Todos já sabem do desigual tratamento dado pela Brigada Militar ao Grêmio e sua torcida nos últimos anos. No último jogo em casa, na vitória sobre o Corinthians, um caso extremamente inadmissível ocorreu. O Cônsul do Grêmio em Encantado compareceu à Arena portando um trapo. Um trapo que já havia sido desfraldado tantas outras vezes em cancha. Eu conheço pessoalmente o Cônsul de Encantado, o Fabrício (omitimos o nome completo a pedido dele, apesar de que muitos o conhecem). Já o encontrei outras vezes na Arena e interajo com ele nas redes sociais. É uma pessoa extremamente afável e um gremista como poucos. Faz um trabalho fantástico com as excursões que possibilitam que a gurizada de Encantado e região possam comparecer aos jogos do Grêmio na Arena. Ele encaminhou-me o relato sobre o que ocorreu. Vamos transcrevê-lo aqui na íntegra, para que todos tirem suas conclusões.
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Se serviu para unir o Grêmio, valeu a pena
Após ser questionado por muitas
pessoas sobre o que aconteceu comigo na quarta-feira (03/06/2015), no decorrer de
Grêmio 3 x 1 Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro, resolvi fazer meu relato.
Eu estava entrando no setor da
Geral portando uma faixa em que estava escrito “Encantado é Grêmio”. Era quase
a minha vez de passar pela roleta quando fui abordado por um policial que pediu
para abrir a faixa.
Este foi o trapo gerador da discórdia (quase uma arma de destruição em massa). |
Abri e ele disse: “Estão
proibidas faixas nesse jogo”.
Argumentei: “Pelo que sei somente
faixas da Geral estão proibidas”.
Policial: “Não, todas estão”.
Questionei: “Mas não tem nada
demais escrito, somente o nome da cidade, por qual motivo está proibido?”
A resposta: “Torcedores do Grêmio
brigaram no Grenal do Gauchão”.
Tentei dizer que eu não
participei da briga, mas veio a explicação: “Não importa, quando um torcedor do
Grêmio briga é toda a torcida do Grêmio”.
Como o jogo havia começado, já
estava 1 x 0 e percebi que a discussão seria inútil, decidi não perder mais tempo
e perguntei: “E o que devo fazer então?”
A resposta: “Leva lá pra baixo da
rampa e pega no final do jogo”.
Foi então que comecei a caminhar
em direção ao início da rampa acompanhado por 2 (dois) policiais. No trajeto
fomos conversando, eu dizendo que aquilo não estava certo e eles explicando que
não podiam fazer nada. Mas tudo numa boa, sem nenhum atrito. No caminho o
Grêmio fez 2 x 0.
Chegando ao início da rampa
norte, os 2 (dois) policiais voltaram e me deixaram lá com outros 4 (quatro)
policiais.
Perguntei: “Onde posso deixar a
faixa?”
Policial: “Leva pro ônibus”.
Eu: “Mas nem sei onde tá o
ônibus. O motorista nos largou e foi estacionar. Vai nos pegar no final do jogo
no lugar combinado”.
Policial, novamente: “Leva pro
ônibus”.
Eu: “Não posso deixar ali do lado
da rampa e pegar no final?"
Policial, de forma ríspida: “Leva
pro ônibus ou joga no lixo isso aí”.
Foi então que perguntei: “É assim
que ensinam vocês a falar com as pessoas na academia?"
Sentindo-se ofendidos, os 4
policiais vieram pra cima de mim e fui algemado.
Sem nenhuma agressão, fui levado
a uma sala para fazerem o registro. Os motivos da prisão: Desobediência (não
sei pelo que, por não ter levado a faixa até o ônibus, talvez) e resistência a
prisão (não houve resistência).
Em certo momento em que estávamos
somente eu e um policial na sala, disse que era impossível que pessoas de bem
ficassem ao lado deles com aquela maneira de agir. A resposta foi que o motivo
é porque eu havia lhe desacatado. Argumentei que ele falou de uma maneira
completamente desnecessária, como se dissesse: “Te vira com essa faixa, leva
pro ônibus ou bota no lixo”. Ele retrucou dizendo que quando perguntei se era
daquela maneira que ensinavam a falar na academia, eu estava incitando as
demais pessoas ali presentes a agirem de forma agressiva. Eu disse que todo
mundo já havia entrado, não tinha mais ninguém ali além da gente, alguns
orientadores e umas poucas pessoas do lado de fora da grade, estava tudo
tranquilo e eles conseguiram transformar uma situação completamente controlada
em prisão.
Em outro momento, questionei o
porquê de estarem proibidas as faixas. A resposta foi que torcedores do Grêmio
brigaram entre si. Falei que eu havia visto torcedores colorados brigando entre
si no jogo Inter x Emelec e, mesmo assim, em todas as partidas vejo faixas,
instrumentos e barras no Beira-Rio. A argumentação foi que era orientação da
Conmebol (???).
De repente passa outro policial
pela porta da sala, que agora estava aberta. Ao ver-me algemado ele para e
pergunta: “Tu tem celular?“
Eu: “Sim”.
Ele: “Tem TV no celular?“
Eu: “Não”.
Ele: “Ah bom, senão eu ia te
mandar ver o jogo no celular hahaha...”
Algo completamente desnecessário,
ironizando a minha injusta situação. Ele nem sabia o motivo de eu estar ali já
que não era nenhum dos 4 (quatro) policias que me algemaram.
Por volta das 23h30 fui levado
até o Jecrim. Permaneci na sala de espera, sempre algemado, com vários
policiais ao meu redor, o Defensor, representante da FGF, dentre outras
pessoas.
Após algum tempo, finalmente, as
algemas foram retiradas e entrei em uma sala com o Defensor e um representante
da FGF. Pediram para eu contar minha versão. Fiz o relato e então disseram que
minhas opções eram:
1 – Levar o processo adiante, mas
levaria tempo, eu gastaria dinheiro e, em caso de condenação, contaria como
antecedente.
2 – Aceitar um acordo de 4
(quatro) jogos me apresentando na delegacia no horário das partidas. Isso não
contaria como antecedente.
No início resisti um pouco em
aceitar, mas já era meia-noite passada, o jogo havia acabado, o pessoal estava
me esperando na van e eu queria ir logo embora. Aceitei o acordo. Fomos pra
frente do Juiz, assinei o que tinha que assinar e em alguns minutos fui
liberado.
Detalhe: fiquei algemado desde pouco mais das 22h até depois da meia-noite, sempre rodeado por muitos policiais e sem apresentar nenhum risco de fuga. E sobre isso:
Este é o meu relato da história
que serve também para evitar que sejam criadas versões por quem não sabe o que
aconteceu.
No outro dia, conversando com
amigos, alguns achavam que eu deveria externar o acontecido. No início achava
melhor que não, pois sou o Cônsul do Grêmio em Encantado e organizo excursões
para quase todos os jogos com homens, mulheres, crianças e muitos adolescentes.
Alguns pais falam comigo antes de deixarem seus filhos viajarem, pois querem saber
se é seguro e pedem para eu ficar de olho, desta forma acabo sendo o
responsável.
Assim, meu medo era a repercussão
negativa que a história teria, com algumas pessoas podendo associar o caso com
drogas, outras concluindo “por nada ele não seria preso” e ainda, estes com
razão, pensando “se o Cônsul foi preso, imagina o que podem fazer com meu
filho”. Ou seja, as excursões que sempre tiveram um clima divertido, onde nunca
houve nenhum problema, poderiam pegar uma fama ruim, com pais proibindo seus
filhos e outros desistindo de ir a jogos (sendo que muitos não têm como ir se
não for de excursão).
No entanto, a história acabou
chegando ao conhecimento de várias pessoas que nem conheço, de vários grupos
políticos do Grêmio, que acabaram por fazer chegar ao conhecimento de pessoas
importantes dentro do clube. Com tanta gente sabendo, foi inevitável a
divulgação, por isso eu não tinha mais o porquê esconder.
De tudo isso, incrivelmente, tive
a impressão de ver algo bom que pensava ser impossível acontecer. Membros de
vários Movimentos do Grêmio trabalhando unidos, mesmo que alguns de forma
involuntária, em benefício do clube. Todos tentando solucionar esta já absurda
perseguição (não vejo outra palavra) contra a torcida tricolor.
Espero sinceramente que esse tipo
de tratamento acabe e que o Ministério Público, BM ou quem quer que sejam os
responsáveis reflitam se estão agindo da maneira correta no que diz respeito à
torcida gremista, que deixem a festa voltar à arquibancada e, principalmente,
que eu não tenha tido somente uma ilusão referente à política interna tricolor,
que os muitos grupos do Imortal consigam sim trabalhar mais vezes juntos em
prol do Grêmio, deixando de lado picuinhas e vaidades. Dito isso, o resto a
torcida mais fanática do Brasil abraça.
Abraço Imortal
Fabrício
Cônsul do Grêmio em Encantado - RS
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Como falei lá no início, conheço o Fabrício e o trabalho que ele faz como Cônsul do Grêmio é louvável. Muitos jovens não teriam condições de ir aos jogos na Arena não fossem as excursões que ele promove. Ressalte-se que o Cônsul é considerado um cargo de confiança do Presidente. A postura da Brigada Militar neste episódio, mais uma vez, só transparece a conduta condenável que tem sido dispensada à torcida tricolor, em detrimento do privilégio concedido a outras torcidas.
É Inadmissível. É Inaceitável. É revoltante.
Este episódio acabou gerando um movimento nas redes sociais e fora delas que está sendo denominado como #DiaDoTrapo (como bem citou o Fabrício em seu relato). Este movimento conclama a todos que levem um trapo no dia do jogo contra o Atlético-PR. E isso me lembra um trecho de uma canção muito difundida há anos atrás no velho Olímpico: "Ninguém segura a torcida tricolor; estar com o Grêmio aonde o Grêmio for". É mais ou menos por aí.
Saudações Imortais