31 de dezembro de 2014

Adriana Rodrigues: Cinco mil milhares

Desde que o Grêmio anunciou que pretende colocar as finanças da casa em ordem, uma espécie de histeria tomou conta do mundo. De um lado, torcedores esbravejando e entoando o clássico mantra “Queremos time, não lucro!”; de outro, alguns setores da imprensa criticando a intenção e mostrando “preocupação” com o clube.

O caso dos torcedores é compreensível, até o ponto em que se entenda que o Clube não busca lucro. Quer apenas equilibrar as finanças, gastar o que pode pagar, colocar as contas em dia. Parar com a correria para pagar a próxima folha ou a folha que já passou. Atitude saudável e que deveria ser louvada. É claro que queremos um time que ganhe títulos. Alguém pensa que alguma Diretoria não quer levantar todas as taças possíveis? Como torcedora, eu me coloco no meio termo: saúdo a decisão de respeitar as possibilidades financeiras do clube e espero para ver o time que vem. Temos o Gauchão como laboratório e treinamento. Àqueles que vociferam como se estivéssemos em pleno final dos tempos com a saída de Pará, Dudu e Zé Roberto, peço que façam uma análise criteriosa se, efetivamente, farão falta pelo que apresentaram em 2014.

Já o ponto de vista de alguns jornalistas (dizendo-se preocupados com o Grêmio) é, curiosamente, conflitante com afirmações de alguns deles, quando dizem que os salários do futebol no Brasil são irreais. O Clube faz um movimento para colocar os pés na realidade e eles reagem com a mesma irracionalidade que apontam nos dirigentes em geral. Alguns afirmam que não se faz futebol com uma folha de R$ 5 milhões. Fiz um exercício, sobre o que se pode montar em termos de plantel com esse gasto mensal. Vejam o quadro abaixo. Pode-se contratar 30 jogadores, nas faixas salariais indicadas. Sobram R$ 560 mil para a Comissão Técnica.




Pode haver quem ache que cinco mil milhares não é suficiente, mas é possível sim. Já tivemos inúmeras provas de que de nada adianta trazer medalhões, montar uma equipe com folha salarial altíssima, dar curso às loucuras financeiras do mundo do futebol. Medalhões não garantem nada, além dos ganhos seus e dos empresários que os cercam. Nossas maiores conquistas foram com times sem estrelas, alguns jovens oriundos da base, outros vindo de bancos de reserva de times de fora, do interior do Rio Grande do Sul e do Brasil.

É preciso encarar a realidade de frente e ela é pródiga em demonstrações de que se gasta desnecessariamente no futebol. Contratar não é garantia de formar time. Quanto a isso, não tenho dúvida. Quantos jogadores tidos como ”soluções” acabam na reserva, são emprestados, "encostados", etc... Isso sem falar nas apostas caras. Apostas são apostas, não devem envolver valores elevados. Temos um grupo grande de jogadores. Mais de 60, pelo que se lê. Mas... de que adianta? Consomem volume considerável de recursos, dando muito pouco como retorno. Aparentemente, o Grêmio tem um dos maiores elencos do Brasil. Me refiro a números, Caros. O plantel do Tricolor é muito, muito grande. São anos de muitas contratações aumentando o estoque. É hora de racionalizar e isso não se consegue de uma penada. Serão, talvez, 1 ou 2 anos para desovar as “soluções” do passado.

Acho mesmo que o melhor para o Grêmio em 2015 é a Direção reduzir os custos, o quadro, colocar os garotos da base e livrar-se de quem for possível daqueles que estão somente sugando o dinheiro do Clube e não dando a resposta exigida. Infelizmente, hoje em dia, os jogadores querem é ganhar o seu dinheiro e era isso. Se conquistar ou não títulos, é doloroso, ok, mas são os torcedores que sofrem as piores consequências, que choram. Ao Clube resta lamentar, perde vitrine e faturamento. Perdoem-me, não querendo generalizar, mas já generalizando, esta é a realidade. Amanhã ou depois, os mesmos estarão vestindo outra camisa, e almejando os mesmos títulos em outras praças. Então deve ser feito o que for melhor para o Clube no médio e no longo prazos.

Vejo uma luz no fim do túnel quando ouço as entrevistas de alguns membros da Direção, mas parece que a maioria de nós é obcecada pelo “ganhar Títulos” e ficam cegos e surdos, com relação à realidade do Grêmio. E aí criticam, criticam e criticam. Apoiam fervorosamente o time nos jogos na Arena, mas é um escorregão e vem o "apedrejamento". Felizmente, o alvo da atual Direção é claramente colocar o Grêmio numa linha de equilíbrio financeiro, que irá se tornar requisito fundamental para o sucesso de todos os clubes em futuro muito próximo. Eu serei alvo de muitos torcedores, creio, por expor minhas ideias neste texto, mas só tenho olhos para o bem do Grêmio. Nada mais.

Aliás, o fato de o Grêmio ter falado abertamente sobre a necessidade desse ajuste fez os olhos bem e mal intencionados se voltarem para ele. E fala-se e se fala da crise no nosso Grêmio. Pelo que leio e ouço, não temos a exclusividade disso. Aliás, nem somos o clube em piores condições. Longe disso. Além disso, temos a nosso favor o fato da Comissão Técnica ter entendido a necessidade de se incorporado ao trabalho da Direção. Isso é um trunfo, um ponto positivo e não algo negativo como alguns propalam. Felipão chegou a ser chamado de “primeiro ministro” por um jornalista da praça. Falta a este entendimento de como funciona o mundo real, fora da redação e da caixinha de pesquisa do Google. Permear toda a estrutura com o objetivo buscado é condição sine qua non para se alcançar os melhores resultados.

Por fim, espero que o nosso Tricolor, em que pese estar dando início à uma difícil e intensa caminhada, tenha um próspero 2015. Vamos fazer a lição de casa para poder almejar um futuro promissor. Com determinação e foco. Foco de todos, começando pela Direção e continuando por nós, torcedores.

Beijo Azul!
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Post escrito por Adriana Rodrigues.