19 de julho de 2015

Avalanche Tricolor: a superstição não é capaz de resolver todos os nossos problemas

Por Milton Jung


Flamengo 1×0 Grêmio
Brasileiro – Maracanã/RJ


Confio mais em Roger do que em superstição (foto Grêmio Oficial no Flickr)

Confio mais em Roger do que em superstição (foto Grêmio Oficial no Flickr)

Houve época em que para assistir ao clássico gaúcho no campo adversário, seguia para lá acompanhando parte da diretoria e comissão técnica do Grêmio. Era jovem ainda e meu pai, que narrava as partidas, por segurança, entregava minha guarda a um de muitos amigos que tinha no clube. Isso me permitia, por exemplo, o privilégio de chegar ao estádio e frequentar dependências restritas à delegação visitante. Lembro de quando entramos no vestiário que, em seguida, receberia os jogadores gremistas, e encontramos os espelhos pichados com palavras de ameaça religiosa. Se é que a memória não falha, havia coisas do tipo “suas pernas serão presas pelo santo-sei-lá-qual”. Isso foi pelas décadas de 1970 e 1980. Prontamente pessoas que estavam comigo começaram a apagar as frases pois disseram que se os jogadores lessem as ameaças teriam seu desempenho afetado em campo. Parece-me que vencemos aquele clássico.

As superstições sempre fizeram parte da nossa vida e, na maioria das vezes, de forma inexplicável. Aliás, essa é uma de suas características já que são crendices, estão baseadas em situações de casualidade que não podem ser analisadas de forma racional ou empírica. O esporte é rico nessas histórias. Você há de se lembrar de Zagallo que impôs ao número 13 a responsabilidade pela classificação do Brasil para o Mundial da Alemanha, em 2006. Muito antes disso, em 1962, os jornalistas que cobriam a Copa foram levados a repetir em todos os jogos a mesma roupa que vestiram na primeira partida. Fomos bicampeões. Tem jogador que se trocar o número da camisa marca menos gol, há os que tomam o cuidado de entrar em campo pisando com o pé direito ou fazem o sinal da cruz inúmeras vezes.

No Grêmio, até algumas rodadas atrás, a camisa azul em degradê foi vestida à exaustão, partida após partida, pois seria ela a responsável pelo bom desempenho da equipe e a sequência de vitórias que nos levaram ao topo do Campeonato Brasileiro. Sexta-feira passada, um amigo tricolor me ligou pois soube que eu havia assistido à derrota contra o Criciúma, pela Copa do Brasil, em casa, aqui em São Paulo, e não no exterior, como fiz nos jogos anteriores em que tivemos muito mais sucesso. Fiquei na dúvida se a sugestão dele era que eu estendesse minhas férias até o fim do Brasileiro ou apenas desistisse de ver o jogo contra o Flamengo. Eu assisti ao jogo de sábado à noite em casa da mesma maneira que havia feito na terça-feira. Perdemos, como você já sabe.

Bem que eu gostaria de acreditar que foi a minha decisão a responsável pelo mau desempenho gremista, no Maracanã. Mas, infelizmente, a falta de precisão do meio para frente e de inspiração do meio para trás têm outras causas muito mais de caráter técnico e tático do que sobrenatural. E para resolvê-las prefiro confiar na capacidade de Roger.