20 de março de 2012

A mentira como estratégia de marketing

Os morangos sempre se notabilizaram por inventar "verdades" e as reproduzir até à exaustão. A técnica é conhecida e foi muito aplicada na história do clube, antes mesmo de ser usada por Goebbels, no tempo em que exerceu o cargo de ministro da propaganda de Hitler. O princípio é simples: "Uma mentira repetida muitas vezes vira verdade". Assim foi, por exemplo, com a alcunha "clube do povo". Esta é até previsível. Afinal, um dos fundadores teve contato profissional direto com a palavra: trabalhou em jornais chamados Echo do Povo e Gazeta do Povo. Nada mais normal do que chamar a associação que fundara de "clube do povo". Uma das mentiras mais trabalhadas é a de que possuem a maior torcida do Rio Grande, esta até impressa em tinta no boné do estádio.

A estratégia profissionalizou-se e, nos dias de hoje, as ferramentas de disseminação se ampliaram. Profissionais de marketing trabalham para amplificar coisas corriqueiras e, é claro, também mentiras, dando-lhes superdimensão. Tudo que acontece lá é grandioso, monumental, único. No vergonhoso episódio da assinatura do contrato, mais festejado pela cúpula do que uma conquista de título, mais uma mentira foi plantada para emprestar grandeza onde ela não pode ser encontrada.

No discurso que selou a assinatura do aluguel do estádio, certamente em peça retórica preparada pela área de "inteligência" do clube, Giovanni Luigi sentenciou: "O Internacional entra para a história do futebol ao ser o único clube a sediar duas Copas do Mundo em um estádio particular". Aliás, chama a atenção o fato de eles sempre estarem querendo "entrar na história". Talvez Freud explique. Mas voltemos à frase: "O Internacional entra para a história do futebol ao ser o único clube a sediar duas Copas do Mundo em um estádio particular". Em primeiro lugar, é preciso saber que isso não tem nenhuma importância. É algo bobo. Em segundo lugar, e isso é mais sério, precisa-se dizer que isso é uma gorda mentira, uma lorota que será repetida até que pareça verdade e que alguns passem a lhe dar algum valor.

Nem é preciso pesquisar muito para desmascarar esta subversão da verdade. Os países que tiveram Copas repetidas foram Itália (1934 e 1990), Brasil (1950 e 2014), Alemanha (2006 e 1974), França (1938 e 1998) e México (1970 e 1986). Por palpite e certa familiaridade com a língua, iniciei pela Itália. Nem precisei ir ao final da lista de cidades-sede. Logo na terceira a mentira caiu por terra ferida de morte: o Nápoli sediou Copas no estádio Ascarelli e, depois, no San Paolo. Quem tiver disposição para procurar, certamente vai encontrar outros clubes com este "feito extraordinário" no currículo.

Mas, por que um post sobre isso? Apenas para marcar mais uma mentira moranga e chamar a atenção de que a entrada de profissionais na área de marketing do aterro não mudou a técnica de mentir, mentir mentir, para fixar "verdades". De alguma forma elas devem atuar como bálsamo a um crônico complexo de inferioridade que os acompanha e acompanhará pelo remendo de aluguel afora.
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Conversa com passarinho

O Gaguinho desconfia que poderá haver "surpresa" quando o pacote do contrato for completamente aberto. Buscando informações, ontem questionou por duas vezes o prefeito da cidade, pelo twitter. Perguntou se algum projeto adicional será enviado à Câmara de Vereadores, concedendo algo mais para os parceiros. Fortunati não respondeu. O Gaguinho teme ter criado algum constrangimento ao prefeito.
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O Artigo 23

Pelo artigo 23 do Estatuto do Torcedor (Lei 10,671), "a entidade responsável pela organização da competição apresentará ao Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal, previamente à sua realização, os laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das condições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição". O Decreto 6.795, define os laudos que devem ser apresentados: 1) de segurança; 2) de vistoria de engenharia; 3) de prevenção e combate de incêndio; e 4) de condições sanitárias e de higiene. Será que o "estádio da Copa" já apresentou estes laudos? Há quem afirme que não. Algum profissional responsável assinaria tais laudos com o estádio naquelas condições? Será que o "estádio da Copa"está irregular?
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Aliás

Antes da assinatura do contrato de aluguel, a Copa era de Porto Alegre, dos gaúchos. Imediatamente após a cerimônia, a Copa voltou a ser "deles", só "deles". Deixa estar.
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Errata: Há questionamentos sobre o atual estádio do Nápoli ser privado. Parece que realmente é municipal. Mas isso não invalida o post. Há, nos comentários, diversas indicações de estádios de clubes que sediaram duas Copas.