"Foi o único que
me enganou."
Napoleão Bonaparte, em trecho de suas memórias escritas
pouco antes de morrer no exílio da ilha de Santa Helena, referindo-se à fuga de
Dom João VI de Portugal para o Brasil.
Caros
Para os que não mataram as aulas de história, Napoleão
Bonaparte é uma figura conhecida. Foi o homem mais poderoso de sua época,
conquistador de países e comandante do mais formidável exército de então. Em
1807, Napoleão era o senhor supremo do continente europeu. Dominava a Holanda, a
Bélgica, a Itália e a Alemanha. Mesmo os monarcas da Áustria e da Rússia eram
obrigados a assinar tratados humilhantes e submeterem-se a seu jugo. Apenas uma
nação desafiava sua força: a Inglaterra, por conta de seu poderio militar
naval.
Naquela época, uma região que ainda não havia sido
conquistada era considerada uma presa fácil para o exército napoleônico: a
Península Ibérica, formada por Espanha e Portugal. Apesar de uma inesperada
resistência inicial, a tomada das duas nações era questão de tempo. Todos
diziam que ambos os países seriam devastados e os governantes seriam depostos ou
mesmo mortos. Até que o príncipe regente Dom João VI, que governava o país em
nome de sua mãe Maria I, conhecida como Rainha Louca, pôs em ação um plano que
havia sido elaborado há muito tempo para ocasiões como esta, antevendo a
possibilidade da vitória de Napoleão.
Dom João VI reuniu a corte portuguesa e lançou-se de
navio para o Brasil, onde iniciou um novo reinado, longe do confronto armado. Muitos não acreditaram na
eficácia de tal plano e ficaram na Europa, sendo mortos ou tendo seus bens
confiscados. Mas o plano funcionou e o príncipe regente deixou o poderoso Napoleão chupando o
dedo, com as outras nações lutando contra o general enquanto ele curtia o clima tropical
de nossa terra. Depois que Napoleão foi vencido, retornou para governar
Portugal. Cometeu várias outras patetices, mas sua estratégia até hoje é
lembrada como uma das mais audazes de todos os tempos e garantiu a
sobrevivência da casa real portuguesa.
Pois desde o ano passado o Grêmio vem sofrendo de um mal
semelhante ao do reino português que via os exércitos napoleônicos chegando.
Todos falavam que o clube estava quebrado. O então presidente eleito havia
decretado um plano contingencial para sanar o clube, já prevendo a mudança de
cenário que ocorreria no futebol brasileiro nos anos seguintes. Jogadores com
contratos caros foram dispensados e o perfil da equipe foi redefinido. Parte da
torcida torceu o nariz. “O Grêmio está apequenando-se!”, bradavam uns. “Somos
candidatos ao rebaixamento!”, vociferavam outros. A ivi, então, não deu trégua. Para eles, a derrocada gremista era questão de tempo. A apresentação de alguns
resultados ruins em campo, muito por conta da necessária experimentação do
elenco remanescente, foi a gota d’água para os profetas do apocalipse montarem
em seus cavalos e gritarem a plenos pulmões que tudo estava perdido. Sobrou até
mesmo para o multicampeão Luis Felipe Scolari, acusado de ser antiquado. Mesmo assim, a direção manteve-se firme no propósito traçado e friamente calculado.
Mas sabiam os detratores que havia muito mais nesse plano do que
apenas a dispensa de jogadores dispendiosos. Toda uma reformulação do clube
enquanto instituição estava sendo gestada. Dívidas começaram a ser pagas.
Despesas começaram a ser gerenciadas. Processos começaram a ser redefinidos. E a figura do técnico Felipão foi um dos
alicerces desta mudança. E o Grêmio começou a mudar. A postura no Gre-nal,
quando os fatalistas diziam que seríamos goleados na beira da sanga, já mostrou
uma outra cara na equipe. A vitória sobre o Caxias na Arena trouxe um novo
ânimo para a torcida. E os reforços começaram a chegar. Veio Braian Rodríguez, um
9 de ofício. Veio Maicon, meio-campista tarimbado. E veio Cristian “Cebolla”
Rodríguez para coroar o primeiro rol de reforços desta nova era tricolor, um
meia da seleção uruguaia cuja capacidade e títulos o precedem. E aí, assim como
Napoleão ficou com a boca aberta após ser enganado por Dom João VI, a torcida
adversária e os outros times ficaram estupefatos com o fato de um clube “quebrado”
ter conseguido aliviar sua folha de pagamento e ainda assim ter reforçado-se
com jogadores de renome.
Nesta quarta-feira o Grêmio jogará em Erechim contra o
Ypiranga, um dos mais tradicionais clubes gaúchos. Dono do maior estádio do
interior, o Colosso da Lagoa. E é muito provável que Braian Rodríguez já faça
sua estréia neste jogo. Maicon e Cebolla estão sendo preparados para que possam
estrear na Arena no próximo sábado, contra o Cruzeiro. Em Erechim o time deve
contar com Marcelo Grohe no gol, Matías Rodríguez e Marcelo Hermes nas laterais
e Rhodolfo e Erazo na zaga. Marcelo Oliveira, Fellipe Bastos, Giuliano e
Douglas formam o meio de campo. No ataque, Yuri Mamute junta-se a Braian
Rodríguez. Para atrapalhar, o juiz é o conhecido Chico Colorado.
Em tudo correndo
como o planejado, as coisas tendem a andar de forma mais harmônica para o clube
e para o time. Os profetas do apocalipse sumiram nos últimos dias. Eles não
fazem falta nenhuma. O verdadeiro torcedor, este sim é primordial para que o
plano de ascensão do Grêmio dê frutos. E aí, nada mais nos segura. E poderemos voltar a reinar.
Saudações Imortais