3 de dezembro de 2010

Um relato da Batalha

Reproduzimos, abaixo, relato recebido do leitor Rafael Tavares Pinto, sobre o dia 25/11/2005. A data já passou, mas o relato carrega a toda a emoção daquele dia e vale à pena ser lido.

Amanhã, completam-se 5 anos daquele fatídico e memorável dia 26/11/2005: a mundialmente conhecida Batalha dos Aflitos. Neste momento que vos escrevo já me sinto tomado pela emoção que vivi aquele dia. É por isso que me adianto um dia e faço esse relato pra vocês, que com certeza devem compartilhar de sentimentos e histórias desse que foi um momento incrível de nossas Tricolores vidas.

Esse dia é especial demais na minha vida, não só pela carga de emoções que vêm com ele. Mas, é que foi neste dia que o Gremismo (este vírus incurável, que tanto falamos no GremioCopero) foi irremediavelmente inoculado ao coração da minha atual noiva – e futura esposa (à época, namorada a 9 meses).

No começo do nosso namoro, eu evitava o falar, ouvir e assistir qualquer coisa sobre o Grêmio, pois ela não havia manifestado, até então, nenhum interesse. Com medo de ser um chato pra ela, evitava. Contudo, sofria. Sofria com o Grêmio, eliminado do Gauchão, chafurdando na série B e jogando seus primeiros jogos em um aterro amargo e vazio. Sofria por não poder compartilhar com ela tudo isso, achando eu (erroneamente, descobri depois) que não deveria chateá-la com isso – o que o medo de perder a mulher da nossa vida faz com a gente...

O ano foi passando e eu espreitando o Tricolor sempre que podia. Lembro de um episódio tragi-cômico: estava eu na casa dela, em um sábado à noite. O Tricolor fazia sua estréia contra o Gama, no DF. Eu louco pra ouvir o jogo. Qndo ela se distraia, ia no radinho escutar. Numa destas escapadas, ouvi o gol do Andershow e me tranqüilizei. Mas, tínhamos muito a sofrer, o Grêmio levou a virada e a tristeza tomou conta de mim.

O ano foi passando e, aos poucos, fui introduzindo o Grêmio em meio a nossa relação. Lá pelas tantas, durante o primeiro quadrangular da fase decisiva, ela assistiu, em algum programa esportivo, a avalanche da Geral e se encantou. Então, veio o pedido: quero ir ao estádio para ver de perto este fenômeno (começava ali a caminhada para um destino sem volta...). Fomos ao jogo Grêmio 2 X 0 Sta. Cruz.

No dia 26/11, naquele sábado de tempo bom na região Metropolitana, estávamos na minha casa, em Viamão. Havia sido um ano sofrido, futebolisticamente falando. No trabalho, as coisas até que corriam bem. Todavia, a grande alegria que eu tinha vivido naquele 2005 foi ter deixado entrar em minha vida a Cristiane Colin – a Cris. O dia amanheceu e logo vesti o manto sagrado – e pendurei outro na janela, claro. Ela chegou no início da tarde, nem imaginava o que a aguardava. Me encontrou nervoso, uma pilha. Começou o embate contra o Náutico e ela ao meu lado, assistindo pela TV. Meu pai, como já contei no Blog – história que me valeu o livro do irmãos Bueno, entregues pelas mãos da Aline (deixo aqui, novamente, meus agradecimentos), ficava no vai-vem à frente da tela, se preparando para sair ao trabalho.

Quando o gatuno que vestia amarelo marcou o pênalti, entrei em um transe inexplicável. Fiquei olhando para a TV, mas não via nada. As palavras do Pedro Ernesto iam entrando nos meus ouvidos, só que eu não processava, o cérebro estava travado. Ela, a Cris, ao meu lado, pálida, assustada com a minha reação. Meu pai levantou-se e saiu, dizendo que ia trabalhar, passou esbravejando alguma coisa que não lembro e saiu porta afora. Fiquei sentado na pontinha da poltrona, “face-to-face” com a televisão. A primeira lágrima escorreu. As expulsões acontecendo e eu sem reação alguma. A Cris ali, acompanhando tudo, sem saber o que fazer. Aqui, faço uma pausa para citar a minha mãe: para azar dela, o seu clube do coração não é o Grêmio. Porém, pelo Gremismo estar sempre presente na nossa casa, ela, lá no fundo, sempre torceu por nós. A desculpa dela é de que gosta de ver a felicidade dos filhos e do marido. Sei... Pois a minha mãe ficou acompanhando de longe, preocupada com o que poderia acontecer, talvez eu tivesse um “piripaque”. O gatuno autoriza a cobrança e a bola vai ao encontro de Rodrigo “São” Gallato. Não esbocei reação, continuava no mesmo lugar, ponta da poltrona, braços apoiados sobre os joelhos. Apenas, as lágrimas que se multiplicavam. Quando Andershow fez o gol, aí sim. Tudo aquilo que estava guardado em mim (o sofrimento e a queda de 2004, as chacotas da mídia amarga durante o interminável 2005, além dos acontecimentos do próprio jogo) saiu em forma de um urro assustador. Me joguei no chão e gritava, mas gritava muito. Qndo me levantei, dei de cara com a Cris chorando, sem saber o que fazer, se devia ficar feliz ou triste. Demos um forte abraço e, naquele momento, o que eu já desconfiava se confirmou: aquela mulher seria a mulher da minha vida e o Gremismo havia tomado conta dela.

Em cinco minutos, apareceu meu amigo Edison, o Dinho. Enquanto eu o recebia entre abraços, choro e tudo mais, tocou o telefone de casa. Era o Pai: -“Rafa, o que está acontecendo? Estava no ônibus, todos em silêncio (Gremistas todos, claro). De repente, tocou o celular de alguém, que atendeu meio sem vontade. Essa pessoa começou a mudar o tom de voz, ficar eufórica, só falava que não acreditava, não acreditava. Neste momento, o ônibus em POA, comecei a ver pessoas saindo de tudo que era lugar, com bandeiras do Grêmio... Não agüentei, desci antes do meu destino e te liguei. O que que tá acontecendo?!”. Eu não conseguia falar, só chorava (estou chorando agora, lembrando de tudo isso).

Depois disso, Cris, Dinho e eu saímos pela cidade feito doidos a comemorar. Foram dias assistindo a todos os programas que falassem sobre aquele jogo, buscando todas as entrevistas dos envolvidos, recortes de jornais (que guardo até hoje) e, até, a transformação do “Inacreditável, inacreditáaaaaaavel!”, do Pedro Ernesto, em toque de celular, para desespero dos colegas de trabalho rubros.

Enfim, todas as grandes conquistas do Tricolor me tocam fundo e sempre me emociono ao lembrar. Mas, esta, tem um sabor diferente, não há como negar.

Encerro com as seguintes palavras:

- Pai, como eu queira ter estado contigo (de certa forma, estava) naquele hospital, durante a final do Gauchão de 77, te acompanhando nas loucuras e deixando as enfermeiras malucas! Obrigado por ter me tornado o Gremista que sou hoje.
- Cris, eu te amo e o teu companheirismo de todas as horas, inclusive as do Monumental, é indispensável pra mim.
- Grêmio: nada pode ser maior!