No entanto, um olhar um pouco mais atento faz com que as contradições e furos do movimento apareçam gritando diante dos olhos.
Vou elencar apenas os dois que acho mais relevantes.
- Os jogadores querem menos jogos por ano.
Perfeito. Para tal há três hipóteses: acabar com os campeonatos regionais, diminuir os clubes do Campeonato Brasileiro, voltar a proibir que os clubes que joguem a Libertadores joguem a Copa do Brasil.
Destas três, apenas a primeira é viável. Menos clubes na Série A significa menos jogadores na Série A. Significa, portanto, menos jogadores com salários maiores. Eles estão dispostos a arcar com esta consequência?
Por outro lado, os clubes existem para jogar competições. Restringir a participação em um torneio apenas porque se classificou para outro seria punir os mais competentes, o que é para mim totalmente inaceitável.
Os campeonatos regionais deveriam se restringir aos clubes sem expressão nacional. Poderiam ser mais longos para estes e incluir como prêmio participações nas séries D e na Copa do Brasil.
Qual a solução para isto? Me parece simples: restringir a participação dos jogadores a um número máximo de jogos anuais. Caberia aos clubes administrar de forma inteligente as folgas destes. Portanto, ao invés de menos jogos para os clubes deveriam propor menos jogos para os jogadores. Afinal, salários são pagos muito em cima da entrada de recursos pelas competições.
- Os jogadores querem que os clubes paguem apenas o que podem gastar
Esta ideia é o óbvia e ululante. Para que aconteça, no entanto, os comandantes do movimento devem conversar com seus empresários e com a Rede Globo.
Os empresários devem ser instruídos para negociar salários compatíveis com o poderio dos clubes, o que significará reduções de até 50 % dos grandes salários, estes que estão acima dos R$ 100 mil mensais e que podem ir até R$ 1 milhão.
O movimento deveria também bater na porta da Rede Globo e dizer que privilegiar dois clubes com receitas maiores que o dobro do que paga para os demais leva a um desequilíbrio completo nas competições com reflexos terríveis na competitividade em um primeiro momento. Mais para a frente levará à espanholização do futebol brasileiro com perda de interesse do torcedor e portanto, perda de dinheiro para todos.
Estarão nossos nobres e interessados craques dispostos a tomar estas atitudes? Como diz o jornalista abobado aquele, "o futuro é quem dirá". Mas eu, você e a torcidas do Fortes e Livres de Muçum e do Botafogo de Três de Maio sabemos a resposta.
Mas e o Grêmio nesta história toda?
Na minha opinião, a diretoria deve aproveitar que os nossos "expoentes" estão entre os líderes do movimento para sentar na mesa e renegociar salários, assim como para discutir profissionalismo e comportamento profissional.
Ou este movimento não entendeu que sem clubes fortes não há jogadores milionários ou mesmo jogadores (muito) bem pagos?
Estaríamos numa rua de mão única?