20 de junho de 2013

Daniel Matador: O Manto Sagrado

Caros


Estas épocas sem jogos do Grêmio são verdadeiras nabas. Uma das poucas coisas interessantes nisso é que podemos nos ater aos assuntos do tricolor que fogem das quatro linhas sem que algum torcedor raivoso fique indignado por não falarmos da falta de habilidade do Pará. Em 1953 (quando Seu Algoz já era velho) foi rodado o primeiro filme em CinemaScope, “O Manto Sagrado”. Richard Burton interpreta Marcellus Gallio, o centurião romano que supervisiona a crucificação de Cristo. Como na história contada na Bíblia, as vestes de Jesus foram disputadas em um jogo de azar entre os oficiais romanos, cabendo a ele ganhar o manto de Cristo. A partir daí, sua vida muda para sempre. Vale assistir este que é um dos maiores épicos bíblicos já feitos.

A alcunha de manto sagrado é dada para a camisa dos grandes clubes, normalmente por conta de sua história, feitos épicos e heróis que a trajaram. Com o Grêmio não é diferente, e como todos certamente já sabem, há alguns dias atrás ocorreu o lançamento da nova camisa oficial, confeccionada pela Topper. Apesar dos veementes pitacos da Pitica, não recebemos nenhuma de brinde (bom motivo para sairmos às ruas com cartazes para protestar). Por mais que muitos miguxos critiquem a manutenção da atual fornecedora, em detrimento de outras marcas “fashion” (como a que veste os mazembados), sou obrigado a admitir que a Topper mais acertou do que errou durante o tempo em que serve ao tricolor. Diferentemente de marcas multinacionais que confeccionaram o manto em anos mais recentes, como Puma e Kappa, que tiveram mais erros do que acertos. A nova camisa, com desenho homenageando o histórico ano de 1983, não tem firulas e é uma das melhores dos últimos tempos.
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O contrato de confecção e fornecimento encerra-se no final de 2014. Por mais que muitos queiram a troca, por enxergarem a Topper como uma marca de segunda linha, dificilmente ele será encerrado antes do prazo, principalmente por conta da alta multa para situações como esta. Naturalmente que um clube como o Grêmio tem totais condições de ser servido pelas principais gigantes mundiais, considerando que atualmente há somente duas neste patamar (Nike e Adidas). Por outro lado, este é um dos pontos que talvez explique o acerto da Topper nos modelos que confeccionou para o Imortal. Para as marcas mundiais, o tricolor seria apenas mais um cliente. Para a Topper, o Grêmio é “o cliente”, ou seja, é a mais importante conta atualmente atendida pela empresa. Ao optar por uma marca maior, existe vantagem na questão logística, visto que elas costumam ter maior alcance em todos os mercados mundiais. Não obstante, corre-se o risco de termos casos como a pavorosa “gola do Kiko”, protagonizada pela Puma em 2009. O presidente Duda Kroeff, na época, chegou a dizer que nem uma bula papal poderia mudar aquela gola, por conta dos termos contratuais que estas marcas acabam impondo aos clubes. E os clubes acatam tais condições, por vezes maculando o desenho de uma camisa histórica por conta de ganhos em outras esferas. Um bom exemplo está ocorrendo atualmente com os róseos. A Nike não produz os famosos kits infantis (isto é mandatório na empresa), o que faz com que os infelizes tenham que vestir as pobres criancinhas com camisas do Náutico, América-RJ ou qualquer outro (é tudo igual mesmo).

Mas se a Topper não é tudo isso e Nike ou Adidas padronizam as camisas que confeccionam, qual opção poderia ser o meio termo? Como um apaixonado por marketing esportivo e estudioso do futebol, vejo no momento uma opção que poderia ser analisada para o futuro: Umbro, a marca que vestiu a seleção brasileira na conquista do tetra e que sempre foi uma marca mundialmente reconhecida pela qualidade. A marca foi comprada pela Nike em 2007 com um único objetivo: arrebatar seu principais clientes. Ela informou a todas as equipes para as quais a Umbro fornecia que não mais estaria produzindo para eles, a não ser com sua marca principal. Isto fez com que tradicionais equipes se vissem obrigadas a utilizar fardamento Nike, como o Manchester City e o próprio Santos, ou trocar de marca, como a seleção da Suécia (que agora veste Adidas). O último grande cliente que faltava era a seleção da Inglaterra, atendida há mais de meio século pela marca britânica. Tão logo fechou o contrato em dezembro último, a Nike vendeu a empresa para o grupo americano Iconix. O último jogo da Inglaterra trajando Umbro foi justamente contra o Brasil, em Wembley, quando o English Team venceu por 2 a 1. Já de posse da Iconix, a Umbro deu um tapa de luvas ao lançar uma campanha comemorativa para o jogo de despedida, com a frase “por mais de 50 anos, nós apenas fizemos”, uma clara alusão ao slogan “Just do it” de sua concorrente.
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A Umbro tentará agora reerguer-se, com o lastro de ter sido por muitos anos uma das mais importantes marcas mundiais neste segmento. A empresa sabe que tem qualidade, apesar de ter perdido seus principais clientes e não atender mais nenhum clube ou seleção de ponta. Tanto é que viu-se obrigada a investir em clubes menores para garantir sua escala de produção. Grande sacada para fazer uma parceria, visto que o Grêmio seria certamente o principal cliente de uma marca centenária e que sempre teve o futebol como seu principal objetivo. Duas ações da Umbro neste ano me fizeram ter vontade de apertar a mão dos responsáveis pela empresa. O lançamento das camisas de jogo da Juventus-SP e a linha casual da Chapecoense. No caso da Juventus, além do lindo desenho das camisas, a campanha "A Volta do Futebol Elegante" trouxe ídolos do passado e resgatou locais históricos daquele que é considerado o segundo clube de muitos paulistanos e é o orgulho do bairro da Moóca. E a linha casual da Chapecoense, principalmente as camisas de passeio, dão um show de design, bom gosto e qualidade, utilizando o conceito "Tailoring by Umbro", que alia tecnologia à alta alfaiataria inglesa. Deixo abaixo os links de duas matérias sobre estas ações para que possam deleitar-se como eu e constatar o que é uma linha esportiva de alto nível e um trabalho de marketing bem feito.
http://www.mantosdofutebol.com.br/2013/03/juventus-e-umbro-e-a-volta-do-futebol-elegante/
http://www.futebolmarketing.com.br/2013/umbro-lanca-linha-casual-para-chapecoense/

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Que fique muito claro: não estamos aqui no blog fazendo campanha para a empresa A, B ou C. Tampouco estamos dizendo para o Grêmio trocar ou não de fornecedor. Como torcedores, apenas queremos que as melhores possibilidades sejam analisadas para o bem do clube, independentemente do parceiro escolhido para a empreitada. Neste ano o Grêmio comemora 3 décadas daquele que é considerado o maior ano de sua história. O lançamento de uma camisa alusiva ao mundial está programado para dezembro. Outras ações, contudo, já poderiam ter sido feitas desde o início do ano. Que o marketing tricolor comece a se mexer, pois o principal objetivo que ele tem não é manter os clientes atuais, pois isto não é necessário. Ele deve sim disponibilizar mais opções para uma torcida com grande poder aquisitivo e que está carente de ações mais incisivas. E não pode sequer justificar qualquer letargia com os resultados de campo. Se assim fosse, eu não teria ficado com tanta vontade de comprar uma destas novas camisas da Juventus ou da Chapecoense.
Saudações Imortais