29 de abril de 2016

Carta aberta


Caro Maicon,

Tenho esperança zero que tu venhas a ler este post. A mesma esperança sobre o jogo da próxima quarta-feira, conforme escrevi dois posts abaixo no pós jogo. Vou até reproduzir aqui para te poupar serviço de procurar caso estejas lendo.
Eu disse:
(...)Porque passar na Libertadores só com dois milagres. Um não será suficiente.E enquanto não se consuma a morte, fica a torcida sofrendo as dores da espera.Espero eu, que sem alimentar nenhuma esperança. Porque a esperança só aumenta o tempo para o desfecho.
Se chegastes até aqui e tiveres um pouco mais de saco, lê o posto logo abaixo deste. É de um torcedor. Não de um torcedor qualquer. De um torcedor que simboliza o sentimento de quase todos os gremistas.
Ele seguiu meu conselho e largou o time de mão.
Mas eu, teimoso que sou, acordei com uma pitadinha de esperança. E aí resolvi te escrever. Mesmo que muito provavelmente tu não venhas sequer a saber da existência deste blog.
Não importa. Será só mais uma coisa para acrescentar ao teu desconhecimento. Porque pelo que tem transparecido nas tuas entrevistas é que, apesar de quase dois anos aqui, tu ainda não conheces o Grêmio. Pelo menos aquele Grêmio que nasceu em 1903 e, parece, morreu lá por 2007, embora continue insepulto zanzando como um zumbi por aí.
Aquele Grêmio, Maicon, foi o que ganhou o sobrenome de Imortal. E não foi à toa que passou a ser chamado assim. Foi porque conseguia realizar façanhas, reverter derrotas certas e trazer felicidade ao seu torcedor quando tudo parecia impossível.
O Imortal teve muitos jogadores de grande talento em seu time. Quem o conheceu e entendeu sua alma, conseguiu entrar no coração do torcedor, de onde não sairá jamais. Quem foi apenas "profissional" e jogou como jogaria em todos os outros clubes saiu rápido para o esquecimento.
Sim. Eu já escrevi parecido com isto, três posts abaixo, antes do jogo de ida contra o Rosário. Certo que ninguém do Grêmio leu.
Lá eu falei que tu não tens culpa dos 15 anos sem título. E até, por conta disto, falei para vocês jogarem leves e soltos, mas com garra.
Não foi o que se viu. Viu-se um time nervoso desde o primeiro segundo. Irritadinho como uma bicha velha que não consegue o que quer com facilidade. E com a inteligência de um jumento. Faço um parêntese para pedir desculpas aos jumentos.
Não sei que tipo de preparação psicológica vocês tem, se é que tem, antes dos jogos, mas está tudo errado. Porque ela não aparece no campo.
E a tua entrevista depois do jogo. Foi difícil não? Imagino tu, louco para ir para casa, tendo de dar uma de macho por ter sido acusado de ter fugido do torcedor no domingo. Aliás, domingo, onde por pouco não se viu renascer a mística. Vocês até saíram aplaudidos, lembra?
Mas a tua entrevista foi de novo conformista e buscando tirar a "culpa" das costas do time. Mas foi mal Maicon. Como que vocês se surpreenderam com o jeito de jogar dos argentinos?
Eu vi 30 minutos do jogo deles com o Palmeiras e sabia que seria um jogo dificílimo. E eles jogaram exatamente igual contra nós. Vieram com marcação alta e gana de vencer Maicon. Gana de vencer, sabes o que é isto? E foram inteligentes também.
E tu e teus comandados? Confundiram gana de vencer com pressa, nervosismo, irritação. Cinco minutos de dificuldades bastaram para vocês se entregarem.
Não. Não faltou "vontade" e esforço. Acho que houve até demais. Mas vocês corriam feito baratas tontas. Chegavam sempre depois. Aí o passe saia errado. A falta desnecessária era feita.
Foi feio Maicon. Muito feio. Sabia que um torcedor, leitor do blog veio de Caxias para ver o jogo e foi embora no intervalo? Sério Maicon. Outros saíram no intervalo também. E muitos outros choravam.
Não foram embora ou choravam pela derrota Maicon. Saíram e choravam pela vergonha que sentiam. Pela desesperança de re-encontrar a alma que se perdeu pelo caminho.
O time é bom Maicon. Em nomes e futebol um dos melhores do Brasil. Mas joga todo borrado Maicon. E não se impõe contra ninguém. Tu não percebeste que a cada falta marcada contra ou mesmo à favor meia dúzia de argentinos iam para cima do árbitro. Com respeito, claro, para não levar cartão. Mas com a "indignação" suficiente para impor pressão. E foram para cima na saída e na volta do intervalo. E não fiquei para ver, mas provavelmente no final do jogo também, já pensando no futuro.
E vocês Maicon? Caiam e ficavam com aquela cara de choro de criança desamparada. Muito feio e chato.
Se chegaste até aqui deves estar pensando o porquê de eu ter escrito tudo isto. Sabes que nem eu sei?
Eu mandei o torcedor perder a esperança. Mas, sei lá, pensei que talvez vocês mereçam uma última e derradeira chance.
Bola vocês tem. O salário está em dia. O que tem faltado? Inteligência? Culhão?
Culhão Maicon, eu vi numa advogada ontem, que enfrentou com coragem a pressão de senadores velhos, malandros e calejados. Ela não se assustou. Foi para cima.
Foi para cima Maicon. Mas com inteligência. Ela não jogou por pontinho fora. Aliás, o que me deu uma pitadinha de esperança é que nós não poderemos jogar quarta-feira que vem pelo pontinho fora. Quem sabe vocês vão jogar diferente? O desespero diante da morte mostra a diferença entre os guerreiros. Há os que se abaixam para ser decapitados. Outros lutam contra 100, mesmo sabendo que o final será a morte. Só que, às vezes estes conseguem o milagre da sobrevivência. Os primeiros, só uma cova rasa.
O que eu gostaria que vocês fizessem? Que olhassem todos os dias o filme A Batalha dos Aflitos. Maicon, aquele time era muito ruim. Tinha muito jogador tosco. Muito jogador de série B. Aliás, estávamos na série B.
Mas aqueles jogadores ficaram na história e no coração do torcedor. Não pelo futebol. Pela entrega. Pela luta. E pela inteligência. Inteligência Maicon. Eles venceram a partida com sete em campo. E souberam como não levar gol em longos 20 minutos. Sete contra onze Maicon.
Talvez olhando aquele filme, tu e teus comandados consigam entender a diferença entre vontade e nervosismo. Entre luta e irritação. Provavelmente vocês aprenderão qual é a hora de levar na manha e a hora de mostrar indignação.
Talvez seja tarde para isto. Mas vai saber. Estes argentinos são chatos mas não são invencíveis.
E mesmo se a derrota vier Maicon, mas se vier acompanhada da mudança de atitude e da manutenção desta nova atitude daqui para a frente, talvez sirva para frutos bons ali na frente.
Talvez consiga trazer o torcedor de Caxias e de outras cidades de volta para a Arena. Talvez estanque o cancelamento de títulos de sócios. Talvez mude o choro envergonhado da quarta-feira pelo choro da felicidade. Talvez. Talvez. Será que ainda dá tempo?
Será que consegue colar o coração partido do torcedor do post abaixo? Talvez.
Era isto Maicon.
Um abraço para ti e os demais. E melhoras para os que estão com caxumba. Que ela, daqui para a frente, só atinja os membros do Departamento Médico.

seu Algoz 

Em tempo - Uma dica para vencer marcação alta: pede para a zaga ou o Walace dar um balão forte pra um dos escanteios, longe do alcance de um zagueiro adversário, e adianta o time. Devolve a marcação alta para eles. Vai que funcione.