6 de maio de 2016

Avalanche Tricolor: reflexão, conserto e recuperação

Por Milton Jung


Rosário Central 3×0 Grêmio
Libertadores – Rosário (ARG)


26567940060_079655f778_z
Ramiro briga pelo alto em foro de LUCAS UEBEL/GrêmioFBPA

Lá se foram quase 24 horas desde que o Grêmio começou a disputar sua última partida pela Libertadores 2016. Desde então, já dormi, já madruguei e já trabalhei. Também já rezei (e não foi pelo Grêmio, não.) Entrevistei deputado, jurista e especialistas em política, economia, cultura e mais uma variedade de temas. Assisti ao Cunha fora da Câmara; e à aprovação do relatório aceitando a abertura do processo de impeachment contra Dilma. Diverti-me em mesa redonda promovida pelos estudantes da FEA e da Poli, em São Paulo, onde falamos sobre carreira e negócio com executivos e diretores de grandes empresas.

Como se percebe, fiz muita coisa mas ainda não havia me atrevido a parar para escrever esta Avalanche. Talvez por falta de tempo e, com certeza, por falta de ânimo.

Começa que gosto pouco de falar mal do Grêmio, e o caro e raro leitor desta Avalanche já deve ter percebido isso. Prefiro deixar este papo chato para nossos adversários, que são especialistas em encontrar defeito no Imortal; e ofereço espaço aqui no blog para que exerçam essa tarefa àqueles torcedores que têm a crítica (quando não os ataques pessoais) como seu esporte favorito.

Mesmo quando ocupava as cadeiras azuis do Estádio Olímpico, e fiz isso desde de os duros anos de 1970, época em que os títulos eram escassos e nossas pretensões não iam além da fronteira gaúcha, me incomodava os torcedores que vaiavam no primeiro passe errado. Tinha gente que dava a impressão de ir aos jogos para descarregar no time todas suas frustrações.

Lembro quando trabalhava de “pombo correio” (acho que já contei isso nesta Avalanche) para meu “padrinho” Ênio Andrade. Exercia a função de gandula ao lado da casamata e levava instruções para o time no gramado sempre que Seu Ênio entendesse necessário. Naquele tempo, não era permitido que o técnico deixasse o banco de reservas.

O Grêmio tinha Picasso no gol, Anchieta na defesa, Iura no meio de campo e Loivo na ponta esquerda. Eram todos meus ídolos, especialmente Loivo. Fomos eliminados de um Campeonato Brasileiro e a torcida revoltada soltava rojões no banco de reservas. Cheguei no vestiário e chorei de raiva, não pela desclassificação mas por não entender como o torcedor era capaz de despejar seu ódio em alguém que tanto amava.

De volta aos dias de hoje: entendo plenamente a indignação dos torcedores diante de mais um título desperdiçado, mesmo levando-se em consideração que esse era, certamente, o mais difícil a ser conquistado na temporada. Mas, também, era o que mais sonhávamos ganhar. Permita-me um parênteses: não esqueçam jamais de que se um dia alguém ousou sonhar em ser campeão da Libertadores no Sul do Brasil este alguém tem nome e história: é o Grêmio.

Especialmente nas duas últimas partida, gostei de poucas ou quase nenhuma das coisas que vi em campo. E tenho certeza de que Roger e boa parte de nossos jogadores também não gostaram. Temos consciência de que nos deixamos dominar por um adversário de futebol qualificado, mas não imbatível. Desejávamos ver em campo um time que expressasse esta mesma gana pela conquista que o torcedor exerce. Algo, porém, não deu certo. Muita coisa não deu certo.

Isso contudo não deve ser razão para transformarmos o Grêmio em terra arrasada. É preciso, sim, reflexão, conserto e recuperação, a partir daquilo que vem sendo construído desde o ano passado com a chegada de Roger. Precisamos de reforços, é claro. Ao mesmo tempo, há jogadores qualificados com potencial para render muito mais. Torná-los bode expiatório é perder duas vezes: no campo e na razão.

Posso ter visto o Grêmio perder mais um campeonato, mas não perco jamais minha esperança de vê-lo campeão.

Que venha o Brasileiro! Que venha a Copa do Brasil! Que venha de volta o espirito do Imortal Tricolor!