17 de janeiro de 2014

O movimento paredista do Bom Senso e a Massa de Manobra

*Texto do leitor Guaru

Com o advento da Revolução Industrial no século XVIII, a relação entre o capital e o trabalho mudou drasticamente. As antigas corporações de ofício deram lugar a ambientes fabris, onde a tecnologia era empregada para a rápida transformação da matéria-prima. Os donos do capital dominaram os meios de produção e tiveram uma ampla oferta de mão de obra. Para equilibrar um pouco esta relação, os trabalhadores se organizaram em associações, cujo objetivo era a busca dos mais básicos direitos relativos à dignidade da pessoa humana. O movimento paredista, ou greve, era a arma do trabalhador na luta por seus direitos.

Três séculos se passaram e a greve se modernizou. São raras as oportunidades em que observamos os trabalhadores se unindo e realizando greves para ganhar um pouco mais que o salário mínimo, ou terem seus direitos básicos respeitados. A greve 2.0 serve para a elite dos trabalhadores, em especial, aqueles oriundos da Administração Pública, direta ou indireta.

O ano de 2013 nos rendeu algo novo: o Bom Senso Futebol Clube. A elite do futebol brasileiro se reuniu em busca de “um futebol melhor”. O contexto social atual no Brasil é propício para os que querem reclamar, ao velho estilo “Se hay gobierno soy contra”. Mas a elite do futebol teria que conquistar o povo. Para isso mostrou, entre outras, as seguintes bandeiras: “Ingressos mais baratos” e “Respeito ao Torcedor”.

Deu certo! Os minutos de protesto foram sucesso na maioria dos estádios. Raras foram as vaias.

Esse ano o movimento ousa. Fala-se em greve. A grande bandeira é o “fair play financeiro” e a “revisão do calendário”. Ou seja, querem receber mais, em dia e jogar menos.

O torcedor é apaixonado pelo clube. Respira o clube. Veria futebol de segunda a segunda. Gostaria que o clube fosse rico, mesmo que tenha que arrancar de seus bolsos para bancar o clube. Além disso, acha que os salários são absurdos e que um calote em alguns "faz-nada" seria bom.

Mas, mesmo que involuntariamente e de forma contraditória, aquele torcedor-médio que citei no último parágrafo está apoiando a greve. Aplaude tudo isso, afinal, é por “um futebol melhor”. É a famosa massa de manobra, cuja força é indispensável para a consecução dos objetivos do movimento.

Se há dúvidas que os interesses são egoístas, vejam as greves na Espanha e Argentina. O torcedor nunca foi beneficiado. Os jogadores franceses também pensam em parar, a bandeira é a luta contra os altos impostos cobrados pelo governo (afinal, querem ganhar rios de dinheiro e serem tributados como assalariados).

Mas fica a questão aos atletas do Bom Senso FC: será mesmo que a população sentirá falta de vocês em caso de greve? O caos de ficarmos sem uma rodada no final de semana não daria lugar a outros hobbies ou outros esportes?

Nossa paixão é pelo clube, esteja ele representado pelos astros ou por amadores barrigudos. Somos fanáticos pelo Grêmio, independente até mesmo do esporte: prefiro ver o Grêmio em campo jogando Rúgbi, do que a seleção brasileira na Copa do Mundo.