"Todos temos medo. Ele se arrasta por dentro da gente
como um animal, gadanha as tripas, enfraquece os músculos, tenta soltar as
entranhas e quer que a gente se encolha e chore, mas o medo deve ser empurrado
para longe e a habilidade deve ser liberada, e a selvageria vai levar a gente
até o final. Wyrd bið ful aræd, é como dizemos, e é verdade. O destino é
inexorável."
Uhtred Uhtredson, protagonista das Crônicas Saxônicas, de Bernard
Cornwell.
Caros
Esta é a pior época para falarmos de futebol e Grêmio.
Justamente porque é a época em que as quatro linhas dão lugar às especulações e
terrorismos originados em várias fontes. Desde a própria torcida, passando pela
imprensa e outros envolvidos, não há quem não tenha algum pitaco para dar sobre
a situação do tricolor. Os manolos discorrem sobre orçamentos milionários do
futebol, sendo que o máximo de finanças que conhecem é a separação do troco pro
busão. Dão palestras sobre preparação física, mesmo tendo uma vida sedentária.
Falam sobre negociações de contrato, sendo que o maior negócio que já fizeram
foi comprar um celular em 10 vezes no cartão.
Mas como todo brasileiro é um técnico em potencial,
praticamente todos acham-se no direito, e por que não dizer, quase que na
obrigação de fazer suas teses sobre o mundo da bola. E o período recente sem
grandes títulos do Grêmio tem tornado esta situação bem complicada. Óbvio que é
algo muito ruim. Ninguém quer ficar sem vencer. Todo torcedor espera erguer taças.
Só que os últimos anos têm gerado uma geração de profetas analfabetos do
apocalipse como nunca se viu igual. Nem o pessoal da beira do lago, que passou
por fases muito piores, onde só viam o tricolor vencer sem ter sequer algum
título histórico para rebater (mesmo que tivesse sido erguido há um certo
tempo) chegou a tanto.
Este sentimento de temor que assola boa parte da torcida
gremista deve ser extirpado. “Ah, Matador, isso só vai acontecer com algum grande
título”. Sim, claro, muito provavelmente. Mas mesmo nas áureas fases, quando
éramos reis, os profetas do apocalipse não largavam de mão. Parecem que são
surdos (ou burros mesmo) e não conseguiram até hoje compreender que o futebol é
cíclico. E que, por mais que possa não parecer, voltaremos a vencer em breve. E
isso não é só um desejo, mas sim uma percepção, considerando todos os passos
que o clube tem dado até agora.
Ah, mas e 2015? Não teremos Libertadores e alguns atletas
saíram do grupo. Sim, mas talvez pela primeira vez em todo este período mais
conturbado, temos a chance de iniciar o ano com uma comissão técnica já
formada e alinhada com a direção. Alguns jogadores saíram, como é natural em qualquer clube. O tão
odiado Pará finalmente deixou a lateral direita. Ruiz, mesmo tendo feito
chover no Gre-nal nos poucos minutos em que jogou, não mostrou futebol
suficiente durante todo o período em que aqui esteve a ponto de justificar o
valor que pediam por seus direitos federativos. Dudu, apesar da movimentação
que fazia no ataque, marcou raríssimos gols, algo fatal para quem é atacante, e também
não justificou o caminhão de dinheiro que pediam por ele. Zé Roberto é outro
que encerrou seu ciclo e cujo salário não condizia mais com o que
poderia apresentar, não obstante sua natural qualidade.
E quem chega? O já conhecido Douglas, que por mais defeitos
que possa ter, é um 10 de ofício, veio de graça, por um salário compatível e ainda assinando um
contrato por produtividade. Se pifar 3 ou 4 bolas por jogo, paga-se com folga.
Marcelo Oliveira vem do Palmeiras com poucas credenciais. Ainda assim, é
malhado antes mesmo de fardar. O que talvez aconteça com algum garoto da base
que porventura vá mal em algum jogo. Se não estraçalhar de cara, a vaia pega.
Como se as categorias de base do Brasil inteiro estivessem recheadas de
craques que estouram todos os anos.
E justamente aqui há outro ponto importantíssimo que tem de ser citado
como um marco na virada que o Grêmio está proporcionando como instituição.
Neste ano, contrariando o que vinha ocorrendo nas últimas temporadas, o
tricolor foi campeão estadual nas categorias Sub-9, Sub-10, Sub-11, Sub-12, Sub-13,
Sub-15, Sub-17 e Sub-20. Resta apenas a categoria Sub-14, onde ganhamos o
primeiro Gre-nal e o segundo (disputado neste último sábado) foi interrompido
porque houve uma invasão de campo por parte da comissão técnica do adversário
aos 30 minutos de jogo. O placar marcava 0 x 0, resultado este que nos daria o
título. Inclusive um preparador físico adversário agrediu um dos atletas tricolores e foi preso, de acordo com informações divulgadas até o momento. Fala-se nos bastidores que, por ter tomado um laço em todas as competições do ano, o clima nas categorias de base no lado red está tenso. Talvez por isso tenham apelado, ao sentirem que levariam mais um revés. Estão percebendo que a maré está mudando.
A situação do Grêmio não é maravilhosa. O clube ainda tem
uma série de compromissos financeiros para quitar e terá de apertar o cinto na
próxima temporada. Mas também não estamos vivendo uma catástrofe. A Fifa já
sinalizou que não poderá mais existir o “fatiamento” de direitos econômicos de
jogadores. Isso fará com que haja um freio muito grande por parte dos "investidores abnegados" que costumam comprar jogadores e cedê-los "de graça". Muitos clubes, não fosse este tipo de estratagema, jamais teriam
montado plantéis ou erguido alguma taça nos últimos anos. Pois agora a coisa
vai mudar. E os clubes que não se adequarem estarão em maus lençóis. Desta
forma, a racionalização dos gastos com o futebol é uma necessidade.
De nada adianta temermos por um futuro que sequer iniciou. A
nova temporada nem começou, portanto tratemos de transformar algum possível
receio em força para erguer o clube. Não trata-se aqui de dar apoio
incondicional, alentar cegamente, acreditar em alguma pretensa força
sobrenatural ou coisas do gênero. E sim de entender que um trabalho está sendo
feito e poderá render frutos, por mais que muitos não entendam ou não concordem
com a forma como ele está sendo conduzido.
O medo de fracassar existe, porém não pode sobrepor-se à
vontade de vencer. Faz-se a mesma força para acreditar ou não acreditar. Eu,
particularmente, sempre acredito. E creio que poderemos ter um 2015 vencedor
pois, como diz meu amigo @BlogdoMosquetei, o Grêmio é grande, o Grêmio é
forte. Não poderão dizer que nossa sina de sermos grandes acabou. Até mesmo
porque ninguém sabe como a roda do destino vai girar daqui a pouco. Como diz o
título deste post, extraído da espetacular obra Crônicas Saxônicas, do genial
escritor britânico Bernard Cornwell, o destino é inexorável.
Saudações Imortais