Caros
Os jogos foram as atividades mais importantes do calendário religioso romano. Anteriores à instituição da República em Roma, os jogos (ou ludi, em latim) começaram a se realizar em virtude do triunfo de algum general em determinada guerra ou batalha específica. Tanto que muitas vezes tais eventos eram encenados nas arenas. No período republicano, os jogos mais importantes eram realizados em homenagem a Júpiter Optimus Maximus, denominados os Grandes Jogos, tendo a duração de quinze dias. Além destes, havia também os fúnebres, herdados da tradição grega. Eram realizados no Fórum Romano, por ocasião da morte de algum personagem importante, e neles organizavam-se sobretudo lutas entre gladiadores.
Gladiador era um lutador treinado na Roma antiga, geralmente um escravo. O nome provém da espada curta usada por este lutador, o gladius. Eles enfrentavam-se para entreter o público e o duelo só terminava quando um deles morria ou ficava ferido a ponto de não poder mais combater. Nesse momento do combate o encarregado de presidir os jogos (quase sempre um imperador, senador ou figura importante da República) decidia se o derrotado morria ou não, frequentemente influenciado pela reação da plateia. Os jogos eram uma das faces mais visíveis da chamada política do “pão e circo” que Roma utilizava para manter seus cidadãos entretidos e não preocupados com o governo. Nas épocas de crise, uma tradicional frase proferida em uma arena lotada tinha o poder de estancar revoltas populares que estivessem crescendo. Ao subir na tribuna, o imperador proferia as épicas palavras: “Que os jogos comecem”! E tudo passava a fazer sentido para o povo de Roma, que novamente via em ação os gladiadores na arena.
O futebol parou no mês passado, os estádios não recebem mais público há algumas semanas e os ânimos parecem estar tão exaltados como se estivéssemos prestes a eclodir uma revolta popular. Durante o período de paralisação, notícias pipocavam sobre contratações, dispensas e tudo o mais que pudesse ser associado à vida do Grêmio. A torcida tricolor possui a peculiaridade de, em sua ampla maioria, acompanhar a vida do clube de uma forma intensa. Não foi diferente durante os dias em que a bola não rolou. Só que a falta de um gol, de um carrinho, de uma cobrança de falta e até mesmo de uma cobrança de pênalti acirrou os ânimos de tal maneira que somente uma coisa poderá aplacar novamente a ansiedade gremista: um jogo do Grêmio.
Na Roma antiga existiam os jogos menores e os grandes torneios. Obviamente que os melhores gladiadores tinham o direito de disputar as grandes lutas e aos menos capazes restava lutar nas arenas da periferia romana, muito mais modestas, contra adversários também mais desqualificados. Pois no futebol este ano não será diferente. Assim como teremos o filé, no caso a Libertadores da América, também teremos a carne de pescoço, no caso o “charmoso” Campeonato Gaúcho. Apenas algumas equipes terão o privilégio de disputar a mais importante taça continental, o tricolor entre elas. Já outras terão de se contentar em pisar no chão duro dos estádios do interior, pois será só isso que terão. O Grêmio enviará sua equipe de juniores para representá-lo nestas primeiras rodadas, a fim de que possa melhor preparar-se para a Libertadores. Contudo, esta equipe formada por garotos entrará em campo trajando o manto azul, preto e branco. Mesmo disputando um certame menor, será o Grêmio pisando o gramado novamente, depois de um tempo que pareceu uma eternidade.
Esqueça-se o período sem bola. Finde-se o tempo sem futebol. Encerre-se a época sem gol. Neste domingo o Grêmio entra em campo para jogar novamente. E a torcida estará junto com o Grêmio, onde o Grêmio estiver. Não importa contra quem seja. Não importa onde o jogo aconteça. Não importa o horário da partida. Não importa quem sejam os jogadores que estejam perfilados para honrar nossas cores mais uma vez. Tudo que importa é que o Grêmio vai jogar de novo, e nossa torcida e esperança estarão lá. Que os jogos comecem!
Saudações Imortais