21 de dezembro de 2014

Daniel Matador - O Destino é Inexorável




"Todos temos medo. Ele se arrasta por dentro da gente como um animal, gadanha as tripas, enfraquece os músculos, tenta soltar as entranhas e quer que a gente se encolha e chore, mas o medo deve ser empurrado para longe e a habilidade deve ser liberada, e a selvageria vai levar a gente até o final. Wyrd bið ful aræd, é como dizemos, e é verdade. O destino é inexorável."
Uhtred Uhtredson, protagonista das Crônicas Saxônicas, de Bernard Cornwell.

Caros

Esta é a pior época para falarmos de futebol e Grêmio. Justamente porque é a época em que as quatro linhas dão lugar às especulações e terrorismos originados em várias fontes. Desde a própria torcida, passando pela imprensa e outros envolvidos, não há quem não tenha algum pitaco para dar sobre a situação do tricolor. Os manolos discorrem sobre orçamentos milionários do futebol, sendo que o máximo de finanças que conhecem é a separação do troco pro busão. Dão palestras sobre preparação física, mesmo tendo uma vida sedentária. Falam sobre negociações de contrato, sendo que o maior negócio que já fizeram foi comprar um celular em 10 vezes no cartão.

Mas como todo brasileiro é um técnico em potencial, praticamente todos acham-se no direito, e por que não dizer, quase que na obrigação de fazer suas teses sobre o mundo da bola. E o período recente sem grandes títulos do Grêmio tem tornado esta situação bem complicada. Óbvio que é algo muito ruim. Ninguém quer ficar sem vencer. Todo torcedor espera erguer taças. Só que os últimos anos têm gerado uma geração de profetas analfabetos do apocalipse como nunca se viu igual. Nem o pessoal da beira do lago, que passou por fases muito piores, onde só viam o tricolor vencer sem ter sequer algum título histórico para rebater (mesmo que tivesse sido erguido há um certo tempo) chegou a tanto.

Este sentimento de temor que assola boa parte da torcida gremista deve ser extirpado. “Ah, Matador, isso só vai acontecer com algum grande título”. Sim, claro, muito provavelmente. Mas mesmo nas áureas fases, quando éramos reis, os profetas do apocalipse não largavam de mão. Parecem que são surdos (ou burros mesmo) e não conseguiram até hoje compreender que o futebol é cíclico. E que, por mais que possa não parecer, voltaremos a vencer em breve. E isso não é só um desejo, mas sim uma percepção, considerando todos os passos que o clube tem dado até agora.

Ah, mas e 2015? Não teremos Libertadores e alguns atletas saíram do grupo. Sim, mas talvez pela primeira vez em todo este período mais conturbado, temos a chance de iniciar o ano com uma comissão técnica já formada e alinhada com a direção. Alguns jogadores saíram, como é natural em qualquer clube. O tão odiado Pará finalmente deixou a lateral direita. Ruiz, mesmo tendo feito chover no Gre-nal nos poucos minutos em que jogou, não mostrou futebol suficiente durante todo o período em que aqui esteve a ponto de justificar o valor que pediam por seus direitos federativos. Dudu, apesar da movimentação que fazia no ataque, marcou raríssimos gols, algo fatal para quem é atacante, e também não justificou o caminhão de dinheiro que pediam por ele. Zé Roberto é outro que encerrou seu ciclo e cujo salário não condizia mais com o que poderia apresentar, não obstante sua natural qualidade.

E quem chega? O já conhecido Douglas, que por mais defeitos que possa ter, é um 10 de ofício, veio de graça, por um salário compatível e ainda assinando um contrato por produtividade. Se pifar 3 ou 4 bolas por jogo, paga-se com folga. Marcelo Oliveira vem do Palmeiras com poucas credenciais. Ainda assim, é malhado antes mesmo de fardar. O que talvez aconteça com algum garoto da base que porventura vá mal em algum jogo. Se não estraçalhar de cara, a vaia pega. Como se as categorias de base do Brasil inteiro estivessem recheadas de craques que estouram todos os anos.

E justamente aqui há outro ponto importantíssimo que tem de ser citado como um marco na virada que o Grêmio está proporcionando como instituição. Neste ano, contrariando o que vinha ocorrendo nas últimas temporadas, o tricolor foi campeão estadual nas categorias Sub-9, Sub-10, Sub-11, Sub-12, Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20. Resta apenas a categoria Sub-14, onde ganhamos o primeiro Gre-nal e o segundo (disputado neste último sábado) foi interrompido porque houve uma invasão de campo por parte da comissão técnica do adversário aos 30 minutos de jogo. O placar marcava 0 x 0, resultado este que nos daria o título. Inclusive um preparador físico adversário agrediu um dos atletas tricolores e foi preso, de acordo com informações divulgadas até o momento. Fala-se nos bastidores que, por ter tomado um laço em todas as competições do ano, o clima nas categorias de base no lado red está tenso. Talvez por isso tenham apelado, ao sentirem que levariam mais um revés. Estão percebendo que a maré está mudando.

A situação do Grêmio não é maravilhosa. O clube ainda tem uma série de compromissos financeiros para quitar e terá de apertar o cinto na próxima temporada. Mas também não estamos vivendo uma catástrofe. A Fifa já sinalizou que não poderá mais existir o “fatiamento” de direitos econômicos de jogadores. Isso fará com que haja um freio muito grande por parte dos "investidores abnegados" que costumam comprar jogadores e cedê-los "de graça". Muitos clubes, não fosse este tipo de estratagema, jamais teriam montado plantéis ou erguido alguma taça nos últimos anos. Pois agora a coisa vai mudar. E os clubes que não se adequarem estarão em maus lençóis. Desta forma, a racionalização dos gastos com o futebol é uma necessidade.

De nada adianta temermos por um futuro que sequer iniciou. A nova temporada nem começou, portanto tratemos de transformar algum possível receio em força para erguer o clube. Não trata-se aqui de dar apoio incondicional, alentar cegamente, acreditar em alguma pretensa força sobrenatural ou coisas do gênero. E sim de entender que um trabalho está sendo feito e poderá render frutos, por mais que muitos não entendam ou não concordem com a forma como ele está sendo conduzido.

O medo de fracassar existe, porém não pode sobrepor-se à vontade de vencer. Faz-se a mesma força para acreditar ou não acreditar. Eu, particularmente, sempre acredito. E creio que poderemos ter um 2015 vencedor pois, como diz meu amigo @BlogdoMosquetei, o Grêmio é grande, o Grêmio é forte. Não poderão dizer que nossa sina de sermos grandes acabou. Até mesmo porque ninguém sabe como a roda do destino vai girar daqui a pouco. Como diz o título deste post, extraído da espetacular obra Crônicas Saxônicas, do genial escritor britânico Bernard Cornwell, o destino é inexorável. 

Saudações Imortais