27 de novembro de 2017

Avalanche Tricolor: um cara curioso, sortudo e com muito talento

Por Milton Jung


Grêmio 1×1 Atletico-GO
Brasileiro – Arena Grêmio


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Renato no comando do Grêmio em foto de LUCASUEBEL/GrêmioFBPA

 Éramos apenas oito mil torcedores na Arena nesta tarde de domingo. Era possível identificar alguns pais e seus filhos, mães, amigas, colegas, talvez de trabalho, de escola ou daqueles que se conhecem no estádio mesmo e têm sua amizade restrita às arquibancadas. Para todos era mais um programa de domingo, sem muitas pretensões, afinal estávamos de passeio. O Campeonato termina semana que vem e estamos apenas guardando posição.

Verdade que ao lado do gramado via-se Renato tentando por ordem na casa, irritado com o baixo desempenho de alguns jogadores, esbravejando pelo desperdício de passes, pelo deslocamento mal feito, pela bola mal dominada. Para ele pouco interessa que o time seja do terceiro escalão: se é Grêmio tem de suar, tem de lutar e tem de vencer.

Nosso técnico é uma figura curiosa, mesmo.

Sempre passou a imagem de um playboy que apreciava tanto a bola quanto a balada. Aprontou muito na noite. Divertiu-se o quanto pode. Falou mais do que devia. Fez galhofa. Pagou pela língua. Da mesma maneira, com suas palavras e provocações foi essencial na motivação dos colegas com que jogava ou do time que comandava.

Em campo, com o 7 estampado nas costas, era um gigante disposto a vencer qualquer barreira. Se uma tropa de uruguaios o prensava contra a linha lateral, não se fazia de rogado. Sem mesmo olhar para o lado, despachava a bola para o alto e a jogava dentro da área. Foi assim que marcamos o gol da vitória que nos deu o primeiro título da Libertadores, em 1983. Se uma blitz de alemães se portasse diante dele, despachava-os com uma sequência de dribles para um lado e para o outro, assim como o fez duas vezes na final do Mundial, no mesmo ano.

Como técnico, soube se reinventar. E o fez porque estudou muito o futebol e os adversários, ao contrário do que a afirmação polêmica feita ano passado tenha dado a transparecer. Haja vista a diferença do comandante que tivemos nas primeiras passagens pelo Grêmio (em 2010, 2011 e 2013) e deste que assumiu em 2016 para conquistar a Copa do Brasil e oferecer ao torcedor o futebol mais bonito do país, em 2017. Entendeu que não haveria mais espaço apenas para chutões, jogadas diretas e chuveirinho – apesar de ter consciência de que às vezes são recursos necessários. Que o diga o gol que nos dá vantagem nesta final de Libertadores.

Renato percebeu que tinha de reproduzir no time que comandava a mesma simbiose que o tornou um craque: talento no drible, velocidade na jogada, precisão no passe e um desejo incrível de se superar, suar, lutar e vencer a qualquer custo. Técnica e raça. Soma-se a isso, uma pitada de sorte, aquela que costuma acompanhar os melhores. Senão, vejamos: na quarta passada, Jael e Cícero que tinham recém-entrado foram os protagonistas do gol da vitória; hoje, em jogo que sequer valia muito, quem empatou a partida de cabeça no segundo tempo? Lucas Poletto, primeira substituição feita por Renato.

Que nosso técnico siga sendo esse cara curioso, sortudo e, principalmente, de muito talento e inspiração para todos nós!