26 de junho de 2013

Daniel Matador: Segredos do Poder

Caros

Sempre ressaltamos que o blog é um fórum para tratarmos de Grêmio e futebol, assim como tudo aquilo que diz respeito a estes temas. Por conseguinte, temas como religião e política são aqui evitados, justamente por conta da pluralidade de ideias e do foco não concernente a este espaço. Entretanto, vi-me na obrigação de adentrar, mesmo que não totalmente, no campo da política neste post. Isto deve-se ao fato de que estamos vivenciando, já há algumas semanas, situações distintas por conta dos protestos que ocorrem Brasil afora. E não poderíamos alienar-nos sobre este tema, principalmente quando ele vem a influenciar diretamente nos assuntos do tricolor. Também escolhi este momento para que talvez haja tempo de reagirmos a algumas situações que, sob minha ótica (e creio que de toda a torcida), devem ser revistas.

Todos sabem que os governos, principalmente federal e municipal, têm andado a passo de tartaruga no tocante às obras de mobilidade no entorno da Arena do Grêmio. Já nem entro mais no mérito da necessidade destas obras, tal a obviedade do tema. Ainda que desconfiemos da origem da notícia, membro da ivi publicou hoje que, conforme fonte oficial (subentende-se que sejam os órgãos públicos), ANTT e DNIT ainda não liberaram uma área para a Prefeitura de Porto Alegre, o que está impedindo determinadas obras no entorno. Mais grave ainda, a Caixa não liberou R$ 10 milhões para tal obra, alegando justamente a questão da cessão da área. Assim como outras verbas desta natureza, caso o imbróglio não seja resolvido, os valores retornam para a Caixa e são perdidos. Aí sim seria o fim da picada, perdermos obras necessárias não apenas para o tricolor, mas principalmente para a grande população daquela região, por pura incompetência dos gestores públicos.

Enquanto isso, em Novo Hamburgo, temos uma situação insólita. Um clube que não tem estádio para jogar e tem utilizado um imóvel alugado na serra gaúcha para seus jogos procurou o clube local (Esporte Clube Novo Hamburgo) para que pudesse utilizar o Estádio do Vale. A alegação seria o grande desgaste com deslocamentos, o que estaria desagradando seu estelar elenco, não muito afeito a viagens de ônibus. Este grande desgaste seria corrigido reduzindo o tempo de deslocamento de 10 minutos para 2 minutos. O ponto é que, mesmo estando acuado com esta situação, praticamente tendo que implorar para ter um campo de jogo mais próximo, tal clube ainda faz exigências. E a Prefeitura de Novo Hamburgo está comprometida em empenhar R$ 100 mil para fazer uma rua nova, apenas para que o ônibus da delegação possa deslocar-se sem ter que utilizar o mesmo acesso dos torcedores comuns. É, amigos, este é o clube do povo.

Certamente deve estar sobrando dinheiro na Prefeitura de Novo Hamburgo, visto que irão direcionar estes recursos para uma obra que em nada irá auxiliar a cidade. Não haverá legado algum para o clube ou o entorno, até mesmo porque a alternativa para o mando dos jogos seria a utilização das famigeradas arquibancadas móveis, o que aumentaria a capacidade atual do estádio em 10 mil lugares, passando-a para 16 mil. Após a utilização em meia dúzia de jogos, as arquibancadas serão desmanchadas e o estádio voltará a ter 6 mil lugares. Portanto, sequer há prerrogativa para a utilização de dinheiro público para favorecer um grupo privado alegando benefício ao povo. Quem conhece o local, assim como eu conheço, sabe que estes R$ 100 mil poderiam ser utilizados de outra forma ali mesmo, favorecendo de forma eficaz o povo que mora naquele entorno.

Assim como todos, ainda gostaria de entender como este clube consegue com tanta facilidade as benesses oriundas do poder público. É compreensível não misturar futebol com política, porém é inconcebível que haja tantas facilidades para um lado e tantas dificuldades para outro. Assim como no título do filme estrelado por John Travolta em 1998, onde ele interpreta um candidato à presidência dos EUA, apenas os segredos do poder podem explicar tamanha disparidade de tratamento. Talvez seja o caso de aproveitar a onda de protestos que assola o país e tentar impedir que o uso dos recursos do povo venha a favorecer interesses privados sem que haja contrapartida para a população. Com a palavra (e talvez a ação), os inúmeros gremistas de Novo Hamburgo e região, que certamente devem ter sugestões melhores para a aplicação do dinheiro de seus impostos.

Saudações Imortais