28 de junho de 2013

"Minha paixão pelo Grêmio me levou onde estou"

Bruna Dalcin da Cas é uma jovem bastante engraçada e divertida. Com ela não tem tempo ruim. Corajosa e desprendida, quando terminou o Segundo Grau no Colégio Metodista Centenário em Santa Maria, fez algo que quase ninguém faz: encheu-se de coragem e foi a Curitiba para concorrer a uma bolsa para estudar e jogar futebol em uma universidade americana. Jogadora de futsal, nunca havia calçado um chuteira de futebol de campo. Mas, em se tratando de Bruna, isso era só um  detalhe insignificante.
Aprovada no teste, com apenas dezessete anos de idade lançou-se sozinha na maior aventura de sua vida. Deixou família, dezenas de amigos e o amado Grêmio para trás. Agora, aos 23 anos, formou-se no mês de maio em Administração na Southern Nazarene University, na cidade de Oklahoma City (Oklahoma- EUA). Segundo ela, "a Cidade dos Tornados".

Fanática pelo Grêmio desde que se conhece por gente, a santa-mariense tem como seu maior hábito desde a adolescência, andar para cima e para baixo devidamente fardada com a camiseta tricolor. Nos Estados Unidos jogou por quatro anos como meio-campo (ou atacante) no Crimson Storm. Depois, durante um ano atuou como assistente estudante da treinadora.
Sem data para retornar ao Brasil, Bruna sonha em conseguir ser contratada por uma empresa multinacional, pois “quero continuar viajando pelo mundo”, diz. “Mas um dia ainda volto”.
Mas o que o Grêmio tem a ver com tudo isso? Ela mesmo responde. “O Grêmio foi quem fez eu me apaixonar por esse esporte chamado futebol. E foi quem me levou onde estou hoje”. Enquanto espera pelas respostas de emprego em terras estrangeiras, Bruna nos conta como é viver longe do Grêmio e o que pensa a respeito da situação atual do clube e do time.

Formatura:"Com o Grêmio onde o Grêmio estiver"
 
Desde quando você lembra de ser gremista?
Cresci numa familia onde 98% são gremistas. E 85% dos amigos também. Então, não tive nem opção de torcer para outro time a não ser o nosso Tricolor.

É difícil ser uma torcedora mulher?
Hoje em dia não. Mas quando era menor, sofri muito preconceito por estar sempre no meio da gurizada (meninos). Mas nunca liguei, pois estava fazendo a coisa que gostava. Mas como torcedora mulher, sempre batalhei para ter meu espaço.

Você acompanhava todos os jogos do Grêmio quando morava no Brasil?
Sim. No estádio, na tv, no rádio. E agora na internet, sempre acompanho o Grêmio. Sou a legítima “Com o Grêmio onde o Grêmio estiver”. No Brasil, acompanhava os jogos com um grupo de amigos reunidos na casa de alguém, no bar da esquina ou até mesmo no clube, onde tinha uma sala de jogos. Nossa, tenho muito saudades disso!!! Juntos podíamos comentar, criticar e xingar o juiz durante os jogos.

Frequentava o estádio Olímpico? 
Como morava em Santa Maria (RS) era difícil ir ao estádio com frequência. A primeira vez que fui ao Olímpico foi com uma excursão do colégio. Devia ter nove anos de idade. Mas era só para visitar e pegar no máximo um jogo treino do time. Assim, só ficava mais na vontade para assistir meu primeiro jogo lá. Voltei ao Olímpico com uns treze anos para ver Grêmio x Guarani. Foi um jogo terrível. O Grêmio perdeu por 1x0, mas como era minha primeira vez assistindo, foi tudo emocionante. Depois, só fui voltar aos dezessete anos, porque ir ao estádio era difícil: “não era coisa de mulher” e também tinha muita violência. Para ir sempre tinha que passar pela barreira dos meus pais, o que não era nada fácil.

Já esteve na Arena? Quando?
Já estive lá para ver o jogo beneficente Amigos de Ronaldo x Amigos de Zidane. Mas não vejo a hora de ver um jogo do tricolor lá, com a casa lotada. É um estádio muito bonito e do mesmo padrão dos que já vi aqui nos Estados Unidos.

Como é estar a milhares de quilômetros do Brasil e não conseguir acompanhar o time de perto?
Aqui não tem muita graça torcer sozinha. Mas mesmo assim, fico na minha e apoiando o time na boa e na ruim. E comento através de chat com os amigos. O mais difícil também é achar um site que passe os jogos sem travar e ter uma imagem boa. Já pensei em comprar o pacote para assistir na tv aqui, mas é muito caro. Então, tenho que passar por tudo isso para assistir.


Com o uniforme do Grêmio pelo mundo.

O que você está achando do elenco atual e das atuações do Grêmio?
Sobre o nosso elenco, acredito que temos um bom time mas ainda falta algo. Talvez uma motivaçãozinha a mais que o nosso Pofexô não esteja sabendo dar. Fiquei bem triste com a saída do Fernando. Mas entendo que tinha muito dinheiro envolvido e que com a venda dele daria mais alívio nos cofres do Tricolor. Gostaria de ver mais o Biteco. O guri é rápido e com o tempo ele vai se adaptar melhor ao jogo duro. Com certeza ele é uma boa aposta para os próximos jogos.

Qual a sua opinião sobre o técnico Wanderley Luxemburgo?
Olha, nunca fui muito fã do nosso Pofexô, pois ele é um cara arrogante. Mas não posso negar que ele é um treinador de nome e que tem uma carreira vitoriosa por onde passou. Como qualquer outro treinador, ele tem seus up e down. Mas acredito que ainda vai ajudar o Grêmio a ser campeão!

O que você espera da atual direção do Grêmio?
Olha, está saindo melhor que eu esperava. Com toda a função da Arena nossa direção está tomando decisões corretas e positivas para o nosso clube.

Como você vê as disputas políticas no Grêmio?
Atualmente não acompanho diretamente a politicagem que corre dentro do Grêmio. Mas sei o que está acontecendo graças ao "nosso" blog Imortal Tricolor.

Como funciona a equipe de futebol feminina em que joga?
Aqui nos EUA, o soccer não é o esporte mais cobiçado entre a população, a não ser para as mulheres. Aqui o futebol feminino é bem mais forte que o masculino. E não tem preconceito nenhum! Inclusive jogo uma "pelada" com os amigos fora da universidade em uma arena onde os campeonatos são para times mistos (goleiro, três mulheres e três homens na linha) e gols de mulher valem dois. Muito divertido,  pois o jogo é bem competitivo e sem preconceito. Visando o lado tático do jogos aqui é bem diferente. Os americanos dão muito valor ao preparo físico. Como eles não têm muita qualidade nos pés para driblar, apostam naquele toquinho pro lado e corre... ou o famoso "bago pra frente e o atacante que se vire". Como eu era meio campo, passava minutos sem pegar na bola pois a ligação era defesa/ataque. Muitas vezes brigava com as meninas do time por causa disso, mas quem mandava era o professor. Então, eu ficava na minha.


Bruna em ação no time da Universidade americana.

Nos Estados Unidos, o que você conseguiu aprender ou ensinar em relação ao futebol?
O que eu aprendi e gostaria de levar para o Brasil, é o incentivo das Universidades e das pessoas ao esporte. As ligas universitárias são tão grandes como a do profissional. Digamos que a única diferença é que a temporada das ligas universitárias é um pouquinho mais curta pois temos que estudar. Quem no Brasil tem essa oportunidade de estudar e jogar em uma liga competitiva? É muito difícil, né? No Brasil chegamos numa idade em que você estuda e trabalha, ou investe no esporte e trabalha para sustentar sua paixão. Aqui muitos jogadores profissionais tem faculdade concluída. No Brasil, a maioria dos jogadores profissionais mal acabam o ensino fundamental.

Qual a visão dos americanos sobre o futebol brasileiro?
Os americanos são fãs do futebol brasileiro, pois temos o estilo "bonito" de jogar. Muitos anos atrás, o Pelé veio para cá para jogar. Desde então, os americanos viraram admiradores do nosso futebol.

A organização dos americanos é muito melhor do que a organização nos clubes brasileiros?
Com certeza. Sabemos que os americanos têm estruturas melhores que nós no Brasil. Assim, tendo melhor estrutura, tem um planejamento. Tendo planejamento, teremos pessoas para incentivar e investir. Coisas que no Brasil estão muito difíceis de conseguir. Sempre priorizamos o "jeitinho brasileiro"  ao invés de termos um plano.


Cinco anos de aprendizado: organização e planejamento.

É muito difícil tentar ser uma jogadora top como a Marta? 
Com certeza. Marta tem dom e uma habilidade que muitos homens e mulheres sonham em ter. Ela suou bastante para estar onde chegou. Para eu chegar aos seus pés e estar perto, teria que fazer o dobro do que ela fez. Por isso, a admiro muito.

Deixe seu recado para o presidente Fábio Koff.
Amigo Koff, cresci ouvindo seu nome, pois sempre por onde passou foi um campeão. E agora que cresci? Espero que não seja diferente. Vamos lá! Queremos Copa, títulos, jogadores com raça, treinadores de confiança. Então, aqui estão meus votos para o nosso sucesso, querido Presidente!
Abraços, Bruna Da Cas.