2 de janeiro de 2014

Daniel Matador: Ilusões

“Lembre-se de onde veio e para onde vai...
E por que você criou a confusão em que se meteu...
Você terá uma morte horrível...”

Trecho de Ilusões, de Richard Bach

Caros

O dicionário apresenta alguns significados para a palavra “referência”. Este substantivo feminino pode significar “ato ou efeito de referir; relação de umas coisas com outras; alusão”, além de alguns outros significados que não vêm ao caso. E por qual motivo a etimologia ou estudo desta singela palavra poderia ser tema de análise? Justamente pelo fato de que conseguiram inventar um novo significado para ela. A ivi criou o termo composto “data de referência” para designar o prazo de entrega do remendão. Sim, aquele que, em tese, é o estádio que irá sediar os jogos da Copa do Mundo deste ano em Porto Alegre. O mesmo que foi escolhido em detrimento do mais moderno estádio das Américas. Aquele mesmo que anunciaram que sediaria a Copa das Confederações.

Ao tecer este post, lembrei-me do livro Ilusões, escrito por Richard Bach, autor do famoso Fernão Capelo Gaivota. Porque até agora a cidade recebeu apenas isso até o momento: ilusões. Já nem cabe aqui retomar o debate que foi travado na época da escolha do estádio. Era certo que, mesmo com a Arena reluzindo de nova, ela seria preterida em relação ao remendo da beira do lago. Que nem remendado estava na ocasião. Sua escolha como sede dos jogos foi o empurrão que faltava para que dinheiro público jorrasse e contratos fossem firmados com a utilização de pressões sobre construtoras que dependem da boa vontade do governo para que possam atuar sem maiores incômodos. O blog já divulgou em primeira mão e com exclusividade o maravilhoso contrato de financiamento junto ao BNDES. É de conhecimento público que o remendão saiu das mãos do clube para que pudesse ser dado como garantia do empréstimo. E a obra continua no passo de tartaruga que constrange a população.

De acordo com a previsão mais pessimista, a reforma do estádio deveria encerrar-se em dezembro do ano retrasado. Sim, a previsão era que em dezembro de 2012 tudo estivesse concluído. Obviamente, como todos sabem, este prazo não foi cumprido. E a saga das postergações de datas ganhava mais um capítulo. Tentaram arrastar mais alguns meses para garantir o local na Copa das Confederações, compromisso que o clube havia assumido e não conseguiram cumprir. Deram mais um balão jogando a data para setembro do ano passado. Também não cumpriram. Aí inventaram que deveria ser ao final do ano, prazo limite dado pela Fifa. Outra promessa descumprida. Neste caso, tiveram mais sorte do que juízo, pois o acidente ocorrido com o guindaste no Itaquerão fez com que a Fifa postergasse o prazo final para 28 de fevereiro deste ano. Um golpe de sorte do destino, claro. Mas não para o pessoal da ivi e para os gestores da obra. Decidiram criar aí o famigerado termo “data de referência”. Algo do tipo “será neste dia, mas não necessariamente neste dia”. Ou algo no estilo “vai chover certo, desde que não chova”, ou até mesmo uma das frases preferidas da ivi, “jogador fulano está fechado com o clube, só não virá se acontecer alguma coisa”.

E o clube inclusive lançou uma nota oficial para tentar explicar o inexplicável. E completam a tal nota dizendo que estão “muito felizes” em informar que a obra atrasou. SÉRIO, PUBLICARAM ISSO! Já falam que o local poderá ser reinaugurado sem a famosa cobertura feita com o metal do terceiro milênio. Com sorte, o grande jogo inaugural deverá ser contra o glorioso São Luiz de Ijuí, no charmoso ruralito. E é provável que muitos sócios não consigam entrar, pois já anunciam que o estádio terá “público reduzido, para garantir a segurança”. Sinceramente, é muita palhaçada. Desde a época da Baixada, um estádio cujo terreno o Grêmio comprou e cuja construção foi bancada pelo clube, vemos a desigualdade de tratamento dada aos governos às duas agremiações da capital. Mas o Grêmio e sua torcida não devem se preocupar com quem dá passo maior do que as pernas. Sigamos nossa trilha feita com o esforço de clube e torcida, sem ajudas excusas. Nossa grandeza sempre se fez assim.

Fico sentido apenas pelo fato de que o risco de realizarmos um enorme fiasco durante a Copa é possível. Sem clubismos aqui, apenas uma constatação do que todos notam, em face das inúmeras provas de incompetência já apresentadas. Nem cito a questão de acesso e entorno, que ainda carecem de urbanização. Torço para que estes problemas sejam resolvidos, a fim de que o mico não seja tão grande. Infelizmente, por obscuras razões políticas, optaram pela pior alternativa. Uma alternativa que até agora só apresenta falácias e “datas de referência”. Uma alternativa que, até o momento, só entregou ilusões.

Saudações Imortais