19 de março de 2016

Jonas Silveira: A Altitude de Quito

Eu estive na altitude e sei que é um problemão. Especialmente entre o segundo e o terceiro dia. Estes são os piores, e os clubes que vão jogar na altitude, geralmente chegam um ou dois dias antes. E quase sempre se ferram.
Por isto estou muito preocupado com o jogo de Quito. E como vi um comentário do Jonas contestando uma fala do VP de futebol do Grêmio e eu concordei, pedi para que ele fizesse um post. Segue abaixo.

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César Pacheco deu entrevista dizendo que, em 2013, o Grêmio de Vanderlei Luxemburgo viajou 11 dias antes para a altitude, ”mas não deu certo”. É a famosa análise de resultado, como perdeu de 1x0, então o planejamento “não deu certo”.

Ocorre que tem vários fatores que estão sendo ignorados quanto a essa partida... Um deles é a data. O jogo ocorreu no dia 23 de Janeiro de 2013. No dia 20, a equipe reserva que ficou em Porto Alegre venceu o Esportivo fora de casa, com gols de Lucas Coelho e Paulinho; escalada assim: Busatto, Tinga, Gerson, Werley e Carlos Alexandre; Léo Gago, Ramiro, Calyson e Rondinelly; Gustavo Xuxa e Lucas Coelho; entraram Deretti, Misael e Paulinho. A equipe que atuou em Quito não havia estreado na temporada, e mal havia começado sua preparação.

Outro fator importante é o da escalação. Só olhando a diferença entre a partida de ida e a de volta naquela Libertadores, se percebem vários erros de avaliação. O Grêmio perdeu em Quito com esse time: Dida (Marcelo); Tony, Cris, Saimon e Pará improvisado na esquerda; Fernando, Souza, Elano (Marco Antônio) e Zé Roberto; Marcelo Moreno e William José (Eduardo Vargas).

Dida, é sabido, não renovaria contrato e seria substituído com acréscimos por Marcelo no ano seguinte. Ele se machucou aos 29 minutos do segundo tempo em Quito e não atuou em Porto Alegre, onde o Grêmio venceu e se classificou nos pênaltis. Tony é um jogador que nunca vingou e jamais virou titular do Grêmio; Cris foi uma das piores contratações para a defesa dos últimos anos, furando inúmeros lances por cima; Saimon nunca teve sequência; Pará foi um atraso de vida para o clube, especialmente quando jogava pela esquerda, o que é um absurdo ainda maior quando olharmos para quem ficou de fora nessa oportunidade; o meio de campo foi formado por quatro volantes, um deles, o futuro lateral esquerdo do Palmeiras Zé Roberto, era a referência técnica do time. A dupla de ataque eram dois aipins... William José, por sinal, outra lamentável contratação.

Ainda assim, só sofremos o gol em um lance de bate-rebate da defesa, aos 30 do segundo tempo. Naquele jogo, o Grêmio botou bolas na trave aos 15 minutos do segudo tempo, com Souza, e aos 46, com Fernando. Teve ainda três chances de gol nos primeiros 10 minutos do segundo tempo, muito por conta da entrada de Eduardo Vargas no lugar de William José. Por mais displicente que tenha sido Vargas no Grêmio, não dá pra comparar seu futebol com o de William José, existe um abismo de diferença.

Mas mesmo no primeiro tempo o Grêmio já havia igualado a LDU em chances de gol, com uma para cada equipe, fazendo aquele tipo de jogo que nos tem eliminado de todas as competições nos últimos anos: marcando e jogando no contra-ataque.

O Grêmio “voltou vivo”, como diz o pessoal do SINPOF, e se classificou com esse time: Grohe; Pará, Saimon, Bressan e Alex Telles; Fernando (José), Souza, Elano (Deretti) e Zé Roberto; Vargas e Moreno (André Lima). Esse foi o famoso jogo da Avalanche que rompeu o muro.

Bressan e Alex Telles poderiam ter sido titulares em Quito, mas “não estavam prontos”. A improvisação de Pará na esquerda em detrimento do futuro melhor lateral esquerdo do Campeonato Brasileiro é mais uma vitória inexplicável dos “cascudistas” contra a realidade fática. Outro jogador que seria importante pro Grêmio durante o ano, mas ainda estava com a equipe B era o Ramiro. Vargas jogou os 90 minutos nessa segunda partida, na qual o Grêmio atuou por todo o segundo tempo com três atacantes: José, Vargas e André Lima; Souza se tornou o único volante, função que faria muito bem no São Paulo e lhe renderia transferência para o Fenerbahçe (no Grêmio, seguiríamos insistindo que ele não tinha condições de atuar sem o apoio de um ou dois marcadores no meio), e o jogo foi resolvido por um chute no ângulo de Elano, surpreendendo o goleiro Dominguez, que ainda atua na equipe de Quito e na Seleção Equatoriana.

A equipe que o Grêmio enfrentou em Quito, além do goleiro Dominguez, tinha o zagueiro Araújo e o volante Fernando Hidalgo, que seguem no time e também caíram de quatro na Arena nesse ano; os zagueiros Eduardo Morante, hoje no Deportivo El Nacional, que lidera o Equatorianão 2016, e Ignacio Canuto, que passou pelo Tigre e pelo León do México antes de chegar ao Atlético Tucumán da Argentina; o lateral esquerdo era o jovem Francisco Rojas, que teria que se aposentar por conta de um acidente de trânsito que lhe exigiu realizar uma série de cirurgias faciais; Rojas foi substituído pelo volante veterano Pato Urrutia, que se aposentaria ao final daquele ano, que, por sua vez, precisou ser substituído por Carlos Arboleda, que hoje milita na Série B Equatoriana; um dos volantes era o já veterano Enrique Vera, paraguaio que segue fazendo parte do grupo aos 37 anos, junto com Néicer Reasco, lateral direito que tem 38 anos e passagem pelo São Paulo em 2008; também atuou o volante Luis Saritama, que seguiria na LDU até Janeiro de 2016, quando se transferiu para o Desportivo Cuenca. No ataque jogaram o argentino Pablo Vitti, hoje no All Boys; Carlos Garcés, hoje na Segundona Mexicana com o Atlante; e o autor do gol chorado, Carlos Feraud, que defende o Macará da Segunda Divisão Equatoriana. No jogo da Arena participaram ainda o zagueiro Koob Hurtado, que foi pra rua ao descer o sarrafo no Jean Deretti e hoje joga no 5º colocado do Campeonato Equatoriano, o Fuerza Amarilla SC, carinhosa e espetacularmente apelidado de “La Banana Mecánica”; e os meia José Madrid, que segue na LDU, e Hugo Vélez, que atua no Mushuc Runa, atual vice-lanterna do Campeonato Equatoriano. Essa “fantástica” equipe era comandada pelo técnico Edgardo Bauza, amigão do Barcos que levaria o San Lorenzo ao título da Libertadores no ano seguinte e que hoje afunda o São Paulo, fazendo 2 pontos em 9 na Libertadores e perdendo a liderança do seu grupo no Paulistão pra Ferroviária, nos critérios de desempate.

Mas vale ressaltar que a LDU atual também não pode assustar o Grêmio, visto que a equipe tem aproveitamento de 46,6% no Campeonato Equatoriano, ocupando a 10º colocação entre 12 equipes, com três partidas a menos por conta da Libertadores, mas atrás de todos os outros participantes do país na competição Internacional. A equipe também tem o pior ataque do Campeonato, com três gols marcados em cinco partidas; a marca é tão ruim que se mantém ao considerar o menor número de jogos, a LDU marca apenas 0,6 gols por jogo. Na Libertadores a equipe marcou 3 gols em 3 partidas, um deles na derrota em casa pro Toluca e dois na vitória contra o San Lorenzo.