13 de setembro de 2014

Daniel Matador - Maldito Futebol Clube




“Não fui o maior treinador, mas sempre estive entre os Top 1.”
Brian Clough, imortal do futebol e gênio da raça.


Caros

O pessoal mais novo, da geração que curte o futebol europeu, mas que não conhece nada além de Barcelona e Bayern de Munique, certamente não tem como lembrar-se de uma época não muito distante, onde o Grêmio era conhecido como o clube mais odiado do Brasil e um dos mais temidos da América. Mesmo com elencos e atletas aparentemente medianos, o tricolor conseguia sobrepujar adversários pretensamente mais fortes e até mesmo aplicar sonoras surras em equipes que eram verdadeiras seleções. Uma das principais características desse Grêmio de outrora era a entrega em campo e o fato de não desistir nunca. Uma postura que costumava irritar por demais os adversários e principalmente o pessoal da imprensa do eixo, que não cansava de fazer campanhas veladas contra aquele time maldito, acusando-o de ser violento e praticar um anti-jogo que não condizia com o “futebol-arte” que deveria ser cultivado no Brasil. Enquanto todos choravam, o tricolor vencia jogos e erguia taças.

Pois esse mesmo pessoal da nova geração, que adora usar uma camisa do Real Madri ou do Manchester United só por modinha, provavelmente não tem nem ideia da história do verdadeiro futebol europeu, que muito influenciou o próprio Grêmio. Em 2009, o diretor Tom Hooper comandou a adaptação do livro de David Peace e fez um dos mais memoráveis filmes sobre futebol da história. Ouso dizer que é o melhor já feito até o momento. Maldito Futebol Clube conta a história real de Brian Clough, um ex-jogador que após ter atuado pelo Middlesbrough e pelo Sunderland, encerrou prematuramente a carreira aos 29 anos, por conta de uma grave lesão. Decidiu então tentar a carreira de técnico, tendo recebido a chance de comandar o modestíssimo Hartlepools United, onde ficou por dois anos sem grandes resultados. A passagem por lá, contudo, fez com que ele viesse a iniciar a parceria com Peter Taylor, seu assistente que o acompanhou por grande parte da carreira.

Juntamente com Taylor, Clough assumiu como técnico do Derby County, promovendo uma verdadeira revolução na equipe. Garimparam atletas e conseguiram tirar o clube da lanterna da segunda divisão inglesa na temporada 68/69. Mais que isso: foram campeões nesta mesma temporada, garantindo o acesso à primeira divisão na temporada seguinte, onde conseguiram manter-se. Na temporada 71/72, atingiram o feito inédito de erguer a taça da primeira divisão do campeonato inglês, derrotando equipes poderosas da época, como Liverpool e Manchester City. Clough não tinha papas na língua e detonava a imprensa nas entrevistas. Após ser vice-campeão continental, em uma final perdida para a Juventus, deixou o clube junto com seu fiel assistente Taylor. Passaram por equipes pequenas, até que Clough assumiu o poderoso Leeds United, desta vez sem a parceria de Taylor. Foi boicotado pelos jogadores, durou apenas 44 dias no clube e resolveu tirar férias.

Até que reatou a parceria com Taylor e juntos comandaram o Nottingham Forest em 75. Sem grandes conquistas, o Nottingham era rival histórico do Derby County e estava penando na segunda divisão. Após muito trabalho, em 77 conseguiu o acesso e em 78 conquistou o troféu da primeira divisão, batendo seleções como Manchester, Arsenal e Liverpool. Neste mesmo ano conquistou também a Copa da Liga Inglesa e a Supercopa da Inglaterra, feitos jamais imaginados pelos torcedores do Nottingham, que pela primeira vez na vida veriam o clube disputar a Liga dos Campeões da UEFA. Pois o modesto time eliminou logo na primeira fase o poderoso Liverpool e foi passando de fase, até conquistar o improvável título continental e também a Supercopa da UEFA, derrotando o Barcelona. E no ano seguinte ergueu o bicampeonato europeu da Liga dos Campeões, um feito que nem o mais fanático torcedor do Nottingham imaginaria. Brian Clough faleceu em 2004, aos 69 anos, em virtude de um câncer. Há estátuas e estradas com seu nome na Inglaterra, sendo que até hoje é reverenciado como um verdadeiro mito.

A pequena e resumida aula de história deste post serve apenas para fazer uma singela metáfora com o que aconteceu ao Grêmio em anos passados e, mesmo que timidamente, começa a dar sinais de que está novamente ocorrendo. Felipão é um técnico diferenciado. Assim como Clough, tem um fiel escudeiro, o bigodudo Murtosa, que o acompanha há anos. Também coleciona taças e feitos inimagináveis, levando equipes modestas a grandes conquistas, como o Criciúma, que até hoje conquistou suas maiores glórias por conta dele. E por que não o próprio Grêmio em 94, que nada mais era do que um grupo médio. Mais do que isso, o retorno de Felipão traz ao Grêmio parte de suas características que estavam escondidas em algum lugar. A entrega, a busca pelo gol nos últimos minutos (vide os jogos contra Flamengo e Atlético-PR) e o resgate de atletas pelos quais ninguém dava nada.

Neste domingo o tricolor entra em campo para jogar contra o Atlético-MG, visando as primeiras posições da tabela. O time vem incomodando muito nos últimos jogos. Tudo isso tem levado a outra consequência: o Grêmio está voltando a ser odiado no Brasil. As últimas ações dos tribunais esportivos, dos veículos de imprensa e até mesmo dos árbitros não deixam dúvidas. O Maldito Futebol Clube está de volta.

Saudações Imortais