Por Mílton Jung
Bahia 1 x 0 Grêmio
Campeonato Brasileiro – Fonte Nova (BA)
Estive em Porto Alegre neste fim de
semana. Oportunidade para conviver e relembrar, pois mesmo com poucos
dias de estada visitei lugares marcantes para minha vida, a começar pelo
fato de que sempre reencontro-me com a casa na qual cresci e amadureci
(ou nem tanto), na Saldanha Marinho, no bairro Menino Deus, onde moram
meu irmão, Christian, e minha cunhada, Lucia, bem próximo do saudoso
estádio Olímpico, que, aliás, permanece lá, sem o anel superior e com
estrutura cicatrizada pelo tempo, sofrimentos e conquistas. Convidado
por meu sobrinho mais novo, o Fernando, irmão da Vitória (de belo e
significativo nome, não?), fui assistir a atividade de encerramento de
ano escolar no Colégio Marista Rosário, o mesmo onde estudei quando
ainda levava o nome de Nossa Senhora do Rosário. Por lá joguei bola, fui
campeão de basquete, namorei muito, me esborrachei no chão, presidi o
grêmio estudantil e participei de intensos debates clubísticos com os
colegas que teimavam em torcer para times adversários – lembro que
alguns eram SER Caxias, outros São José, Cruzeiro ou times de menor
expressão. Apesar de não ter citado na frase anterior, também estudei,
mas não era muito fanático por esta prática.
Curiosamente, a atividade desse sábado
pela manhã era no teatro da escola, onde frustrei minha carreira de
cantor, depois de ser afastado do coral pelo irmão Alduino. Registre-se,
ele tinha toda razão. No palco do teatro, porém, tive algumas passagens
artísticas nas encenações de fim de ano organizadas pela professora
Tânia. Assim com o teatro mantém muitas das lembranças daquela época,
apesar de renovado, encontrei-as também passeando nos corredores do
prédio original da escola, com os azulejos verdes na parede e o piso
quadriculado em preto e branco. A cantina ocupa o mesmo espaço, assim
como a sala do professores e a do GER – Grêmio Estudantil Rosariense.
Lembrei de algumas salas de aula, provavelmente devo ter confundido
outras, e as achei muito parecidas, exceção à lousa que não é mais de
giz. O pátio tem mobiliário novo mas sofreu poucas mudanças. Caminhar
dentro do Rosário, ver a sala de troféus e algumas fotos do passado me
emocionaram.
Fiz questão de visitar a Arena Grêmio,
no bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre. Por incrível que seja,
até hoje não assisti a partidas de futebol na nova casa gremista e
apenas havia apreciado a bela arquitetura nas vezes que aterrisei no
aeroporto Salgado Filho. Se do alto, a Arena chama atenção, é de perto
que se tem noção clara das suas dimensões e do que pode representar
quando tomada de torcedores. Havia alguns visitantes como eu percorrendo
o entorno e parte de suas dependências, tirando fotografia, guardando
recordações e sonhando com os títulos que virão. Havia os que se
preparavam para a competição esportiva mais importante no fim de semana,
em Porto Alegre: a Corrida do Grêmio que, soube há pouco, reuniu 5 mil
pessoas, no domingo pela manhã. Consta que outra atividade estaria
marcada para sábado à noite, na avenida Padre Cacique, mas de menor
relevância; não sei bem o que se sucedeu por lá.
Prestei muita atenção no movimento
daqueles gremistas que encararam o forte calor deste fim de semana
porto-alegrense, na forma carinhosa com que apreciavam os paineis com
ilustrações do tricolor, no interesse pelos souveniers oferecidos na
loja GremioMania e nas conversas paralelas entre amigos, casais e
famílias. Havia orgulho e alegria entre os muitos que vestiam nossa
camisa. Nenhum parecia se importar com as dificuldades e falta de
resultado que se avizinharam. Afinal, não somos gremistas porque
ganhamos a vaga sejá lá pra qual for a competição, ou porque vencemos
mais um título; nem deixaremos de sê-lo apenas por uma ou outra
temporada sem conquistas, ou por um elenco que não nos agrade por
completo. Somos gremistas porque o destino nos colocou neste caminho;
alguém muito especial, uma luz qualquer ou um momento incrível – de dor
ou de alegria – fez explodir esta paixão.
Diante de tudo isso, a partida desta
noite em Salvador e a possibilidade de ainda termos um lugar na
Libertadores do ano que vem ficaram menores, quase irrelevantes. Mas que
eu queria ter visto nosso time brigando e acreditando até o fim, não
tenha dúvida, eu queria. Porque eu sou gremista!