26 de janeiro de 2012

A religião é o ópio da mídia

Desencantar, segundo o Michaelis, é tirar o encanto ou encantamento de; desenfeitiçar. Uma segunda acepção é desenganar(-se), desiludir(-se). Esta não cabe na manchete da qual trato. Voltemos ao primeiro significado.

Que algumas figuras da imprensa secam o Grêmio, por motivos religiosos ou pecuniários, quase todos sabemos. Ainda assim, é preciso estar muito desligado da realidade para produzir uma manchete como a de ontem, logo após o jogo em Canoas.



Quem lê o título imagina que Marcelo Moreno e Kleber amargavam um longo período sem fazer gols para o Tricolor da Azenha. Ora, ontem era o segundo jogo de Kleber e o primeiro de Moreno atuando pelo Grêmio. Então, a manchete escancara o fervor religioso com que pessoas cuidam da construção de uma certa "agenda positiva". A mesma agenda que ajudamos a desnudar aqui no blog. As coisas que se tem visto são de envergonhar calouros e veteranos da profissão. Para alguns, não há mais medida nos seus atos, agem com uma naturalidade que, confesso, até me assusta. Parecem anestesiados pelo credo ou por outro tipo de estupefaciente produzido com tinta sobre papel.
_____

Há, ainda, um terceiro sentido para a palavra desencantar, segundo o Michaelis: achar, descobrir, encontrar: Desencantar um tesouro. Este não casa com a ordem dos sujeitos da manchete. Aliás, um deles deveria tornar-se objeto direto para o título ter alguma conexão com a realidade e tornar-se, então: "Grêmio desencanta dupla de ataque e vence o Canoas por 3 a 1".  Esta seria uma chamada mais apropriada para o que eu vi ontem, ao vivo, em Canoas. Creio firmemente que Kleber e Marcelo Moreno farão história no Grêmio. O 9 tem uma velocidade incomum. É a dupla que mais me trouxe esperança, desde Paulo Nunes e Jardel.
_____

Quanto à mídia, para mim não seria surpresa se tivesse estampado a chamada: "Após duas rodadas fora de casa, Internacional mantém invencibilidade no Beira-Rio". Afinal, religião e agenda positiva não se discute.